"Numa reunião com o diretor de ‘scouting', em fins de novembro [de 2019], para preparar [o ‘mercado’ de] janeiro, o Sá Pinto queria dispensar o Trincão. Eu disse que isso era impossível, que não podíamos dispensar um dos maiores talentos do futebol mundial e isso verificou-se. O Trincão é um grande jogador que vai marcar uma década como o melhor jogador do futebol português", contou.
Trincão foi vendido em janeiro ao FC Barcelona por 31 milhões de euros, a maior transferência de sempre do Sporting de Braga, mas continuou até ao final da época nos minhotos.
António Salvador, que falava numa entrevista à NEXT, canal de televisão do clube que transmite na internet e que inaugurou novas instalações, deixou elogios a Carlos Carvalhal, "um dos melhores treinadores do futebol português e até da Europa", manifestando o desejo de continuar com o técnico mesmo após os dois anos de contrato.
Sobre a próxima época, disse não "prometer nada".
"[Em] cada jogo, seja em que campo for, vamos lutar pela vitória. Acredito que vamos fazer uma grande época. Não temos limite de ambição. Nesta casa ninguém convive bem com a derrota ou o empate. Queremos ganhar, seja com Benfica, Porto ou Sporting e na Europa", disse.
O presidente dos ‘arsenalistas' considera que o Sporting de Braga tem "um grande plantel", frisou que os reforços vieram "com o aval" do treinador e que, até ao fecho do mercado, "tudo pode acontecer", notando que, "se não sair mais ninguém, também poderá não entrar mais ninguém".
"Temos uma grande base, só saíram dois e que jogavam regularmente, um que foi jogando, o Palhinha, mas o Trincão só jogou na segunda volta, só jogou depois de o Sá Pinto sair do clube", lembrou.
Sobre Paulinho, disse ser um "jogador muito importante" sobre o qual tem recebido "muitas abordagens, mas não houve propostas concretas que servissem os interesses do clube".
"O Paulinho gostaria de dar um salto para uma liga competitiva. Além da questão financeira, acha que é o momento de sair, mas tem de perceber que, se não sair, tem de continuar a trabalhar para ser o melhor marcador do campeonato ou para ir à seleção nacional", notou.
António Salvador revelou ainda que a pandemia de covid-19 "ajudou" a que Gaitán visse para Braga.
"O futuro dele [pós-futebol] pode passar por Portugal e isso facilitou o acordo. Numa conversa com ele, disse-me que jogaria no Benfica ou Braga. Foi fácil chegar a um acordo com um jogador talentoso, que ainda vai dar muito ao futebol português, até pela humildade que tem", disse.
O dirigente elogiou a qualidade do futebol de formação do Sporting de Braga, destacando que não houve reforços para as equipas de sub-19, sub-23 e equipa B, e deu o exemplo de Rodrigo Gomes, vaticinado que será "um dos melhores jogadores portugueses".
"Os sócios têm de perceber que o Sporting de Braga é um clube vendedor, que para manter este nível temos de ter mais-valias anuais de 15 milhões de euros", disse.
"Se havia algo que o Sporting não poderia falhar era com este negócio"
"Ele cá ganhava 300 mil euros [por época], propus renovação por mais um ano a dobrar-lhe o salário, passar a ganhar 600 mil, mas quando há um clube que paga 2,5 milhões de euros não é possível, infelizmente, o Sporting de Braga acompanhar", revelou o presidente 'arsenalista' numa entrevista que inaugurava as novas instalações da NEXT, televisão do clube que transmite na internet.
Depois de o Sporting ter falhado os prazos de pagamento dos 10 milhões de euros (ME) da cláusula de rescisão do técnico que contratou em março aos minhotos, e após um ultimato do Sporting de Braga, os dois clubes chegaram a um novo acordo, na semana passada, para o pagamento da dívida, que já engloba juros e penalizações.
Para António Salvador, "se havia algo que o Sporting não poderia falhar era com este negócio", porque, se "o Braga já teve os seus problemas e os seus incumprimentos" e "num negócio normal de jogadores" há disponibilidade "para conversar e analisar", neste caso "foi um treinador que o Sporting veio buscar que o Braga não queria vender e com a época em andamento".
António Salvador disse ainda "não ter dúvidas de que o Sporting vai cumprir o acordo desta vez".
"Se quisesse ser mauzinho, pedia para o Sporting não cumprir, porque isso custaria mais 1,8 ME do que aquilo que já vai custar. Mas acredito cegamente que o Sporting vai cumprir o que foi estipulado no último acordo, que só foi feito porque, no último dia, o Frederico Varandas me fez uma chamada a justificar que não tinha condições de pagar e que queria fazer um acordo com o Braga", disse.
Segundo o líder dos minhotos, "as pessoas do Sporting tiveram humildade e perceberam”. “Percebo que tivessem esticado a corda, ou porque mal aconselhados pela sua área jurídica ou pela área financeira, mas o seu presidente teve a hombridade de me ligar e pedir para nos sentarmos à mesa e fazermos um novo acordo", sustentou.
Entre críticas ao Governo português, António Salvador espera que o Estado ajude os clubes dadas as dificuldades económicas que a pandemia de covid-19 trouxe.
"O nosso Governo tem tratado o futebol muito mal. A indústria do futebol é uma indústria que contribui muito para o PIB [Produto Interno Bruto] português. Só nesta última década, o Braga pagou mais de 85 milhões de impostos ao Estado. Por causa da pandemia, o nosso Governo devia olhar para os clubes de forma diferente. Tem ajudado as outras empresas, e muito bem, mas entendo que o futebol também devia ter sido analisado e olhado de outra forma", referiu.
O presidente do Sporting de Braga quer ver de novo nas bancadas os adeptos, defendendo que "os clubes estão na linha da frente e preparados" para isso.
"Se até percebemos que o último campeonato não teve adeptos, não se consegue perceber bem este sem adeptos. Não sou contra a Festa do Avante, contras as touradas, cinema ou teatro, mas é importante que os governantes percebam que o futebol é uma indústria importante para o país e que tem ainda mais segurança do que esses espetáculos”, sustentou.
Segundo o dirigente, os clubes estão na linha da frente e estão preparados para o regresso dos espetadores.
“Apresentámos um plano à DGS [Direção-Geral da Saúde] para que houvesse público contra o Valladolid e não foi possível. Mas não vamos desistir, porque a alma do futebol são os nossos adeptos nas bancadas", concluiu.
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