Os olhos do mundo viram-se hoje para o estádio Al Bayt, perante o início do Mundial2022. Com a sua arquitetura inspirada no formato das tendas dos povos nómadas do Qatar, este estádio — capaz de receber até 60 mil espetadores —, situa-se em Al Khor, no litoral nordeste do país a cerca 35 quilómetros da capital, Doha, sendo de difícil acesso para os adeptos.

A grande surpresa da cerimónia de abertura foi a presença de Morgan Freeman, o famoso ator norte-americano. Rodeado de bailarinos, Freeman discursou ao lado de Ghanim al-Muftah, jovem orador público e personalidade qatari de 14 anos com síndrome de Regressão Caudal, não tendo a parte inferior do corpo, de forma a celebrar a diversidade e com a mensagem de que “o futebol une as nações e junta o mundo”.

Em total contraste com a controvérsia que tem rodeado este torneio, dado o historial de desrespeito pelos direitos humanos por parte do Qatar, o espetáculo de 30 minutos e composto por sete atos pautou-se por uma mensagem de celebração da diversidade e da tolerância, num misto de projeções, coreografias e adereços elaborados.

Alguns dos momentos chave desta cerimónia pautaram-se por uma rapsódia de temas oficiais de mundiais anteriores e pelo desfilar de camisolas das seleções nacionais, assim como das mascotes de outros campeonatos do mundo passados, e uma demonstração de "al-Ardha", uma dança tradicional que envolve espadas.

O concerto ficou a cargo do cantor sul-coreano Jung Kook, membro banda de k-pop BTS, e do cantor qatari Fahad Al-Kubasi, que cantaram uma das quatro músicas oficiais deste Mundial2022, "Dreamers". No entanto, destaque-se que a organização tentou convidar outros artistas como Dua Lipa, Shakira e Rod Stewart, que recusaram comparecer.

Após a projeção de imagens que tentaram mostrar que o pequeno país que acolhe a 22.ª edição do Mundial tem tradição na modalidade, Freeman afirmou ainda: “Todos nós temos uma história de futebol, e esta terra tem uma história muito própria”.

A cerimónia terminou com um discurso do emir do Qatar. “Pessoas de diferentes raças, nacionalidades e orientações são todas bem-vindas ao Qatar, para viver estes momentos excitantes. Que bonito é ter as pessoas juntas e não dividas por forma celebrar a diversidade”, afirmou Tamim bin Hamad al-Tani, com o presidente da FIFA, Gianni Infantino, sentado do seu lado esquerdo.

Depois de em setembro ter prometido perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas um Mundial “sem discriminações”, o Emir afirmou hoje que “chegou o dia mais esperado” e acrescentou: “A partir de hoje e durante 28 dias vamos mostrar ao mundo a união em torno do futebol”.

“Trabalhamos para fazer deste um dos maiores torneios da história, fizemos todos os esforços e investimentos em prol da humanidade”, garantiu Tamim bin Hamad al-Tani. Recorde-se que a organização do Mundial2022 no Qatar tem sido alvo de críticas de várias organizações governamentais, federações desportivas e mesmo de alguns dos intervenientes no evento, entre os quais a corrupção, a exploração laboral e o desrespeito pelos direitos das pessoas LGBTQIA+.

Alheios a tudo isto, os adeptos foram fazendo a festa nas bancadas. Ainda a bola não rolava entre o Qatar e o Equador, já as bancadas do estádio Al Bayt estavam cobertas de amarelo e vermelho, as cores dos países em disputa.