Laudolino Medina disse à Lusa que aguarda “impaciente por uma resposta do Governo”, mas receia que o número de crianças Talibé que o Senegal quer recambiar para que a Guiné-Bissau “suba nos próximos dias”.

“De início disseram-me que eram 68 crianças e AMIC já estava no processo de identificação dos familiares dessas crianças, mas estes dias recebemos indicações dos parceiros do Senegal em como são já 161 crianças Talibé” da Guiné-Bissau, adiantou Medina.

O retorno obrigatório ao país de origem faz parte das diretrizes das autoridades senegalesas para crianças em situação de mendicidade, precisou o responsável guineense para destacar ser necessário “um trabalho coordenado” com o Governo.

A ministra da Mulher, Família e Solidariedade, Conceição Évora, já está a par da situação e Laudolino Medina acredita que vai encontrar solução antes que a organização parceira da AMIC no Senegal “entre em desespero”, frisou.

“Todos os dias os nossos colegas (do Senegal) ligam a perguntar se já encontramos uma solução. É como se a AMIC fosse a responsável por aquelas crianças”, notou Laudolino Medina.

Devido à situação de emergência sanitária, provocada pelo novo coronavirus, os dois países têm as fronteiras terrestres fechadas e a AMIC espera que as duas autoridades encontrem um mecanismo que permita a viagem das crianças até as suas comunidades.

A situação da “criança Talibé” da Guiné-Bissau também constitui problema para AMIC no próprio país.

No mês de setembro, a organização chefiada por Laudolino Medina foi chamada a retirar de uma casa “de um suposto mestre corânico” num bairro de Bissau, 29 rapazes, entre os 07 e os 13 anos.

A AMIC teve de albergar, no seu centro de acolhimento de crianças em risco, durante 30 dias, as 29 crianças, mas já as reintegrou nas suas famílias, quase todas no interior da Guiné-Bissau.

A Lusa visitou o centro de acolhimento da AMIC no bairro do Enterramento, subúrbios de Bissau, onde não se encontra atualmente nenhuma criança Talibé, mas onde está a pequena “Mariama” (nome fictício), de oito anos, vítima de abuso doméstico.

“Ela veio cá parar, pelos próprios pés”, apontou Laudolino Medina para a “Mariama” que se estava sentada no chão de um dos quartos de meninas fugidas do casamento forçado, a fazer desenhos no caderno.

Todos os dias a viatura de um responsável do centro leva a “Mariama” até à sua escola, próxima da comunidade de onde fugiu, no centro de Bissau. Ela estava à guarda de uma tia, mas que supostamente a violentava fisicamente.

Laudolino Medina explicou que enquanto não se encontrar uma solução, que passa pelo seu retorno à família de onde fugiu, tem de continuar a estudar.

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