Os dias de Ronaldinho Gaúcho em prisão, na prática, não são muito diferentes de milhões de pessoas pelo mundo, forçadas a ficarem em casa devido ao avanço da Covid-19.
Preso na noite do dia 06 de março, por uso de documentação adulterada, o ex-craque está num discreto quarto junto com o seu irmão Assis, ex-jogador de Sporting e Estrela da Amadora, na década de 90 do século passado.
Têm duas camas, geladeira, televisor, ar-condicionado frio/calor e podem falar por telemóvel.
Ronaldinho passa os dias a jogar futebol, incluindo as variantes de voleibol e ténis, com outros 30 presos, esses, sim, companhias diferentes - ex-polícias presos por assassínio, por roubo, por tráfico de drogas ou por corrupção.
Os detidos estão na chamada Agrupação Especializada, um quartel da Polícia, condicionado para presos especiais em Assunção, capital do Paraguai. No quartel de 14 hectares, o ex-jogador pode andar por quase todo o espaço, mais do que milhões de pessoas pelo mundo durante a pandemia do coronavírus.
No dia 21 de março, completou 40 anos, tendo recebido um churrasco especial preparado pelos demais reclusos. Na noite anterior, comera dourado à grelha, uma iguaria paraguaia.
No começo, só recebia refeições de fora da prisão, levadas pelos seus advogados. Agora, já come a comida do quartel.
"Oferecemos alimentação completa para os presos, mas eles podem receber refeições de fora ou cozinharem aqui dentro. Só não podem receber visitas neste momento devido à pandemia do novo coronavírus", explicou o diretor da prisão, Blas Vera, sobre as medidas de proteção aos presos.
O processo pelo qual Ronaldinho é investigado está paralisado. Neste período de pandemia, a Justiça paraguaia limita-se a tratar apenas de recursos urgentes até, pelo menos, 13 de abril.
Até agora, o ex-avançado da seleção brasileira, campeão mundial em 2002, ou do FC Barcelona não conseguiu a prisão domiciliária. A sua defesa garante que os irmãos foram vítimas de uma prisão "Ilícita, ilegal e abusiva".
“Ronaldinho não cometeu delito, porque ele não sabia que o passaporte que lhe entregaram era adulterado", garante o advogado Sérgio Queiroz.
A juíza Clara Ruiz Díaz tem uma visão contrário e negou a prisão domiciliária a Ronaldinho Gaúcho, em 13 de março.
"Estamos perante um facto punível grave, porque atentou contra os interesses da República, contra o Estado paraguaio. Há perigo de fuga e de obstrução da Justiça. Trata-se de um estrangeiro que entrou de forma ilegal ao país e que permanece de forma ilegal no país", considerou.
O procurador Federico Delfino disse, por seu lado, que “os irmãos ficarão no país o tempo que for necessário", explicando que agora os presos estão sob uma investigação ainda maior, por produção e tráfico ilegal de passaportes.
A investigação já envolve 16 indiciados e a Procuradoria ampliou a causa, em 08 de março, a uma possível ligação com uma organização criminosa, acusada de lavar 400 milhões de dólares. Além de Ronaldinho, empresários paraguaios e brasileiros são investigados.
A empresária paraguaia Dalia López, considerada a chefe da suposta quadrilha, foi quem convidou e financiou a viagem de Ronaldinho ao Paraguai. López está fugitiva e tem ordem de captura internacional pela Interpol desde o dia 18 de março.
Se declarasse a favor dos irmãos, poderia ajudar a liberdade da dupla brasileira. Caso contrário, os dois podem permanecer outros cinco meses em prisão preventiva. Se condenados, podem pegar até cinco anos de prisão.
Ronaldinho e o seu irmão Roberto Assis são acusados de entrarem no Paraguai no dia 04 de março com um passaporte falso. Viajaram ao país para participarem num programa de assistência social infantil, organizado pela Fundação Fraternidade Angelical, pertencente à empresária foragida.
Quando entraram no Paraguai, não apresentaram o passaporte brasileiro, nem o documento de identidade brasileiro, documentos aceites em toda a América do Sul. Apresentaram passaportes paraguaios que, depois, alegaram na justiça nunca terem solicitado. Foram detidos horas depois no hotel, onde a Polícia encontrou os passaportes e documentos de identidade paraguaios também falsos.
O empresário acusado Wilmondes Sousa Lira e as duas paraguaias envolvidas com os passaportes, María Isabel Gayoso e Esperanza Apolonia Caballero, foram presos e indiciados por uso de documentos públicos de conteúdo falso, a mesma acusação agora contra Ronaldinho e seu irmão.
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