“Perdemos esta ligação entre as pessoas e a ciência. Por isso, a grande decisão política é como restabelecer a ligação (…) Temos de explicar melhor o processo da ciência. As pessoas estão cansadas de números e factos. Os cientistas e os políticos têm de ser mais humildes”, disse, na Web Summit, a decorrer em Lisboa.
Num painel dedicado aos desafios colocados à ciência, num contexto de avanço do populismo e de erosão no consenso mundial em torno das alterações climáticas, Carlos Moedas defendeu a necessidade de restaurar a “paixão pela ciência”.
“De algum modo perdemos esta ligação às pessoas. Nunca conseguiremos que as pessoas entendam os artigos científicos, mas podemos fomentar a paixão pela ciência. Uma das coisas em que temos trabalhado é nesta ideia de criarmos missões. O meu objetivo como político é criar missões que as pessoas na rua percebam. Se dissermos apenas que estamos a atribuir oito mil milhões de euros à ciência, as pessoas na rua não percebem para que isso serve. Mas se dissermos que é para curar uma doença, aí já vão perceber”, disse.
Também presente no painel, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, advogou a necessidade de um maior “diálogo entre os mundos político e científico” de forma a “restaurar a credibilidade da ciência”.
“É consensual que temos uma crise de confiança na ciência e é importante perceber como podemos coletivamente restaurar a confiança coletiva na ciência. Precisamos de restaurar a confiança nos especialistas. Quando pensamos na ciência e no mundo político, pensamos num sistema binário (…) Temos de perceber que os peritos, os cientistas, não vivem numa bolha de pureza e de realidade assética. E os políticos não vivem numa bolha de emoções. Precisamos todos de falar sobre este diálogo entre o mundo científico e político”, salientou.
O governante identificou a “literacia científica” como uma das maiores barreiras para “explicar às pessoas a importância da ciência”.
“É importante, por exemplo, aumentar a literacia relativamente às redes sociais, tendo em conta a miríade de recursos a que estamos expostos e às notícias falsas. Os peritos são precisos mais do que nunca. As notícias falsas com que somos confrontados todos os dias, por vezes nos principais meios de comunicação social, aí estão para o provar”, disse.
Kamila Markram, fundadora da ´Open Science Platform´, organização internacional que se dedica a tornar acessível ao grande público os resultados da investigação científica, observou, por seu turno, que para restabelecer a confiança na ciência é necessário “aumentar o acesso” a essa mesma ciência.
“A maior parte dos recursos existentes na Internet estão fechados num sítio sujeito a subscrição, pelo que as pessoas não podem aceder à informação científica. O mundo gasta mais de três triliões de dólares (cerca de 2,5 triliões de euros) para financiar a pesquisa e investigação e para a publicar. Noventa por cento destes resultados estão nestes espaços quase invisíveis e pagos. Por isso, temos que abrir estes espaços”, apontou.
A conferência de tecnologia e empreendedorismo Web Summit decorre até quinta-feira, no Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.
Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.
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