Em dezembro de 2023, Francisco Ordonhas sagrou-se vice-campeão mundial júnior do ISA World Junior Championship. Foi campeão europeu da Liga Mundial de Surf (World Surf League) no passado mês de setembro e igualou o feito de Tiago Pires (1999), Vasco Ribeiro (2014) e Teresa Bonvalot, em 2016 e 2017.

Agora, o surfista de Cascais está a disputar o título mundial júnior da WSL, de 2024, na categoria sub-20 e tentar entrar na galeria onde mora Vasco Ribeiro, campeão mundial em Ribeira d’Ilhas, Ericeira, no ano em que conquistou o título europeu e Francisca Veselko, em 2023, em San Diego, Estados Unidos da América.

Ordonhas, 19 anos, é um dos 24 eleitos que está nas Filipinas, na praia de Urbiztondo, em San Juan, a disputar o Mundial Pro Júnior (World Junior Championships 2024), competição iniciada hoje (esta madrugada) e cujo período de espera decorre até dia 19.

O surfista português terminou em segundo no heat 5 (9,60 pontuação) e segue para a bateria de repescagem onde defrontará o australiano Marlon Harrison. O espanhol Kai Odriozola apurou-se para a ronda 16 e o japonêsTenshi Iwami viria a ser eliminado.

“Acho que estou na melhor fase da minha vida, tenho treinado muito, estou super focado”, disse Francisco Ordonhas ao SAPO24 nas vésperas do evento organizado pela Liga Mundial de Surf.

A justificação para o estado de espírito encontra eco nas métricas introspetivas. “Estou a fazer bom surf nos treinos, no ginásio sinto-me bem e psicologicamente não tenho razão de queixa, portanto, está tudo alinhado para conseguir uma boa prestação”, anunciou o surfista que promete voltar a lutar pelo mesmo título em 2025. “Ainda tenho mais um ano de júnior e o meu objetivo será competir este campeonato para o ano, mas, para tal, terei de qualificar-me via europeu”, referiu.

Calculista e exigente

Nos preparativos para o mundial júnior, competição na qual o Brasil soma 9 títulos no masculino e Austrália, 8, no feminino), Francisco Ordonhas não mexeu nas rotinas.

“Foi um bocadinho mais do mesmo, mas também acho que não há muito por onde variar no surf. É manter o ginásio e passar o máximo de horas possíveis na água”, apresenta a receita. “Estive (dezembro) no estágio na Madeira com as Esperanças Olímpicas e o resto foi em Portugal (Continental)”, informa.

Nunca surfou nas Filipinas, local que fará a estreia no mundial sub-20, pelo que viajou uma semana antes do evento “para me habituar”, recordou. “É uma direita difícil, é um bocado mole, e às vezes, rápida”, descreveu a praia palco da 24.ª edição do mundial na categoria masculina e 19.ª no feminino (competição teve início em 2005).

Dar pequenos passos, sem colocar a fasquia demasiado alta, é um caminho que procura seguir quase à risca. “É a melhor estratégia. Se der um passo gigante, pode ser bom, mas também pode correr muito mal. Sou calculista”, assume.

O calculismo não lhe retira a exigência. “Às vezes, sou um bocado de mais exigente comigo mesmo”, refere, um facto que se intromete numa personalidade temperada entre o quente e o frio. “É um bocado difícil controlar essas duas vertentes, mas dá para controlar”, assumiu.

A enorme competitividade e as dificuldades no acesso ao Championship Tour (CT) são obstáculos reconhecidos à frente do sonho de chegar à elite, mas Ordonhas não receia o caminho a percorrer. “Se tiver medo dos melhores surfistas, é meio caminho para perder quando surfar contra eles, portanto, tenho de me focar um bocado em mim e fazer a minha parte”, assegurou.

Terminado o mundial júnior, Francisco Ordonhas prossegue com a prancha debaixo de um braço e a bagagem, no outro, e muda o foco competitivo. “Tenho o Qualifying Series, ainda de 2024”, circuito regional europeu da Liga Mundial de Surf (WSL) que termina em abril. “Ainda restam duas etapas, em Marrocos, e na Costa de Caparica”, anuncia o 28.º do ranking QS. “Depois, a Liga Meo (circuito que atribui os títulos nacionais) e vai ser sempre a andar, sem parar”, finalizou.

Um trio de ajudas e as inspirações na carreira

Francisco Ordonhas não colhe arrependimentos da escolha feita. “Nada arrependido, conseguir fazer esta vida é o sonho de quando era mais novo”, confessa.

Para o concretizar, “treinadores (Nuno Telmo), a minha família e os meus patrocínios”, são um trio de ajudas contribuinte. “São apoios (técnico, suporte e monetário) que fazem muita falta a qualquer surfista, tê-los ao meu lado é uma ajuda gigante e torna tudo um bocadinho mais fácil”, reconhece.

Frederico Morais, que tentará este ano regressar ao Circuito Mundial de Surf e Vasco Ribeiro são outras ajudas e inspirações. “São os dois melhores surfistas portugueses. O Tiago Pires (esteve na elite mundial) ainda cheguei a ver um ou dois anos, mas é diferente. O Kikas e o Vasco são pessoas que temos mais próximas no dia a dia e conseguimos observar melhor”, acrescenta.