Ator e humorista, o novo Presidente teve 73,22% dos votos contra 24,45% do ex-presidente Petro Poroshenko na segunda volta, depois de centrar a sua campanha na luta contra a corrupção e num desanuviamento das relações com a Rússia: um novo sinal de esperança no país, que contudo será efémero.

Nas legislativas antecipadas de julho desse mesmo ano, o partido de Zelensky, Servidor do Povo, garante maioria absoluta. E no seu difuso programa também se privilegiava o combate à corrupção, e um acordo de paz global com a Rússia.

Logo em agosto, o Presidente francês Emmanuel Macron recebe Vladimir Putin no forte de Brégançon, uma residência presidencial, e pronuncia-se por uma “nova arquitetura de confiança e segurança na Europa”, que incluiria a Rússia.

Ainda em clima de lenta reaproximação, e na sequência de uma troca de prisioneiros, 24 marinheiros ucranianos e dez outros cidadãos detidos num incidente no mar Negro em 25 de novembro de 2018 são libertados quase dez meses depois, em 07 de setembro, com a Rússia a devolver mais tarde três navios apresados.

O diálogo bilateral reforça-se em 01 de outubro, quando responsáveis russos e ucranianos reunidos em Minsk sob a égide da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) chegam a acordo sobre a organização de eleições nas regiões separatistas ucranianas do Donbass e que preveem a concessão de um estatuto especial. A notícia é rejeitada pelos setores da oposição nacionalista em Kiev, que organizam manifestações e acusam o poder de capitulação face a Moscovo.

Em 09 de dezembro, durante uma cimeira em Paris do “formato Normandia”, os presidentes russo e ucraniano encontram-se pela primeira vez. As partes envolvidas no conflito comprometem-se a concretizar até ao final do ano o cessar-fogo concluído no âmbito dos acordos de Minsk, e promover nova troca de prisioneiros.

As esperanças de uma reaproximação reforçam-se no último dia de 2019, com a conclusão de um novo acordo de gás com o prazo de cinco anos e relacionado com o trânsito de gás russo através da Ucrânia. Fica assegurado o fornecimento de gás à Europa, enquanto a construção do gasoduto Nord Stream 2 através do mar Báltico e em direção à Alemanha permitiria diversificar as exportações russas.

Ao apaziguamento seguem-se de novo as tensões, que não deixam de se agravar entre 2020 e 2022, até à invasão militar russa.

Em junho de 2020, e numa manobra calculada, a NATO concede à Ucrânia o estatuto de parceria, beneficiando do programa “Novas Oportunidades”, que permite uma cooperação entre as forças da Aliança e o Exército ucraniano.

A NATO assegura que esta decisão “não pressupõe decisões sobre a adesão à NATO”, mas Zelensky opta por insistir na apresentação de uma proposta sobre um plano de adesão.

Moscovo toma nota. E em abril de 2021 Zelensky acusa a Rússia de concentrar tropas junto à fronteira ucraniana, que Moscovo justifica como uma resposta às “provocações” ucranianas. Nesse mês, o Presidente ucraniano altera radicalmente a sua posição, põe termo à sua política de diálogo e declara abertamente que a adesão do país à NATO é a única forma de terminar com a guerra civil no Donbass. Declara-se ainda favorável a uma adesão da Ucrânia à União Europeia.

No último mês desse ano, a Rússia decide promover um novo exercício em larga escala perto da fronteira ucraniana, e com os países ocidentais — muito influentes nas decisões de Kiev, em particular os Estados Unidos — a recearem uma escalada.

Putin enuncia as suas exigências: garantias de que a Ucrânia nunca aderirá à NATO, retirada das forças aliadas dos países do ex-espaço soviético, entre outras medidas.

O Presidente norte-americano Joe Biden, responde com a ameaça de sanções em caso de invasão. O gasoduto Nord Stream 2, decisivo do ponto de vista estratégico para a exportação de gás russo, passa a ser utilizado como argumento central, com Biden a assegurar que nunca permitirá o seu funcionamento. Por arrastamento, a União Europeia também se afirma disposta a aplicar sanções a Moscovo.

Entre janeiro e fevereiro de 2022, os diversos protagonistas envolvem-se numa retórica que inclui ameaças e apaziguamentos, num jogo perigoso onde as posições de compromisso são frequentemente alteradas, com promessas de desescalada e súbitas viragens em sentido contrário.

Em 20 de fevereiro, e em comunicado, o Eliseu indica que os presidentes russo e norte-americano aceitaram o princípio de uma cimeira, um anúncio que o Kremlin considera “prematuro”. E no dia seguinte, no decurso de um discurso televisivo de mais de uma hora, Putin anuncia o reconhecimento da independência dos territórios separatistas pró russos, prometendo defender as populações russófonas do Donbass dos crescentes ataques ucranianos. Em 24 de fevereiro as forças russas entram em território ucraniano por diversas frentes, dando início a um conflito devastador que, quase dois anos depois, prossegue sem fim à vista.