Francisco Cabral e Nuno Borges estão nas meias-finais da 8.ª edição do Millennium Estoril Open e a uma partida de atingirem a final, a segunda consecutiva, do mais importante torneio de ténis em Portugal.

“Tal como dissemos ontem e no dia antes de ontem, cada jogo aqui é como uma final, podemos ganhar a todos, acredito plenamente nisso, mas também acredito que, num dia menos bom, podemos perder com qualquer outra das duplas que está em prova”, assumiu Francisco Cabral, após a vitória alcançada nos quartos de final diante Robin Haase (46.º ranking ATP de Pares) e Philipp Oswald (77.º).

O número 53.º do ranking mundial de duplas assumiu quase todas as despesas da conferência de imprensa que se seguiu à vitória em dois sets pelos parciais 6-3 7-6 (4), após uma hora e vinte e cinco minutos de jogo.

“Não vale a pena pensar em domingo porque há ainda um grande dia de sábado em que os nossos adversários vão pensar o mesmo que nós que é a passagem à final. A única coisa que podemos garantir é que vamos dar tudo o que temos, se não ganharmos é porque os outros foram melhores e não porque não demos tudo”, garantiu Cabral, de 26 anos.

O regresso ao court central do Estoril Open representa algo de mágico. “É um campo onde, por nós, tínhamos jogado desde o primeiro jogo, mas não somos nós que decidimos. Jogamos no court Cascais [secundário] da mesma maneira que jogaríamos no court Millennium [palco principal], mas voltar lá amanhã vai ser especial”, sublinhou.

Francisco Cabral focou-se ainda no seu estado de alma antes de pisar a terra batida do campo que tem vista para a tenda VIP. “Para mim, é o momento mais feliz da minha vida, um sonho que se transformou realidade. Vai ser especial e esperamos estar à altura do desafio de jogar no maior palco do ténis nacional”, acrescentou após a sexta vitória consecutiva no único torneio português do ATP.

Questionados sobre a dupla a enfrentar (os belgas Sander Gille e Joran Vliegen, 4.º cabeças-de-série que beneficiaram da desistência dos seus adversários Radu Albot e Victor Vlad Cornea), Nuno Borges, cuja carreira está mais virada para singulares, deixou este serviço para o seu parceiro de court. “Esta é para o Francisco”, disse o nº 65 do ranking ATP de singulares e 129 em Pares.

“Ia dizer o mesmo (sorrisos)”, atirou o jogador mais fadado para assuntos do jogo a quatro mãos. “Muito sinceramente, nunca os vi jogar na vida. Se não é a primeira, será das primeiras vezes que estamos no mesmo torneio”, revelou Cabral. “Por acaso, nunca calhou vê-los jogar, nem nunca treinei com eles, portanto estou um pouco fora. São os nossos adversários, mas até amanhã vou com certeza saber coisas porque tenho pessoas em quem confio que de certeza conhecem”, assegurou.

Nuno Borges interrompeu o quase monólogo. “Vamos focar-nos no que nós fazemos bem. Mais ainda”, fez-se ouvir depois de antes ter comentado a partida. “No geral, fomos superiores e no tie-break mostrámos que estávamos a jogar melhor e que estávamos ali também para ganhar”.

“Mais que um jogador de ténis ... provavelmente das melhores pessoas que conheci na minha vida”

No final da conversa, o maiato de 24 anos recordou Pedro Sousa, tenista de 35 anos que, recorde-se, despediu-se da terra batida do Estoril Open, onde fez os penúltimos pontos como profissional, retirando-se após o Challenger de Oeiras, em abril e maio.

“O Pedro nos últimos tempos tem sido mais de que um amigo, tem sido um dos meus maiores parceiros de treino. Ajudou-me imenso nos últimos dois anos”, admitiu Nuno Borges. “Não estava o mais motivado, desceu no ranking, já com dois filhos. Toda a gente consegue fazer as contas que mais ano ou menos ano ele poria as raquetes de lado e partiria para outra etapa. Na semana passada, estava a treinar com ele e acreditei que podia continuar a jogar. Merece o descanso”, atestou.

De voz embargada, Francisco Cabral deixou o seu testemunho. “Conheço o Pedro há mais anos que o Nuno. Quando comecei no CAR (Centro de Alto Rendimento de Ténis) ele estava lá e acompanhei de perto a vontade e a felicidade dele quando atingiu o objetivo de carreira – top 100”, relembrou. “Poderia ir mais longe, mas isso é a carreira de cada um”, reconheceu.

“Mais que um jogador de ténis, o Pedro é (fez uma pausa e amparou com o dedo a queda de uma lágrima) provavelmente das melhores pessoas que conheci na minha vida e extra ténis temos uma relação excelente. Estou a emocionar-me, porque ele é especial para mim, temos uma relação diferente, tenho uma relação com a mulher e filhos que não tenho com outros jogadores portugueses e estrangeiros e custa-me vê-lo ir embora”, admitiu. “O tempo de cada um é a própria pessoa que decide e fico feliz de terminar a carreira sem lesões, que foi algo que o afetou a vida toda”, atestou.

Bola devolvida para o parceiro do lado. “Foi repentino”, revelou Nuno Borges, ao recordar a homenagem partilhada no court central. “Merecia algo mais bem agendado e planeado, merecia algo mais elaborado. Só isso, mas foi ótimo dentro da surpresa ter estado no momento (homenagem)”, disse. “O Pedro foi um exemplo para mim, que não seja por ele, seja por mim, para mostrar o meu agradecimento, ao exemplo que ele trouxe para todos nós”, finalizou.