O acidente aéreo que atingiu o clube brasileiro Chapecoense em 2016 foi causado por falta de combustível e revelou graves deficiências da companhia aérea LaMia, concluiu a investigação da autoridade aeronáutica da Colômbia.

A tragédia "ocorreu pelo esgotamento de combustível do avião, em consequência de uma inapropriada gestão de risco da empresa LaMia", afirmou esta sexta-feira o coronel Miguel Camacho, chefe do grupo de investigações de acidentes da entidade. Um relatório preliminar já havia estabelecido a falta de combustível como a causa da tragédia.

"O relatório observa que a empresa LaMia, que planeava não parar este voo charter (sem transporte regular de passageiros) entre Santa Cruz (Bolívia) e Rionegro (Colômbia), não atendeu aos requisitos de quantidade mínima de combustível exigida pelos padrões internacionais", lê-se em um comunicado divulgado pela Aeronáutica Civil da Colômbia.

Os planos iniciais de voo previam uma escala entre Santa Cruz e o aeroporto de Medellín, mas a transportadora optou por um voo direto.

A análise do acidente vincula autoridades e instituições de cinco países (Colômbia, Bolívia, Brasil, Estados Unidos e Inglaterra).

O relatório diz ainda que a empresa e a tripulação, apesar de terem conhecimento da quantidade limitada de gasolina para completar o voo em Rionegro, tomaram a decisão de pousar em outro aeroporto sem reabastecimento. "A tripulação descartou um pouso em Bogotá, ou outro aeroporto, para reabastecer", diz o documento.

Quarenta minutos antes do acidente "houve na cabine da aeronave uma indicação do nível de combustível baixo. Neste momento, o avião já estava em uma situação de emergência", adiantou o coronel Miguel Camacho, acrescentando que "a tripulação não anunciou essa emergência ao controlo de tráfego aéreo para pedir prioridade".

Assim, a investigação retira aos controladores de tráfego aéreo de Rionegro qualquer responsabilidade.

Todavia, a tripulação, além de experiente, tinha os exames médicos em dia.

"A aeronave com placa LMI 2933, que caiu às 21:59 do dia 28 de novembro de 2016, teve um défice de 2.303 kg de combustível, já que percorrer a rota Santa Cruz-Rionegro as disposições do setor exigiam uma quantidade mínima de combustível de 11.603 kgs e esta aeronave tinha apenas 9.300 kgs", acrescentaram as autoridades colombianas.

"Diante dos fatores que contribuíram para a ocorrência deste trágico acidente, destacam-se as deficiências latentes do LaMia relacionadas ao incumprimento de políticas de combustíveis, falta de supervisão e controlo do atraso declaratório de prioridade e emergência por parte da tripulação quando era iminente que o combustível estava a esgotar-se", concluíram as autoridades colombianas.

A 28 de novembro de 2016, a equipa brasileira viajava para Medellín, onde iria defrontar os colombianos do Atlético Nacional na final da Taça Sul-Americana, quando o voo 2933 da companhia privada LaMia se despenhou já perto do aeroporto. A Chapecoense, que em 2009 disputava a quarta divisão do futebol brasileiro, estava a caminho da sua primeira final internacional.

O avião que havia descolado da Bolívia caiu em Cerro El Gordo, a cerca de 2.600 metros de altura, no município de La Union.

À tragédia sobreviveram seis dos 77 ocupantes, três jogadores, dois tripulantes e um jornalista. Entre as vítimas mortais estão 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica e nove diretores do clube.

As primeiras investigações revelaram que o avião estava com pouco combustível e com excesso de peso. O piloto, que também faleceu na queda, foi responsabilizado e uma dezena de funcionários da companhia aérea e do Estado estão presos na Bolívia.