Os dois ‘monstros’ velocipédicos entraram nos derradeiros metros dos 272,5 quilómetros entre Antuérpia e Oudenaarde isolados e protagonizaram um dos momentos mais emocionantes da temporada: Pogacar esperou demasiado tempo que o neerlandês lançasse o ‘sprint’ e acabou ‘encurralado’ por Dylan van Baarle (INEOS) e Valentin Madouas (Groupama-FDJ), que, vindos de trás, foram, respetivamente, segundo e terceiro na ‘De Ronde’, à frente do esloveno.

Vencedor da Volta a Flandres em 2020 e segundo no ano passado, o ciclista da Alpecin-Fenix não se precipitou perante a pressão do ciclista da UAE Emirates ou a aproximação dos perseguidores — e percebeu que, muito provavelmente, o esloveno ficaria ‘fechado’ no ‘sprint’ – e usou uma mistura imbatível de cérebro-pernas-lucidez para arrancar apenas no momento certo para evitar ser ultrapassado pelos ‘embalados’ Van Baarle e Madouas e conseguir erguer novamente os braços na clássica belga.

Para a história ficará tanto o triunfo de ‘MVDP’, conquistado em 6:18.30 horas — e já lá vão três esta temporada, em apenas oito dias de competição -, mas também a frustração de um desconsolado Pogacar, que pagou cara a sua ingenuidade e inexperiência neste tipo de corridas com um erro que o deixou imerecidamente fora do pódio.

Na ausência daquele que era o grande favorito — o coronavírus ‘apanhou’ Wout van Aert na ‘véspera’ de um dos seus principais objetivos da temporada –, foi precisamente o jovem de 23 anos, que nunca tinha corrido na Flandres, a assumir o protagonismo no segundo ‘monumento’ da temporada.

O sempre ‘impaciente’ esloveno fez a primeira verdadeira seleção no Kwaremont, a mais de 50 quilómetros da meta, anulando definitivamente, com a sua iniciativa, a fuga de Stan Dewulf (AG2R-Citroën), Sebastien Grignard (Lotto-Soudal), Lindsay De Vylder (Sport Flanders-Baloise), Taco van der Hoorn (Intermarché-Wanty-Gobert), Mathijs Paasschens (Bingoal-Pauwels Sauces-WB), Manuele Boaro (Astana), Luca Mozzato (B&B), Tom Bohli (Cofidis) e Max Kanter (Movistar), os ‘valentes’ que andaram na frente durante cerca de 200 quilómetros.

O arranque do líder da UAE Emirates, que até tinha caído no início da jornada, abriu as ‘hostilidades’ entre os favoritos e, após várias movimentações, a frente da corrida ficou entregue a ‘Pogi’, ‘MVDP’, Van Baarle, Madouas e Fred Wright (Bahrain Victorious), com a Quick-Step Alpha Vinyl, a equipa que mais trabalhou, e o ainda campeão em título Kasper Asgreen, que sofreu um problema mecânico quando já perseguia o quinteto, a serem os primeiros ‘derrotados’.

Os cinco entraram nos derradeiros 20 quilómetros da 106.ª edição da ‘De Ronde’ com pouco mais de 40 segundos de vantagem sobre os perseguidores e pareciam destinados a discutir entre si o triunfo, até que o atual bicampeão do Tour atacou no Oude Kwaremont, a cerca de 17 quilómetros da meta, levando na roda o vencedor de 2020.

Os dois, que estavam empatados em número de vitórias no currículo (37), seguiram juntos até aos metros finais, apesar de Van der Poel ter dado sinais de debilidade física no Paterberg, e, no ‘sprint’, prevaleceu a inteligência do neerlandês, que aos 27 anos continua a enriquecer o seu invejável currículo, ‘abrilhantado’ por triunfos na Strade Bianche (2021), na Amstel Gold Race (2019) ou no Tour, prova onde andou de amarelo.

“Nem tinha a certeza que poderia correr as clássicas, por isso ganhar é incrível”, assumiu o quatro vezes campeão mundial de ciclocrosse, que enfrentou uma longa recuperação da queda ‘estúpida’ que sofreu na prova de ‘cross country’ olímpico em Tóquio2020, em agosto passado.

O neto do emblemático Raymond Poulidor reconheceu que esteve a ponto de descolar no Paterberg e teve ainda palavras de elogio para Pogacar, reconhecendo que o esloveno merecia estar no pódio. “Provavelmente, foi o ciclista mais forte hoje”, concedeu.

Mais calmo, após ter cortado a meta a protestar, ‘Pogi’, que viu o seu companheiro de equipa português Rui Oliveira abandonar a prova, fez ‘mea culpa’: “Estava mesmo desapontado por não ter podido ‘sprintar’, fiquei fechado. Mas isto é ciclismo”.

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