Durante a apresentação de resultados referentes ao 1º trimestre de 202o, Alexandre Fonseca, presidente executivo da Altice Portugal, anunciou que a empresa está disponível para "conversar com os clubes" seus patrocinados, realizando os pagamentos suspensos em maio e abril, mediante contrapartidas que passam por descontos nos valores devidos mensalmente na próxima temporada.

"Estamos disponíveis para apoiar os clubes analisando caso a caso", nomeadamente "compensando os clubes, fazendo os pagamentos referentes a abril e maio, tendo como contrapartida descontos nas mensalidades dos próximos meses", disse Alexandre Fonseca.

O objetivo, disse, é "permitir aos clubes gerir este momento difícil" ao nível da sua liquidez, faseando o peso do impacto da pandemia nas contas da próxima temporada, ou seja, permitindo encaixar uma eventual redução de receita no futuro.

"Mais do que sermos patrocinadores, queremos ser parceiros" dos clubes, reiterou Alexandre Fonseca, dando conta que "a comunicação [entre clubes e empresa] nem sempre fluiu de uma forma rápida".

A par, salientou, a Altice "tem dado ideias e sugestões [aos clubes] para se ir mais longe". Em causa, explicitou, está o contributo que os clubes podem ter "no combate à pirataria de conteúdos", um "flagelo" que uma vez mitigado terá um reflexo positivo no aumento das receitas que advêm da transmissão desses conteúdos.

"Estamos na disponibilidade de poder partilhar com os clubes a receita adicional que daí resulta" e assim minimizar também o impacto que a pandemia de covid-19 possa ter nestas empresas, disse.

"Queremos ser parte da solução, mas também ser rigorosos no que toca às obrigações contratuais. (...) Estamos do lado do futebol, estamos a queremos contribuir", concluiu.

Em março foi noticiado que a Altice não iria pagar os montantes aos clubes de futebol em abril, por se tratar de "um serviço que não está a ser disponibilizado", face à suspensão dos campeonatos.

A revelação foi feita à data em entrevista à Antena 1 pelo presidente executivo da empresa, Alexandre Fonseca, que explicou que da mesma forma que, para quem compra canais ‘premium’ de desporto, com o intuito de ver jogos em direto "não faz sentido pagar por um conteúdo que não existe", o mesmo se aplica aos clubes.

A Altice Portugal, que patrocina vários emblemas e é uma das detentoras dos direitos de transmissão televisiva dos campeonatos, considerou que "não havendo conteúdo desportivo nesses canais, não faz sentido serem realizados os pagamentos correspondentes por um serviço que não está a ser disponibilizado".

Alexandre Fonseca lembrou ainda que a empresa de telecomunicações regularizou os pagamentos de março, embora o futebol tenha sido suspenso, devido à pandemia de covid-19, a meio do mês. "Os pagamentos foram regularizados até ao momento em que houve esse bem. O bem são os jogos de futebol, a presença de público nos estádios, a transmissão desses conteúdos desportivos", acrescentou.

A Altice voltará "a realizar os pagamentos logo que esses conteúdos sejam novamente disponibilizados", disse ainda — posição que hoje reiterou em conferência de imprensa de apresentação de resultados.

"Temos confiança com os resultados que apresentámos"

A Altice Portugal anunciou esta quinta-feira, 21 de maio, os resultados referentes ao 1º trimestre deste ano, tendo registado desde janeiro receitas de 522,3 milhões de euros (+2,6% face ao mesmo período do ano passado e um aumento pelo quinto trimestre consecutivo) e o resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) cresceu 1,8% para 210 milhões de euros.

Os resultados foram considerados por Alexandre Fonseca em conferência de imprensa como "históricos" e motivo de confiança no futuro, apesar do impacto da pandemia de covid-19 na economia. Mostrando "profunda satisfação" com os resultados hoje conhecidos, o presidente executivo da empresas fala de "um arranque que nos deixa com boas perspetivas para o futuro".

Estes resultados foram suportados "pelos resultados obtidos por todas as áreas de negócio, com o Segmento Consumo a apresentar um crescimento homólogo de +2,2% e o Segmento de Serviços Empresariais de +3,2% no 1T 2020", detalha a empresa em comunicado.

