Manuel Campos perde pouco mais de dois minutos a desenhar as cruzes nos boletins de voto. Mas é bem maior o tempo que gasta a cumprimentar todos os conhecidos que vão entrando no edifício do centro juvenil.
“A maioria deles são meus vizinhos, ou pessoas que conheço do parlamento da autarquia, onde estive vários anos”, conta o português, no meio de mais um “guten Tag!”.
“O voto desta vez era complicado porque tínhamos 23 listas. Podemos votar duas vezes: um no candidato local, para as eleições regionais, e outra votação no partido”, explica o português, que chegou à Alemanha em 1972.
Foi membro e funcionário da IG Metall, o maior sindicato metalúrgico do mundo, durante quarenta anos. Não esconde o partido em que sempre votou.
“As minhas cruzinhas foram para o SPD porque continuo a acreditar neles”, confessa, admitindo ainda assim que o partido atravessa nesta altura um momento complicado.
De acordo com as sondagens, nas eleições em Hesse, tal como aconteceu na Baviera, os dois grandes partidos alemães, União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social Democrata (SPD) vão enfrentar quedas acentuadas nos resultados.
A região do centro da Alemanha é atualmente governada por uma coligação formada pela CDU, partido de Angela Merkel, e pelos “Verdes”.
“Espero que haja uma grande participação nesta eleição porque tem um significado especial ao nível federal. São as últimas de uma série em que os grandes partidos perderam muitos votos. Isso pode ter consequências na quebra da GroKo, a Grande Coligação”, assume Manuel Campos.
Ainda assim, o português confessa que “não choraria se a coligação partisse e o SPD se endireitasse um pouco mais nos seus princípios fundamentais, recuperasse os princípios do partido, que ficaram pelo caminho”.
E “eleições antecipadas são um cenário possível”, revela o português.
No estado de Hesse são cerca de 4,4 milhões os eleitores que escolhem o destino do parlamento regional.
Segundo as sondagens, a entrada do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no Landtag vai ser uma novidade.
“Esse é o problema maior, sobretudo para nós aqui em Hesse. Se alguém analisasse verdadeiramente os programas desse partido, veria que ele não tem resposta para nenhum problema, apenas populismo”, sublinha Manuel Campos.
“Nós temos muita gente até hoje que disse que estava indecisa. Normalmente esses votos vão para a AfD, não são votos para a extrema-direita, são votos de protesto”, acrescenta o português.
No estado federado de Hesse vivem pouco mais de seis milhões de pessoas (números de 2017). Há perto de um milhão de estrangeiros, mais de 15 mil são portugueses (cerca de 1,5% da população).
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