Ainda que sem se livrar da polémica, tudo indicava que a novela em redor da participação de Novak Djokovic no Open da Austrália tinha chegado ao fim na última terça-feira. O tenista sérvio, que nunca revelou se está ou não vacinado, tinha recebido uma isenção médica, uma espécie de autorização especial, por parte da Federação Australiana de Ténis, para não ter de comprovar que estaria vacinado e assim competir no primeiro Grand Slam do ano. Prova que já venceu nove vezes, e assim lutar pelo ambicionado 21.º grande título da carreira, um feito que seria inédito em toda a modalidade.

No entanto, a novela em torno da chegada de Djokovic está longe de acabar. Acusado de tratamento preferencial por parte da organização do evento, o sérvio foi barrado à chegada a Melbourne e ainda não é certo que consiga entrar no país para disputar o torneio.

Em causa estará um erro no visto, uma vez que este terá sido solicitado com uma subcategoria que não se aplica aos viajantes sob o regime de isenção médica. O erro no visto do tenista foi detetado durante o voo entre o Dubai e a Austrália. Agora, Djokovic terá de ficar no aeroporto a aguardar uma decisão do governo de Victoria, o Estado australiano onde fica Melbourne, para saber se pode ou não entrar no país para disputar a prova.

Quem não está para ouvir a palavra facilitismo junto ao nome do tenista número um do ranking ATP é o Governo australiano. Scott Morrison, primeiro-ministro, já anunciou que vai exigir a Novak Djokovic prova de que a isenção médica que recebeu para participar no Open da Austrália é justificada, caso contrário será enviado “para casa no primeiro avião”.

A Federação Australiana de Ténis, promotora do Open da Austrália, confirmou na terça-feira ter concedido uma “isenção médica” ao tenista sérvio, líder do ‘ranking’ mundial, para que pudesse jogar o primeiro Grand Slam do ano, entre 17 e 30 de janeiro.

Morrison disse estar a aguardar que Novak Djokovic “forneça evidências” para justificar o pedido de isenção médica e que, se o fundamento for insuficiente, “não será tratado de forma diferente e voltará para casa no primeiro avião”.

“Não haverá regras especiais para Novak Djokovic. Nem um pouco”, insistiu o primeiro-ministro australiano em conferência de imprensa, após a polémica levantada em redor do regime de exceção aplicado ao jogador sérvio.

Djokovic já afirmou no passado ser “contrário à vacinação”, condição necessária para participar no Open. Casos excecionais foram decididos por um painel independente e 'às cegas', ou seja, sem que o júri soubesse quem era o atleta que fazia o pedido. A maioria das exceções prendem-se com casos de doenças crónicas, problema que não é conhecido ao sérvio que, ainda assim, conseguiu a isenção junto do painel.

A única possibilidade que parece sobrar é a de Djokovic ter estado infetado nos últimos seis meses, o que o dispensaria da necessidade comprovar se está vacinado - e que, neste caso, seria uma reinfeção, uma vez que o sérvio testou positivo ao novo coronavírus durante a Adria Tour em 2020.

O presidente da Federação Australiana de Ténis e diretor do Open da Austrália, Craig Tiley, também pediu a Novak Djokovic que revelasse o motivo da sua isenção médica.

“Certamente seria útil se Novak [Djokovic] explicasse as condições sob as quais ele se inscreveu [no Open da Austrália] e obteve uma isenção”, disse Craig Tiley, acrescentando que encorajou o sérvio a falar à comunidade sobre o assunto.

“Existiram 26 candidaturas anónimas a estas isenções e só algumas foram atribuídas. A maioria não foi atribuída, 75 ou 80% daqueles que se candidataram não a receberam. Se eu for um visitante internacional e não estiver vacinado, com estas regras, qualquer profissional de saúde pode dar-me uma isenção e acrescentar o meu nome ao registo de imunização. Ou seja, qualquer pessoa pode entrar no país sem estar vacinada, não é só o Novak. Mas ele passou por esse processo, fez uma candidatura completamente legítima”, explicou o responsável adiantando que Novak Djokovic não recebeu nenhum tratamento preferencial para obter essa isenção, durante um processo supervisionado pelas autoridades australianas e pelo estado de Victoria.

A participação no Open da Austrália do tenista sérvio, de 34 anos, foi confirmada pelo próprio e pela TA na terça-feira, tendo a federação australiana referido, em comunicado, que tinha sido concedido ao número um do mundo uma “isenção médica”.

"Djokovic solicitou uma isenção médica, que lhe foi concedida, após um exame rigoroso envolvendo dois grupos independentes de especialistas”, referiu a TA em comunicado, divulgado após Djokovic ter confirmado a presença na Austrália.

O comunicado omite, escondendo-se atrás do sigilo médico, os motivos da concessão desta isenção ao tenista sérvio, que nunca esclareceu se foi ou não vacinado contra o SARS-CoV-2 e, em abril de 2020, falou contra a vacinação obrigatória.

“Passei uns dias muito felizes com aqueles que amo durante as férias e hoje parto graças a uma autorização especial. Avante 2022”, publicou numa rede social Novak Djokovic.

O número um do mundo procura bater o recorde de conquistas de Grand Slam (20), que partilha atualmente com o suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal, mas antes tem de conseguir provar que é um cidadão que segue as regras como todos os outros.

*com agências