No final do primeiro trimestre 5,1 milhões de casas estavam servidas com fibra ótica, após a adição de 182 mil novas unidades. A aposta meta da empresa é chegar às 5,3 milhões de casas no final de 2020.

5G: "O mundo mudou"

Questionado sobre as perspectivas da Altice no que concerne a retoma da migração da televisão digital terrestre (TDT) com o objetivo de avançar com o processo da quinta geração móvel (5G), Alexandre Fonseca disse que a empresa tem estado em "estreito contacto" com o ministério das Infraestruturas sobre esta matéria.

De referir que o secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, considerou no final do mês de abril que "haverá condições" para retomar a migração da televisão digital terrestre. Este processo de migração, essencial para o arranque do 5G, foi interrompido devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus.

Na mesma ocasião, Alberto Souto de Miranda admitiu também que "haverá condições para retomar o processo 5G, sendo certo que os operadores estão agora menos entusiasmados porque estão com as sua capacidades financeiras mais limitadas".

E este foi um dos pontos que salientou Alexandre Fonseca nesta conferência de imprensa: "Acho que é evidente que o mudo mudou e se o mundo mudou também é natural que se possam mudar as perspetivas de algo tão relevante como o 5G", disse.

Em causa, disse, pode estar "alguma prudência" nos investimentos nesta área num futuro próximo, estando a Altice "num processo de reflexão sobre quais serão os caminhos do 5G" e acreditando que "possa haver uma revisão da consulta que foi feita" aos operadores. "Acredito que se existir racionalidade e equilíbrio no que toca ao investimento e à componente financeira inerente às licenças, poderemos assegurar um arranque faseado do 5G", disse.

A 7 de fevereiro, o Governo aprovou a estratégia e calendário para a quinta geração de comunicações móveis, ou 5G, que começa este ano e se prolonga até 2025. Segundo o comunicado do Conselho de Ministros, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) ia propor, "em conformidade, para consulta pública, os termos do procedimento de atribuição de direitos de uso do espetro radioelétrico disponível". O Governo, lia-se ainda no texto, tem por objetivo "garantir uma cobertura estrategicamente seletiva e territorialmente coesa, com metas intercalares em 2020 e 2025". No entanto, a 19 de março, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) decidiu, "por motivo de força maior", suspender a consulta pública sobre o projeto de regulamento do leilão para a atribuição de licenças 5G, na sequência dos pedidos de suspensão dos operadores. O regulador salientou, na altura, que todos os operadores, nos seus pedidos para que a Anacom suspendesse a consulta sobre o regulamento do leilão, "invocam a atual situação de exceção em que Portugal se encontra, e todos os constrangimentos que daí resultam, bem como a imprevisibilidade da situação e a impossibilidade de avaliar como será a sua evolução".

Hoje, Alexandre Fonseca considerou que "faz sentido retomar a consulta relativamente ao 5G, mas faz sentido retomar à luz de um mundo que é diferente. Nós temos de retomar essas conversas à luz desta alteração". Se vai ser uma realidade ou não em 2020, o presidente da Altice Portugal não quis avançar com certezas.

No que diz respeito a esta matéria, o principal foco, segundo o presidente executivo da empresa de telecomunicações, é permitir o investimento nas licenças, sem perder capacidade de investimento na rede. "Não podemos construir a estrada e depois não ter carros", exemplificou.

Media: "Nunca escondemos que queríamos ir mais longe. Estamos sempre atentos, mas com prudência"

Questionado sobre a estratégia da Altice relativamente aos media — depois de, a 14 de maio, a Prisa anunciar que Mário Ferreira comprou 30,22% da Media Capital, através da Pluris Investments — Alexandre Fonseca assumiu que a empresa quer manter-se ativa nesta área, com a prudência que o atual contexto exige.

"O SAPO é historicamente um dos principais orgãos de comunicação social e um dos principais parceiros de media do nosso país e é uma empresa do grupo Altice em Portugal. Portanto, nós continuamos a ter um papel muito ativo nos media em Portugal, nos conteúdos digitais, apostando claramente, num ano em que o SAPO completa 25 anos, em continuarmos a ter uma presença ativa na componente de media", disse Alexandre Fonseca.

