Em março de 2020, a pandemia de covid-19 afastou os voluntários dos hospitais, que esperavam regressar com o fim das restrições, mas tal ainda não aconteceu. Na maior parte dos hospitais, os voluntários não podem estar na área do internamento, nem nas urgências, onde antes davam apoio aos doentes mas também aos profissionais, contou à Lusa o presidente da FNVS, Carlos Pinto Correia.
“Os hospitais têm tido alguma relutância em deixar que os voluntários voltem para os internamentos”, lamentou Carlos Pinto Correia, explicando que eram quem apoiava os doentes, levando-lhes “revistas, jornais e conversando, porque uma boa parte deles não tem visitas nem de familiares e o voluntário cumpre esse trabalho”.
A falta de tempo dos profissionais de saúde era muitas vezes amenizada pelos voluntários, que podiam, com calma, responder às perguntas que os doentes queriam fazer aos profissionais, relatou.
“Este trabalho não está a ser feito neste momento. Há algumas exceções, é um facto, mas a maioria não nos tem permitido regressar ao internamento”, vincou.
Cabe às comissões de controlo de infeção e resistência aos antimicrobianos autorizar o regresso dos voluntários, mas as equipas “tardam em dar essa autorização e as administrações [hospitalares] socorrem-se disso”.
Carlos Pinto Correia disse que a federação já contactou por “variadíssimas vezes” as administrações hospitalares, mas os processos continuam parados, lamentando ainda não ter recebido nenhuma resposta do Ministério da Saúde nem da Direção-Geral de Saúde aos pedidos para que os voluntários pudessem alargar a sua atividade.
Contactada pela Lusa, a Direção Executiva do SNS garantiu que não emitiu nenhuma orientação no sentido de impedir a entrada de voluntários no internamento dos hospitais.
Neste momento, a ação dos voluntários centra-se na área da consulta externa, onde não dependem de ninguém, a não ser das regras de funcionamento dos hospitais.
Ali, têm autonomia para falar com os doentes, oferecer uma bebida quente, mas também ajudá-los a utilizar as tecnologias para tirar senhas para as consultas e até encaminhá-los pelo “labirinto do hospital”.
Carlos Pinto Correia acredita que os voluntários são essenciais para ajudar os mais fragilizados, em especial os doentes mais idosos ou com demências, que podem acabar por se perder ou mesmo sair sozinhos dos serviços de saúde.
“Podíamos ajudar se lá estivéssemos, conversando com os doentes, porque se eles saem é porque se sentem abandonados. Pensam: não me atendem, não me falam, não me respondem. Portanto, não estou aqui a fazer nada, vou-me embora”, salientou.
Com a presença dos voluntários nos internamentos – sustentou - “muito provavelmente esses doentes estavam mais acompanhados e não teriam este sentimento de fuga que lhes assalta o espírito e que muitas vezes concretizam”.
A ideia é corroborada por Inês (nome fictício), que em setembro do ano passado esteve mais de 48 horas sem saber da mãe, depois de esta ter dado entrada nas urgências de um hospital de Coimbra.
Inês contou que apesar de terem avisado na unidade de saúde que a mãe tinha Alzheimer foi impedido o acompanhamento. A senhora foi entregue à família dois dias depois "nua, suja, descalça, coberta com uma bata e sentada numa cadeira de rodas”. À Lusa Inês disse acreditar que "se ainda houvesse voluntários no hospital, a história seria, certamente, diferente".
Helena Neves e Silvia Maia, da agência Lusa
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