O Futebol Americano em Portugal “está num período de transição”. Quem o afirma é André Amorim, atual selecionador nacional. “O crescimento está a ser mais lento, mas o que se espera é que se crie uma base e uma solidez para o futuro”, antecipa.

“Tem tido as mesmas dores do Futebol Americano na Europa. Quando passa a Federação, quando há uma estrutura grande, decresce o número de clubes. A estrutura para ter uma Federação é muito diferente”, explica Duarte Carreira, antigo presidente da Associação Portuguesa de Futebol Americano (APFA), estrutura responsável pela criação, em 2009, da Liga Portuguesa de Futebol Americano e que esteva na base da Federação Portuguesa de Futebol Americano de Portugal.

Embora admita que não conhece a fundo a realidade atual, a ideia que tem "é que há exigências maiores por se estar ligado a um organismo que tem de cumprir certos requisitos”, sublinha o antigo fundador do Lisboa Devil’s, em conjunto com André Amorim, e atual comentador dos jogos da NFL transmitidos na Eleven Sports (distribuidor de conteúdos desportivos que transmitirá o Super Bowl).

Aponta desde logo uma questão, a de “ter treinadores certificados. Não há um único treinador em Portugal com o grau que é exigível. Há dois que tiraram [formação] fora do país, mas que não são autorizados cá”, reforça. Duarte Carreira recorda ainda que para este desporto não basta um homem só a orientar cada uma das equipas. “O Futebol Americano não é só um treinador. Obriga a ter entre quatro a oito. É, por isso, uma estrutura que demora” a ser criada.

Mas as exigências não se ficam por aqui. “Os dirigentes são obrigados a entregar contas, ter plano de atividades, ter curso. O desporto em si tem mais quotas (jogadores pagam para jogar) do que patrocínios”, acrescenta. “É difícil”, remata.

“Era expectável que um ou dois clubes não conseguissem fazer essa passagem”

Duarte Carreia sublinha o legado deixado pela Associação Portuguesa de Futebol Americano. “Deixámos tudo preparado para se ser uma Federação, e a ideia era deixar uma associação forte que se transformasse numa Federação também forte. Dar aos clubes noções sobre o que fazer quando passassem para a Federação”.

E nesta passagem o risco era assumido. “Era expectável que um ou dois clubes não conseguissem fazer essa passagem e não aguentassem a exigência”, admitiu. O resultado foi a saída de alguns emblemas. “Deixámos de ter tantas equipas a competir no [campeonato] nacional. Havia dez e agora temos sete”, explica André Amorim. “Foi criado um campeonato em paralelo, com 4 equipas, três nacionais e uma galega. E que em vez de disputar uma modalidade de 11x11 joga uma de 9x9”, adianta.

Em relação às equipas na competição debaixo do jugo federativo, “são de norte a sul, sendo que Lisboa e Porto são os Concelhos mais representativos. Temos também Braga e Faro. E uma equipa no Alentejo”, descreve. “Na zona Centro não há nada”, lamenta.

Mais portugueses, mais brasileiros e menos americanos nos campeonatos

No raio-x de quem joga sobressaem duas nacionalidades que falam a mesma língua. “A maioria [dos atletas] são portugueses e brasileiros”, indica. O Brasil teve um crescimento enorme e há brasileiros que usam Portugal como trampolim para irem para outros países na Europa. Ganham o vídeo, o game tape, e seguem para outras ligas mais avançadas”, acrescenta André Amorim. “Hoje em dia, o número de americanos nas equipas nacionais é inferior ao que existia há 4 anos”, acrescenta Duarte Carreira.

À frente da equipa nacional “desde o verão”, a ideia passa por criar um “pequeno desenho” do que se espera que seja a seleção nacional. Um projeto “recente” e em que existe “boa matéria-prima”, assegura o selecionador nacional.

Nas etapas de desenvolvimento, André Amorim recorda o trabalho feito em outubro passado: “trabalhámos a análise de vertentes físicas e atléticas”. Nos próximos meses continuamos com “um trabalho que não se vê — análise de vídeos, comunicações e coaching a nível nacional”. Tudo para que no verão aconteça o “primeiro jogo internacional” e se comece a “criar uma estrutura que possa suportar o crescimento do Futebol Americano”, finaliza.