No entanto, assumiu, "nunca escondemos que queríamos ir mais longe". "A estratégia não é algo que se mude todos os meses ou sequer todos os anos, e essa estratégia passa pela convergência entre telecomunicações, media e outros negócios também. E, portanto, estamos sempre atentos a oportunidades de parcerias. Este é um momento que, segundo o bom senso nos manda, é de prudência, cuidado e racionalidade. Já o disse e mantenho que acredito que no que toca a convergência entre telecomunicações e media o tempo me há de dar razão e eu sou paciente e otimista. Acredito que esta calma trará a seu tempo os resultados que pretendemos. Como é que ela será [a convergência]? Não sabemos, existem múltiplas formas de concretizar esta convergência".

Já sobre os apoios distribuídos pelos media pelo Governo, sobre a forma de compra de publicidade institucional, anunciados esta semana, e que geraram polémica quer pelos montantes atribuídos, quer pelos critérios adotados, Alexandre Fonseca não quis comentar — "à política o que é da política, aos negócios o que é dos negócios"— , dizendo apenas que o SAPO "está muito atento a todo o processo e aquilo que enquanto órgão registado na ERC pretende é que haja transparência, que sejam conhecidas as regras. É apenas esse o nosso interesse neste processo. Estamos a tentar esclarecer tudo o que do nosso lado nos possa levantar dúvidas".

No âmbito da pandemia covid-19, o Governo publicou uma lista das 13 pessoas coletivas detentoras de órgãos de comunicação social que serão beneficiárias de apoios públicos no montante global de 11,25 milhões de euros sob a forma de ajustes diretos de publicidade institucional, bem como o valor individualmente atribuído a cada uma das empresas.

Na quarta-feira, porém, o Observador e o ECO anunciaram que vão rejeitar os apoios atribuídos pelo Estado, num total de quase 40 mil euros, no âmbito da compra antecipada de publicidade institucional.

"Este programa não cumpre critérios mínimos de transparência e probidade para que o Observador possa aceitar fazer parte dele. Comunicaremos por isso ao Governo que abdicamos dos 19.906,29 euros, tal como teríamos abdicado de qualquer outro montante atribuído nestas condições", refere o Conselho de Administração (CA) do Observador, em comunicado.

A adensar a polémica esteve o facto de o Governo assumir um erro nas contas, com a revista Sábado a confirmar junto do Ministério da Cultura ter havido um engano na atribuição do apoio ao Observador: afinal seriam 90 mil e não 20 mil euros, um valor mais de quatro vezes superior, a destinar ao meio online. O valor final permanece por confirmar.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da Swipe News, Rui Freitas, empresa que detém o ECO, escreveu no editorial de quarta-feira que "o ECO vai recusar o apoio do Estado aos media", salientando que "não está em causa o valor do apoio, mas o modelo seguido, de subsidiação direta, em vez de um mecanismo que passe a decisão do apoio para o leitor". Ao ECO estava atribuído um apoio de 18.981,46 euros.

Os restantes valores distribuíam-se da seguinte forma:  O grupo Impresa conta com 3.491.520,32 euros e a Media Capital 3.342.532,88 euros, seguidas da Cofina (1.691.006,87 euros) e Global Media (1.064.901,66 euros). O grupo Rádio Renascença conta com (480.258,93 euros), seguido da Trust in News, que tem a revista Visão (406.088,99 euros), Sociedade Vicra Desportiva, dona de A Bola, (329.187,48 euros), Público (314.855,38 euros) e da Newsplex, que tem o Sol e i, (38.645,00 euros). O grupo Megafin (28.844,47 euros), dono do Jornal Económico, a dona do Porto Canal, Avenida dos Aliados — Sociedade de Comunicação (23.270,27 euros), o Observador Ontime (19.906,29 euros), e a Swipe News, dona do ECO (18.981,46 euros).

Contas feitas — e sem acertos ainda relativos ao Observador e eventuais recusas —  todos estes 13 órgãos de comunicação social de âmbito nacional vão receber 11,25 milhões de euros, ou seja, 75% dos 15 milhões de euros (IVA incluído).

Os restantes 25% de apoios destinam-se aos meios de comunicação regional e local, dos quais 2,019 milhões em aquisições a realizar a detentores de publicações periódicas de âmbito regional e 1,731 milhões em aquisições a realizar a detentores de serviços de programas radiofónicos de âmbito regional e/ou local.

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