“O clube é enorme. Eu sei que tenho potencialmente um grande trabalho em mãos”. Foi assim que o treinador português se apresentou nesta conferência de imprensa, que tanto serviu para apresentá-lo como novo treinador do Tottenham, como para fazer a antevisão da partida que a equipa terá já de disputar neste sábado, frente ao West Ham.
O técnico luso, que estava sem clube desde que deixou o Manchester United num clima de acrimónia, em dezembro do ano passado, substituiu o argentino Mauricio Pochettino, que deixa o finalista vencido da última edição da Liga dos Campeões num modesto 14.º lugar da liga inglesa, com apenas três vitórias em 12 jornadas e a 20 pontos de distância do líder Liverpool.
"Não podemos ganhar a Premier League este ano. Podemos, não estou a dizer que vamos, mas podemos ganhar na próxima época", afirmou, perante uma sala repleta de jornalistas internacionais no campo de treinos em Enfield, no norte da cidade de Londres.
No entanto, apesar da situação complicada que o Tottenham atravessa, Mourinho reservou apenas elogios ao trabalho de Pochettino."Não posso chegar aqui e dizer que estava tudo mal com o Mauricio. Nem pensar. Venho apenas tentar perceber porque é que no último ano os resultados na liga inglesa não foram bons e tentar perceber como é que os posso ajudar a alcançar um bom nível", referiu, acrescentando que "pelo trabalho que fez, esta vai ser para sempre a sua casa”.
Mourinho não rejeitou que vai progressivamente adaptar o estilo de jogo da equipa às suas ideias com o objetivo de voltar às vitórias, sendo que o sistema de jogo que irá implementar será “muito semelhante” ao do seu antecessor, procurando “adicionar detalhes”, mas que a forma de jogar tem sempre de ser adaptada “não só à cultura dos clubes, como às características dos jogadores”.
"Quando não ganho, não consigo estar contente, e isso não consigo mudar no meu ADN. Espero conseguir influenciar os jogadores a não estarem satisfeitos sem ganharem jogos", adiantou.
Refletindo sobre as experiências noutros clubes, o português falou da necessidade de os jogadores partilharem dos seus princípios de profissionalismo, empenho, espírito de grupo e respeito pelos colegas, clube e adeptos.
"Se alguém não partilhar estes princípios comigo, então vamos ter problemas e vamos ter sempre problemas. Os jogadores só são grandes quando fazem os outros melhores. Não é possível ser um grande jogador se só pensar em si próprio", argumentou.
Como tal, Mourinho disse que afirmou que não tem lista de Natal para a compra de novos jogadores, não confirmando o alegado interesse no médio português do Sporting Bruno Fernandes. "Não preciso de novos jogadores, estou muito contente com os que tenho. Só preciso de os conhecer melhor", garantiu, acrescentando que eles foram uma das razões que o fez aceitar o convite para treinar o clube londrino. "Tentei comprar alguns deles para diferentes clubes, e alguns nem sequer tentei porque sabia que era impossível", revelou.
Mourinho referiu-se várias vezes à sua humildade, nomeadamente quando fez uma análise sobre a carreira e que uma das conclusões é que não se devem atribuir as culpas aos outros.
"Nas reuniões com os seus assistentes e as pessoas em quem pensei trazer para trabalhar neste capítulo houve sempre este princípio de quem não deve haver mais ninguém a quem atribuir as culpas, devemos ser apenas nós. Foi uma análise que fiz de forma profunda e que foi importante para mim. Não quero aconselhar ninguém a fazer uma pausa, mas foi muito positiva para mim", disse.
O português referiu que os últimos onze meses sem trabalho "não foram um desperdício de tempo", porque aproveitou para analisar e pensar sobre o que fez anteriormente.
"Conclui que, durante a minha carreira, também cometi erros. Não vou cometer os mesmos erros, vou cometer erros novos. Penso que estou mais forte e, do ponto de vista emocional, estou relaxado, estou motivado, estou pronto", afirmou, confessando que esteve a "sorrir durante dois dias" desde que recebeu o convite.
Agora, diz-se preparado, apesar das adversidades. “Eu tinha a sensação de que ia chegar a um clube a meio da época. Eu sabia que estaria numa situação onde só teria um ou dois dias antes do meu primeiro jogo. Não posso vir para aqui e pensar que isto é sobre mim. É sobre os jogadores e ter uma base de estabilidade”, disse.
Já quanto às possíveis críticas por juntar-se a um clube rival do Chelsea, emblema que treinou durante dois períodos distintos, Mourinho disse que as pessoas também o vêem como "sr. Inter, sr. Porto ou sr. Real Madrid" "Eu sou um homem do clube, mas sou de muitos clubes. Eu não sou o Chelsea, o Inter ou o Real Madrid, eu sou todos eles", respondeu.
Mourinho, de 56 anos, assinou contrato com os 'spurs' até 30 de junho de 2023 e volta à ‘Premier League’ depois de duas passagens pelo Chelsea (2004/05 a 2007/08 e 2013/14 a 2015/16) e uma pelo Manchester United (2016/17 a 2018/19), que o despediu em 17 de dezembro de 2018.
Para a equipa técnica convidou o adjunto João Sacramento e o treinador de guarda-redes Nuno Santos, até agora no clube francês Lille, o analista tático Ricardo Formosinho, o preparador físico venezuelano Carlos Lalin e o analista técnico italiano Giovanni Cerra, estes últimos três colaboradores anteriores de Mourinho.
Na sua carreira, o treinador luso, que já venceu duas edições da Liga dos Campeões, uma Liga Europa e uma Taça UEFA, além de oito campeonatos nacionais, também orientou o Benfica, a União de Leiria, o FC Porto, o Inter Milão e o Real Madrid.
O Tottenham enfrenta no sábado o rival londrino West Ham, 16.º colocado na Primeira Liga inglesa, com 13 pontos.
Na ‘Champions’, disputados quatro jogos, os ‘spurs’ ocupam o segundo lugar, com sete pontos, a cinco do líder Bayern Munique, defrontando na terça-feira em casa os gregos do Olympiacos, treinado pelo português Pedro Martins e que só conseguiram até agora um ponto.
*com Lusa
Comentários