O Benfica está na disputa pelo campeonato.
Sim, os dragões são os que grandes vencedores do dérbi. Sim, os encarnados estão a 5 pontos do FC Porto. Sim, o empate é menos penalizador para o Sporting, que fica a apenas 2 pontos da liderança e, por isso, continua a depender apenas de si mesmo para erguer o título. Mas o Benfica apresentou algo que tem sido raro esta temporada: bom futebol, de ataque, do início ao fim do jogo. Aquele tipo de jogo de uma equipa que quer vencer, mas que ainda não se tinha visto na turma da Luz.
Entraram em campo duas equipas de topos diferentes: o SL Benfica com o melhor registo em casa no campeonato (7 jogos, 7 vitórias); e o Sporting CP com o melhor registo fora na liga (7 jogos, 6 vitórias, 1 empate). Mas as estatísticas enganam, e era indiscutível: os leões chegavam em melhor forma frente a um Benfica despojado de mais competições que não o campeonato, e que nos últimos 5 jogos somava dois empates e uma derrota.
Os encarnados entraram a mostrar que a ‘morte’ antecipada do campeão nacional tinha sido manifestamente exagerada. Desde o primeiro segundo que jogou de linhas subidas e a pressionar o Sporting na frente.
Há quem diga que quem chega pior é quem vence estes tipo de jogos, sem favoritos. É um ditado popular no mundo do futebol que Gelson Martins fez questão de tentar negar, ainda antes de chegarmos ao minuto 20: na esquerda e já dentro da área, Fábio Coentrão cruzou, a bola sobrevoou Rúben Dias, e, de cabeça, Gelson Martins ganhou a Grimaldo e fez abanar as redes. Era a estreia do jovem leão marcar num dérbi.
O golo seria o prelúdio para uma série de chamadas ao VAR, ao longo do jogo. Hugo Miguel pediu aos seus auxiliares para confirmar a posição de Coentrão, mas sem identificar nenhuma irregularidade validou o golo.
As águias tentaram responder de imediato, com intensidade, a jogar contra a desvantagem histórica recente: desde 1993 que os encarnados não conseguiam uma reviravolta na Luz frente ao Sporting CP.
E logo aos 24 minutos surgiu a primeira tentativa: após cruzamento de Salvio, Jardel, sobre a linha de golo cabeceia, mas a bola acaba por bater na cabeça de Piccini. Não foi intencional, mas foi um daqueles cortes que valem golo.
O cenário do jogo na primeira parte seria este: um Benfica intenso na frente, rápido pelas alas e com um Krovinovic irrequieto; e um Sporting que cada vez que agarrava na bola seguia para o contra-ataque e trocava as voltas à defesa encarnada - foi assim aos 25’, com Bruno Fernandes a rematar de longe, e Varela a segurar; e foi assim aos 29’ quando Acuña rematou e a bola ressaltou no pé de Rúben Dias, mas Varela, mais uma vez, sacudiu a bola para canto com uma boa defesa.
Aos 34 minutos aconteceu um dos momentos da primeira parte, Jonas remata contra Fábio Coentrão e surge a dúvida no ar: a bola bateu na cara ou no braço do antigo jogador do Real Madrid? Na sequência do lance, Krovinovic atirou com estrondo à barra, e Hugo Miguel fez a segunda chamada ao VAR, que nada assinalou e o jogo prosseguiu.
De seguida, e outra vez em contra-ataque, Gelson Martins, na cara de Varela, tenta picar a bola por cima do jovem guarda-redes português, mas falha a baliza e o 2-0.
Ao intervalo a estatística era do Benfica, mas a vantagem, e a estrela da sorte, do Sporting.
A segunda parte seria mais do mesmo: Benfica a atacar, Sporting a defender, à espera de um erro dos encarnados. As águias atacavam, mas a bola teimava em não entrar. Jonas tentou por 7 vezes e nada, nem mesmo quando a bola ressaltou em Coates e ameaçou atraiçoar Rui Patrício com um autogolo. João Carvalho, de longe, também tentou um remate colocado que bateu nas malhas superiores da baliza defendida pelo guardião internacional português. Mas não foram os únicos, Jiménez e Krovinovic (um dos mais rematadores) também foram tentando, mas o resultado foi sempre inglório.
Aos 62 minutos nova chamada para o VAR: Jonas remata, a bola parece desviar no braço de Piccini, mas Hugo Miguel considerou não existir infração.
E eis que Rui Vitória, o treinador que costuma ter o condão de reagir e não de agir, meteu a "carne toda no assador" numa "anarquia tática" de "tudo ou nada" à medida que o jogo corria e o ditado, também do bom futebolês, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, teimava em não se concretizar.
Primeiro tirou Pizzi, para colocar Raúl Jiménez, regressando ao "velhinho" 4-4-2. Depois tirou Fejsa e colocou Rafa Silva. E, no fim, tirou Rúben Dias para colocar João Carvalho. O Benfica terminou o jogo com apenas três jogadores de cariz defensivo: André Almeida, Grimaldo e Jardel.
Com as alterações, os encarnados perderam meio-campo, perderam qualidade defensiva, e nos instantes finais quando os leões começavam a equilibrar o jogo, uma nova ofensiva encarnada, comandada por Rafa Silva (o senhor irrequieto número 2), as águias conquistaram um pénalti, por mão de Battaglia.
Desta feita não houve necessidade de recorrer ao VAR e Jonas, chamado a converter, não falhou, estreando-se a marcar ao Sporting e confirmando outro facto da época: o brasileiro marcou em todos os jogos do campeonato disputados no Estádio da Luz.
O dérbi terminou assim: com um Benfica com falta de pontos para apenas depender de si mesmo, mas com futebol suficiente para mostrar que ainda é o tetra-campeão; e com um Sporting que soube sofrer e que durante uma hora de jogo teve não só mérito na defesa, como uma estrelinha, aquelas estrelinhas da sorte que costumam dar títulos nacionais, mas que avançados com a categoria de Jonas, que reforçou o lugar no topo da classificação dos melhores marcadores, adoram abater.
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