Passavam 40 minutos da conferência de imprensa da Comissão de Gestão quando Bruno Carvalho entrou em direto na SIC, em entrevista conduzida pelo jornalista Luís Marçal. E a primeira pergunta — depois do anúncio de que o seu ex-vice presidente Torres Pereira será o presidente da comissão de gestão — foi se ainda se considerava presidente do Sporting. Segundos de pausa e Bruno de Carvalho devolve com outra pergunta sobre a sua presença na entrevista: "Então, fui convidado na qualidade de ...?".

Seguiram-se uns primeiros minutos sobre estatutos e o que prevêem, tema que Bruno de Carvalho elegeu como forma de responder ao estatuto em que se encontrava na entrevista. "Vou tentar ser muito curto a fazer este filme aos sportinguistas". Não foi curto, mas a situação atual do Sporting é tudo menos fácil de entender. Bruno de Carvalho referiu-se várias vezes aos "picuinhas dos estatutos" para explicar que os estatutos atuais não configuram legitimidade às decisões que a comissão de gestão tinha anunciado menos de uma hora antes.

"Aquilo que os sportinguistas decidiram em fevereiro ainda não está em vigor", lamentou ainda Bruno de Carvalho, salientando que uma comissão de cariz transitório como é a comissão de fiscalização deve limitar-se à gestão corrente, função em que não se enquadra uma suspensão do conselho diretivo, por exemplo.

Reiterando que não vê legitimidade em Jaime Marta Soares enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, Bruno de Carvalho anunciou que "depois desta atitude vergonhosa que Jaime Marta Soares teve hoje, a partir de segunda-feira vamos entrar em algo que eu não queria, vamos partir para todos os elementos jurídicos ao nosso alcance", disse, sem porém detalhar.

"As pessoas que fazem parte dessa comissão [de gestão] estão absolutamente proibidas de entrar no Sporting", disse Bruno de Carvalho, acrescentando que se acabou esta "golpada" do Sporting.

Mais acrescenta o presidente suspenso que "se quiser não há Assembleia Geral nenhuma porque basta-me fazer uma providência cautelar sobre a verdade dos factos". E vai fazê-lo, perguntou Luís Marçal. "Não", respondeu o líder leonino, adiantando que a partir de segunda-feira irá fazer "todas as providências cautelares que tiver" contra Jaime Marta Soares e esta comissão de gestão. A realização da Assembleia Geral de dia 23 de junho, porém, fica garantida.

Questionado sobre se pondera ir à Assembleia Geral e dirigir-se aos sócios, porta aberta por Jaime Marta Soares esta tarde no momento em que a comissão de gestão entrou em funções, Bruno de Carvalho reiterou: "estou proibido por esta Mesa que considero ilegal porque estou suspenso de sócio e os estatutos são claros, só sócios podem ir à Assembleia Geral". "Infelizmente vai ser feita uma Assembleia Geral de destituição que é um julgamento em praça pública sem que as pessoas se possam defender", lamentou.

Treinador é apresentado para a semana. Jesus não foi suspenso

Bruno de Carvalho confirmou que o treinador "já foi escolhido" e será apresentando para a semana, escusando-se porém a detalhar se é um técnico estrangeiro ou não.

Questionado sobre convites avançados pela imprensa a Luís Filipe Scolari, Sá Pinto e Mano Meneses, Bruno de Carvalho negou que tenham sido convidados a treinar o clube de Alvalade, dizendo inclusivamente que não conhece Mano Menezes.

Assumindo que nunca seria fácil escolher um substituto para Jorge Jesus, Bruno de Carvalho fez questão de salientar que "não houve uma demissão de Jorge Jesus, houve uma rescisão por mútuo acordo, que é muito diferente de uma demissão", salientou, escusando-se a responder se o clima de instabilidade fez com que fosse mais complicado encontrar um novo técnico para os leões.

Ainda sobre Jesus, foi com a expressão "absolutamente falso" que Bruno de Carvalho respondeu quando questionado sobre é verdade que o treinador foi suspenso após o jogo com Marítimo na Madeira, remetendo o jornalista Luís Marçal para a carta de rescisão de Rui Patrício onde este relata que Jorge Jesus chegou a Alcochete e comunicou aos jogadores que tinha sido suspenso, mas que como não tinha ainda recebido nota de culpa, iria dar o treino.

