Em entrevista à agência Lusa, João Correia, também ele antigo ciclista do pelotão WorldTour, reconheceu que o passado domingo foi inédito para a empresa que representa os dois lusos, a Corso, que celebrou ainda os triunfos dos dinamarqueses Casper Pedersen (Sunweb), no Paris-Tours, e Mads Pedersen (Trek-Segafredo), na Gent-Wevelgem.

“Foi um dia como nunca tivemos tido, ganhámos as três corridas mais importantes do calendário, e o João manteve a camisola rosa. Foi um dia muito especial”, admitiu.

A vitória de Ruben Guerreiro (Education First),em Roccaraso, deixou o agente “super feliz”.

“O meu sócio avisou-me que ele ia a sofrer, só que eu sei, que, como português, ele mostra aquela cara, mas no final vai lá! Eu sabia que não ia deixar escapar a oportunidade, já tinha andado a bater à porta, no ano passado na Vuelta, este ano no Tirreno, e acho que ainda vai surpreender neste Giro, porque quando ganhas neste patamar sentes que és capaz de vencer sempre”, sublinhou.

O ‘clique’ é também válido para João Almeida (Deceuninck-QuickStep), que parte hoje para a 10.ª etapa do Giro com a camisola rosa, depois de sete dias na liderança.

“Não há muito a dizer ao João, ele não está nervoso, está bem. Antes de vestir a camisola rosa, percebemos que estava um pouco nervoso, mas, quando assumiu a liderança, percebeu-se que estava mesmo muito bem, até parece que está no pelotão há muitos anos, que sempre viveu assim”, explicou.

Aos 22 anos, o corredor natural de A-dos-Francos, no concelho de Caldas da Rainha, cumpre a estreia no WorldTour, depois de ter sido campeão nacional de contrarrelógio e de fundo sub-23 em 2019 e vencido a Liège-Bastogne-Liège para sub-23 em 2018, pelo que a preocupação do empresário é que também aproveite a ocasião.

“Queremos que ele desfrute um bocadinho, porque ele só vai passar por isto uma vez, é só desta vez que vai ser surpresa. O talento dele vai ficar conhecido (...). É dia a dia, não se sabe o que vai acontecer, mas cada teste que passar supera as expectativas e, independentemente do que acontecer, vai ter um grande futuro”, sublinhou.

João Almeida detém 30 segundos de vantagem sobre o holandês Wilco Kelderman (Sunweb) e 39 sobre o espanhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), segundo e terceiro classificados, após a tirada triunfal de Ruben Guerreiro, o primeiro português a vencer uma etapa do Giro desde os cinco triunfos de Acácio da Silva, o último dos quais em 1989.

“Conheci os dois através do José Poeira [selecionador nacional de estrada], com quem costumo falar. Ele falou-me no Ruben e levámo-lo para a Hagens Berman Axeon [equipa de sub-23] e o João foi igual, mas mais com acompanhamento do Matxin [Joxean Fernández, diretor desportivo da UAE Emirates], que, há três anos, me disse que era um corredor especial e também foi para a Axeon”, recordou João Correia.

O agente distingue os dois protagonistas lusos na 103.ª edição do Giro: “São completamente diferentes, o Ruben é mais ativo, mais nervoso, e parece um toureiro – ele vem de família de toureiros –, é um corredor superexplosivo. Ambos têm muito talento, o Ruben tem uma explosão que o João não tem, mas o João é superfrio, calmo, como se vê na tranquilidade e descontração dele, na estreia numa Grande Volta”.

Certo de que ambos “vão muito longe”, João Correia destacou o significado de partilhar estes momentos com jovens corredores: “Nós acompanhamos os miúdos desde muito novos, pelo que é muito especial estar ao lado deles quando estão a concretizar os sonhos, é como se fossem os nossos filhos a conseguir esses feitos”.

“Tem-se falado muito da Eslovénia, por causa do Tadej Pogacar, que ganhou o Tour, e do Primoz Roglic, que fez segundo, mas Portugal tem uma grande percentagem de corredores bons em proporção com a população. O que acontece é que os jovens não saem de Portugal, onde há bons programas de sub-23, mas, depois, acabou”, lamentou.

João Correia assegura que Portugal tem condições para colocar entre 10 a 15 corredores nas equipas do WorldTour na próxima década, aconselhando que “as seleções de juniores e de sub-23 estejam sempre a competir no estrangeiro, para os corredores mostrarem o talento e ganharem experiência internacional”, ilustrando, novamente, com os casos dos protagonistas do Giro.

“O Ruben era bom em Portugal, mas subiu logo os limites dele quando começou a correr com os outros. O João já chegou com um currículo diferente, ganhava corridas internacionais, mas se o metes ao lado de outros superiores, o nível sobe”, rematou.