“Estou muito satisfeita por ter acordado com o Presidente Xi que as relações comerciais deverão ser equilibradas entre nós”, disse Von der Leyen após os trabalhos da cimeira UE-China, a decorrer em Pequim, a primeira reunião de alto nível presencial desde 2019.

Antes, Von der Leyen tinha sublinhado que a China permanece “o mais importante parceiro comercial da UE”, apesar de se referir a “desequilíbrios e diferendos que devemos tratar”.

Por sua vez, e após o encontro com Von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, Xi Jinping apelou a “uma resposta de conjunto aos desafios mundiais” e a um trabalho “em conjunto para promover a estabilidade e a prosperidade no mundo”.

Também presente em Pequim, Charles Michel assegurou que a UE deseja “uma relação estável e mutuamente lucrativa com a China”.

Mas, frisou o representante, “naturalmente, vamos promover hoje os valores europeus incluindo os direitos humanos e a democracia”.

A cimeira UE-China decorre num momento em que foram retomados os contactos diplomáticos diretos entre Bruxelas e Pequim, no período final da pandemia de covid-19 que isolou o gigante asiático do resto do mundo.

Diversos comissários europeus deslocaram-se nos últimos meses ao país para retomar o diálogo.

Apesar do tom otimista, permanecem numerosos temas de divisão entre a UE e Pequim, desde o importante défice comercial à guerra na Ucrânia, dois temas centrais nas discussões de hoje.

O défice comercial da UE com a China duplicou em dois anos para atingir num número recorde de 390 mil milhões de euros em 2022, segundo Von der Leyen.

O objetivo da China nesta cimeira consiste em “proteger a sua imagem de ator mundial e tranquilizar os atores europeus sobre a orientação seguida pela economia chinesa”, indicou, em declarações à agência AFP, Grzegorz Stec, um analista do Merics, um grupo de reflexão sobre a China.

A guerra entre Israel e o Hamas e a ofensiva russa na Ucrânia também foram temas que dominaram o encontro.

“Gostaríamos que a China demonstrasse mais firmeza”, disse Charles Michel, exortando Pequim a “condenar esta guerra provocada pela Rússia contra a Ucrânia”.

“Desde o início da guerra indicámos claramente que a forma de a China se posicionar face à agressão russa contra a Ucrânia (…) definiria igualmente a nossa relação”, sublinhou, por sua vez, Ursula von der Leyen.

Pequim tem sido frequentemente criticada pelos ocidentais face à questão ucraniana.

Apesar de a China apelar ao respeito da integridade territorial de todos os países, incluindo implicitamente a Ucrânia, nunca condenou publicamente Moscovo pela invasão do país em fevereiro de 2022.

Em outubro, o Presidente russo, Vladimir Putin, também foi recebido em Pequim por Xi Jinping, que saudou a “profunda amizade” entre os dois países.

Ao dirigir-se aos ‘media’, um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês deu hoje a entender que Pequim não pretende influenciar Moscovo.

“O Presidente Putin toma as suas decisões em função do seu próprio interesse nacional e da sua segurança”, declarou Wang Lutong, diretor-geral do departamento europeu do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Numa referência às tensões em torno da ilha de Taiwan, Charles Michel declarou após os encontros bilaterais que permanecem “preocupações pelas tensões crescentes no estreito de Taiwan e no mar da China meridional”.

“Pretendo acreditar que a China está plenamente consciente das graves consequências da escalada nesta região”, acrescentou.

No âmbito das negociações sobre as alterações climáticas (COP28) que decorrem no Dubai, os dirigentes europeus também pretendem pressionar a China, o primeiro emissor mundial de gás com efeito de estufa, a redobrar os esforços pelo clima.

Von der Leyen declarou aos jornalistas que as intenções da China na área das energias renováveis são “excecionais” e saudou o apoio de Pequim para s esforços mundiais destinados a reduzir as emissões de poluentes.

No entanto, acrescentou ter indicado aos interlocutores chineses que os 27 Estados-membros da UE permanecem “muito inquietos face à crescente presença de centrais elétricas a carvão na China”.

Por fim, os dirigentes europeus também abordaram o tema das viaturas elétricas produzidas na China, alvo de um inquérito da Comissão Europeia devido a subsídios considerados ilegais.