Já sobre a apresentação do plantel antes da apresentação do novo treinador — vai o novo treinador trabalhar com um plantel que não conhece? — Bruno de Carvalho disse que é ele quem dita os tempos no clube e que o novo treinador está "a par de tudo".

As rescisões "vão cair todas" 

"O Sporting na próxima época vai lutar pelos seus objetivos que é lutar por vencer as competições em que está presente", respondeu Bruno de Carvalho quando questionado sobre se a equipa será competitiva na próxima época, acrescentando que várias destas saídas já estavam contempladas. "Para mim, William e Rui Patrício já deviam ter saído na época passada", disse. "Não saíram, já se percebeu que foi um ato errado, mas por minha vontade já tinham saído no ano passado", reiterou.

Questionado sobre o tipo de relacionamento que um presidente deve manter com os jogadores e sobre a linha que separa o que deve ser público e privado, Bruno de Carvalho admitiu que não deveria ter feito a publicação de Facebook a criticar os jogadores após o jogo contra o Atlético de Madrid a contar para a Liga Europa, acrescentando que foi o próprio a sofrer as consequências."Eu fui assobiado em pleno estádio e os jogadores aclamados em volta olímpica. Aliás, aconteceu seis vezes desde Madrid. Se você me pergunta se eu acho que a publicação tinha alguma coisa para lhe ser dada esta proporção, acho que não. (...) Assumo [que não o devia ter feito] porque temos um país retrógrado".

Bruno de Carvalho recordou ainda palavras de José Maria Ricciardi — "que toda a gente sabia que era o presidente sombra" — que em dezembro de 2012 disse que a equipa era "ridícula". "Ele era vice, membro de um órgão social, e o presidente sombra, e ele disse que havia jogadores que não mereciam o dinheiro que ganhavam... Mas agora já é um problema gravíssimo. Como somos um país retrógrado admito que nunca mais o farei".

De futuro, garantiu, deixará de manter uma relação de proximidade com os jogadores, deixando isso a cargo de Augusto Inácio, o novo diretor desportivo do clube — excepção feita no caso das modalidades, com Bruno de Carvalho a salientar os resultados do Sporting noutras modalidades que não o futebol.

Questionado sobre se aquela publicação de Facebook foi o que trouxe o clube ao ponto de rutura em que hoje se encontra, Bruno de Carvalho foi peremptório: "Não. O que nos trouxe a este momento foi aquele acontecimento criminoso na Academia".

Bruno de Carvalho fez ainda questão de garantir que "as rescisões vão cair todas".  "Se eu for presidente do Sporting vão cair todas porque não têm nada nos jogadores por onde se agarrar, aliás, entraram por um caminho chato pelo que escreveram, mal aconselhados pelo advogado que não lhes explicou as consequências jurídicas de calúnia e difamação".

"Eu acho que essa pergunta é de uma maldade tremenda". Foi assim que Bruno de Carvalho respondeu quando questionado sobre por que motivo não pediu aos adeptos da Juventude Leonina que não atirassem tochas na direção da baliza do Rui Patrício no jogo contra o Benfica em casa, na segunda volta do campeonato nacional. "Você pressupõe que se sabia que isso iria acontecer. Assistiu àquilo? Foram segundos".

"Ponto número um, se eu estivesse naquela baliza acontecia igual. Estar a falar de Rui vs tochas é de uma maldade tremenda. Ponto número dois, aquilo foi tão rápido que entre eu chamar o oficial de ligação aos adeptos e ele se poder deslocar até lá demorou tempo. Mas também lhe vou dizer uma coisa: é lógico que me chateei, não só porque não teve beleza nem interesse nenhum, como podia ter magoado alguém e estragou-me o relvado todo. Aquilo não teve interesse nenhum em termos de espetáculo, e por isso é que a Juve Leo foi condenada por nós a pagar a multa", justificou.

No fim da entrevista, questionado sobre se o clube está capaz de fazer face às suas obrigações depois de ter sido travado o empréstimo obrigacionista de 15 milhões de euros pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Bruno de Carvalho apontou o dedo a Jaime Marta Soares mas salientou que "até agora, está tudo pago".

"Temos pago tudo, mas bem é chamar Jaime Marta Soares e perguntar-lhe porque é que ele fez esse crime ao Sporting. O travão que a CMVM colocou teve a ver com a atitude de Jaime Marta Soares de, anti-democraticamente e de uma forma golpista, pedir a demissão desta direção. Pergunte-lhe a ele. Até agora, está tudo pago", concluiu.