Mourinho é o terceiro treinador a chegar à final da Taça da Liga inglesa por três clubes. Porém, há uma particularidade a ter em conta: nenhum ganhou mais vezes do que ele. Ganhou-a na sua primeira época no Chelsea e depois no Manchester United, e em todas as três ocasiões, levantou o caneco. Não é segredo que o português tratou sempre a competição com muito respeito e, sendo o primeiro troféu que ganhou em Inglaterra, tem um significado diferente.
"Se há algum segredo, é levá-la a sério", disse o português após ter sido questionado sobre porque é que tem um histórico tão vitorioso na competição. De resto, esta nuance e prioridade eram algo que o seu antecessor Mauricio Pochettino, recentemente oficializado no PSG, era frequentemente acusado de não fazer — especialmente depois da derrota diante do Colchester, da segunda divisão, na última temporada do seu período no Norte de Londres.
Esta prioridade e vontade de ganhar estão bem patentes num vídeo que se tornou bastante popular entre o mundo do futebol e que deu título a muitos artigos de publicações desportivas na última noite. As declarações de Mourinho, para a sua equipa técnica e em bom português não podiam espelhar mais a imagem daquilo que o setubalense representa e naquilo que crê: "Então lá temos de ir a Wembley descascar uma finalzinha!".
O Tottenham apurou-se pela nona vez para a final da competição, na qual não marca presença desde 2015, quando perdeu diante do Chelsea, que, à data, era orientado precisamente por José Mourinho. Mas o caminho culminado ontem à noite teve os seus episódios. Os Spurs apuraram-se para os oitavos após exclusão do Leyton Orient devido a um surto na equipa do quarto escalão de casos positivo à covid-19, venceram o Chelsea nos penáltis no seu segundo jogo de quatro numa semana, para três meses depois vencerem dois encontros a equipas da Championship, o segundo escalão, Stoke City e Brentford.
Os Spurs já não ganham um troféu há 13 anos. O caminho até à final pouco convencional quanto os tempos modernos que vivemos não devem fazer grande mossa nas aspirações dos adeptos da equipa londrina. Assim como a maioria destes também não ficará muito incomodada com o facto de a vitória ter tido muitas das marcas do treinador José Mourinho, como salienta a The Athletic.
Mesmo contra uma equipa do segundo escalão e que jogava com apenas 10 homens nos instantes finais, o técnico luso não arriscou e colocou o defesa Japhet Tanganga para estancar e proteger o meio-campo, ao passo que Moussa Sissoko ficou a funcionar como tampão no corredor direito. Foi uma abordagem pragmática, cautelosa, mas necessária depois de ter observado que a sua equipa esteve prestes a ceder um empate, pouco antes de Son Heung-min ter descansado o coração da massa associativa aos 70 minutos com o golo que iria ditar o resultado final.
A The Athletic frisa que o jogo de ontem volta a instar a divisão filosófica sobre o estilo/métodos do treinador e os resultados/futebol praticado que está a deixar uma fatia dos adeptos descontentes — que gostavam de um futebol mais atraente e ofensivo. Todavia, a vitória de ontem personifica aquilo que Mourinho foi contratado para fazer: vencer títulos. O futebol bonito, de ataque, fica em segundo plano. O objetivo primordial é chegar à final. Só quem lá chega tem a oportunidade de vencer.
A temporada 2020/2021 acarreta superstição para os seguidores do fado dos Spurs. Basta para isso relembrar o significado histórico de um ano acabado em 1.º para o Tottenham. Há 30 anos, em 1991, os londrinos venceram a sua última Taça de Inglaterra. Na altura, uma canção de Chas e Dave, a "When the year ends in one" [quando o ano termina em um] marcou a conquista e tornou-se um símbolo do clube. Sumada a vitória na noite passada, foi relembrada pelos adeptos.
Mais, ganharam títulos em 1951, 1961, 1971 e 1981. Assim, marcando o calendário gregoriano o ano 2021, não é difícil de explicar o misticismo em torno da data e a esperança que esta dá aos seguidores do clube que anseiam por ganhar algo. A reputação do clube já não é apenas a de um mero clube londrino, o velhinho White Hart Lane deu lugar a um estádio moderno e até há uma série dedicada ao clube. Faltam as taças.
Portanto, lançasse a questão: o que significa a vitória da última noite para Mourinho? A The Athletic diz que a espera de três meses e meio até à final é, em alguns aspetos, uma bênção disfarçada para o português — dá tempo para preparar um truque na manga e, caso a temporada não corra de feição, dá, a si e à equipa, algo pelo que esperar. Como se chegar à final fosse um lembrete do seu extraordinário "pedigree enquanto vencedor de troféus", especialmente quando se trata desta competição.
Esta será a 16.ª final da carreira do técnico português (excluindo supertaças nacionais e internacionais), a quinta na Taça da Liga inglesa, competição que conquistou em quatro ocasiões, ao comando de Chelsea (2004/05, 2006/07 e 2014/15) e Manchester United (2016/17).
Na decisão, marcada para 25 de abril, o Tottenham vai defrontar um dos emblemas de Manchester (City ou United), que hoje disputam a outra meia-final. Ou seja, para saber se José Mourinho vai vencer uma competição será preciso esperar um intervalo de três meses — cabendo a curiosidade que tal significa que o "descacanço" de Wembley terá lugar alguns dias antes de uma possível semi final da Liga Europa, pelo que se o Tottenham lá chegar, será curioso constatar como é que o português vai lidar com a seleção da equipa e qual será a sua prioridade.
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