No início desta semana começaram os rumores de que Zelensky viria a Portugal. Hoje, o ministro da Defesa, Nuno Melo, anunciou de facto que o presidente ucraniano deverá visitar Portugal "a muito curto trecho". Contudo, ao fim do dia a CNN Portugal noticiou que as viagens a Portugal e Espanha tinham sido canceladas por razões de segurança e atendendo à intensificação dos ataques russos. O SAPO24 apurou junto do gabinete do Ministério da Defesa e da presidência da República que não há informação sobre o cancelamento da visita do presidente ucraniano a Portugal.

Também a Casa Real Espanhola havia anunciado hoje que o chefe de estado estrangeiro é aguardado na sexta-feira em Madrid para uma visita oficial ao país. E os meios espanhóis ainda não dão conta de nenhum cancelamento

Neste caso, Zelensky será recebido pelo rei Filipe VI antes de um almoço oficial que será organizado em sua honra pelo palácio real de Madrid, indica a agenda do palácio.

Segundo o diário El País, esta visita será assinalada pela assinatura de um acordo destinado a garantir um apoio militar de Madrid a Kiev.

No caso de Portugal, “a visita está a ser preparada com a reserva que é suposto ter e já se verá, a muito curto trecho, como tudo acontecerá”, disse o ministro da Defesa aos jornalistas.

Até ao momento sabe-se apenas que a visita de Zelensky a Portugal e Espanha tem como objetivo a assinatura de acordos bilaterais de segurança, cujo teor é desconhecido.

Recorde-se que a ideia de que Zelensky poderia visitar Portugal foi avançada, no verão passado, por Marcelo Rebelo de Sousa. Em agosto, o Presidente português visitou a Ucrânia e, nessa altura, endereçou o convite diretamente ao seu homólogo ucraniano.

Meses mais tarde, em outubro, foi noticiado que Zelensky teria aceitado o convite para visitar Portugal e, inclusive, que estaria presente na reunião do Grupo de Arraiolos, no Porto — o que acabou por não acontecer. Nessa altura, o chefe de Estado fazia um périplo pela Europa e acabou por visitar Granada, em Espanha.

Recordar o discurso de Zelensky na Assembleia da República

As interações entre Portugal e a Ucrânia têm sido inúmeras nos mais de dois anos de guerra, com líderes nacionais a visitar o país ocupado pela Rússia. Porém, existiu um momento particularmente marcante na relação entre os dois países: quando em abril de 2022 Zelensky discursou no Parlamento português.

Na altura, o evento ficou marcado pelo anúncio de Paula Santos, líder parlamentar dos comunistas, que comunicou que o partido não iria estar numa sessão "concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra, contrária à construção do caminho para a paz, com a participação de alguém como Volodymyr Zelensky, que personifica o poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de caráter paramilitar, de que o chamado batalhão Azov é exemplo".

A deputada acrescentou que a sessão solene era um “ato de instrumentalização de um órgão de soberania, orientado não para contribuir para um caminho de diálogo que promova o cessar-fogo”.

Na intervenção de Zelensky, além de descrever as múltiplas atrocidades cometidas pelas forças russas na invasão, o presidente ucraniano pediu a Portugal para reforçar as sanções, ceder mais armamento, apoiar o embargo das importações de petróleo russo e bloquear o sistema bancário da Rússia. O líder ucraniano solicitou ainda que o Governo português propiciasse a entrada da Ucrânia na União Europeia e que usasse o seu poder de influência junto dos PALOP para afastá-los da esfera russa.

De recordar também as menções explícitas a Portugal e à história portuguesa, desde ter dito que os ucranianos têm o direito a “sentir saudade”, a ter comparado a dimensão de Lisboa à de Mariupol, cidade onde “não há uma habitação intacta”. “Os russos ficaram lá um mês e fizeram dela um inferno”, afirmou.

Zelensky comparou ainda o sofrimento ucraniano perante a agressão russa ao dos portugueses durante o Estado Novo, naquelas que eram na altura as vésperas das celebrações do 25 de Abril. "Tivemos duas revoluções, em 2004 e em 2014, que conseguiram parar a ditadura na Ucrânia. Vocês, que se preparam para celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos, que também vos libertou de uma ditadura, sabem o que estamos a sentir", disse.