Ervas secas e vegetação com mais de um metro de altura, no meio dos quais se acumula lixo, são o cenário que se encontra nos Olivais Sul, sobretudo nas ruas Cidade de Benguela e do Lobito.

Afixados em árvores e postes estão cartazes críticos, nos quais se podem ler frases como “Os homens não se medem aos palmos, mas a relva mede-se”, “A espera é boa conselheira, mas quando é que cortam a relva?” ou “Os combustíveis estão mais baratos, mas nem assim os corta-relvas trabalham. Espaço verde ao abandono da Junta de Freguesia dos Olivais”.

Num outro local, foram colocadas medalhas na vegetação.

A residir na zona há mais de 50 anos, António Moreira tem “saudades de quando era tudo arranjado” porque agora “está uma miséria”. “Bonito, bonito era quando isto era da câmara. Saiu da câmara para a junta e está esta vergonha. Dantes era tudo bem arranjadinho. Agora até as árvores sobem quase até ao céu e dantes eram bem podadas. E é esta miséria que está à vista”, disse.

Afirmando não saber quem colocou as medalhas na vegetação, António Moreira considerou, com ironia, que devem ser “para oferecer à presidente por este espetáculo tão bonito”.

João Maria, de 12 anos, jogava à bola num dos relvados do bairro, que “agora é uma floresta”. “Quando isto começou a acontecer deixámos de jogar aqui para jogar noutros relvados. Também começaram a ficar grandes matos e acabámos por ter de jogar na pedra”, disse à Lusa, acrescentando que o irmão já tem “esfolado as pernas” quando cai. Numa visita ao antigo lugar onde jogava à bola, João Maria, com 1,64 metros, desaparece quando começa a entrar pela vegetação.

O proprietário de um café mesmo junto a um dos espaços mais afetados pela falta de manutenção disse que os clientes comentam “o matagal” em que aquela zona se transformou. “A presidente já nos disse que isto ia ser resolvido, esperamos que ela assim o faça”, afirmou João Miguel. O proprietário referiu, contudo, que nem todas as zonas dos Olivais se encontram naquele estado e exemplificou com a Avenida de Berlim, que, sublinhou, “está bonita”.

Irene Almeida, de 84 anos, tem de atravessar “o matagal” para ir para casa e recordou à Lusa que quando foi morar para os Olivais, há 16 anos, “era tudo muito bonito, mas agora não”.

Em declarações à Agência Lusa, a presidente da Junta de Freguesia dos Olivais, Rute Lima (PS) admitiu haver zonas onde a manutenção “estava a ser feita de forma deficiente” e explicou que “o motivo principal se prende com um concurso público internacional que a junta de freguesia encetou no decorrer já no ano passado”. Apesar de o visto do Tribunal de Contas só ter chegado no dia 17 de junho, a empresa vencedora concordou em começar a trabalhar mais cedo, tendo assegurado a manutenção dos espaços verdes desde o início de abril. “A empresa entrou quase desde o início em incumprimento do contrato e do caderno de encargos e a junta de freguesia estava de pés e mãos atados, sem, por um lado, conseguir aplicar penalizações, e, por outro lado, sem conseguir dispensar a empresa, tendo em conta que o processo estava em tramitação no Tribunal de Contas”, explicou a autarca. Uma vez ultrapassada a questão do visto, Rute Lima assegurou à Lusa que vai dispensar os serviços da empresa e que, a partir de julho, vai ter os jardineiros da junta a trabalhar no terreno.

Apelando à paciência dos residentes nos Olivais, a socialista comprometeu-se a ter todos os espaços verdes arranjados em breve. A autarca levou a agência Lusa até um relvado, bem cuidado e com sistema de rega automática, para dar as suas declarações, tendo sido confrontada à chegada por um morador que mostrou o seu desagrado pela falta de manutenção na rua Cidade de Benguela. Durante a conversa com Rute Lima, o morador Arménio França admitiu ser o autor dos cartazes expostos ao longo da zona sul.

No âmbito da reforma administrativa da cidade, que passou de 53 para 24 freguesias, as juntas e a Câmara de Lisboa repartem a responsabilidade de manutenção e limpeza do espaço público. Segundo os autos de transferência de competências assinados em 2014, as juntas são responsáveis pela limpeza e varredura de ruas e por espaços verdes, passeios, equipamentos desportivos, mercados e escolas.