Os problemas que advêm de terminar a Premier League como está são óbvios. Campeão, clubes em zona de despromoção e clubes que lutam por lugares na Europa são posições que terão, de uma forma ou de outra ser definidas. A grande questão é que parece não existir uma forma justa de solucionar o problema.
Depois de, na semana passada, terem suspendido a Premier League até dia 3 de abril, os responsáveis máximos pela competição decidiram agora alargar o prazo para dia 30 de Abril. O que é, em gíria futebolística, chutar a bola para a frente na tentativa de adiar uma decisão que terá, mais cedo ou mais tarde, de vir à tona.
A Premier League não terá condições de terminar esta temporada antes do início da próxima. Não é uma questão de adivinhação do futuro próximo, é uma questão de lógica e, como tem insistido o governo inglês, de olhar para a ciência, neste caso para a matemática. Se as expetativas do governo inglês se tornarem realidade, só no final de maio se conseguirá dar a volta à situação do COVID-19, e esta já é uma visão muito optimista. Além disso Boris Johnson não foi claro na definição de “dar a volta”, não se sabendo se será dar a volta ao número de vítimas e casos identificados, entrando numa fase descendente da curva de casos, ou se será o regresso à vida quotidiana com limitações.
Independentemente disso, nos meses que se seguem, regressar aos convívios sociais a que estávamos habituados antes da propagação do vírus será irrealista. O levantamento da proibição de aglomerações de pessoas não está à vista e será perigoso para uma segunda vaga de propagação. Podemos assim concluir que será muito difícil terminar esta temporada não afetando o tempo de descanso dos jogadores entre uma época e outra e o início da próxima temporada.
O que decidiu a Premier League na sua reunião de emergência?
Não muito, na verdade. O adiamento da data de regresso, a proposta de jornadas a começar de 4 a 6 de abril e o levantar de uma regra fundamental do regulamento da Federação Inglesa. Os estatutos da mesma dizem que qualquer liga de futebol inglesa deve terminar antes do dia 1 de Junho. Sendo esse, de entre todos os cenários, o que é, com toda a certeza, impossível, essa era uma regra que seria previsível ser levantada.
A eliminação dessa barreira acarreta, contudo, outro problema: os jogadores que estão em fim de contrato, muitos deles a terminar no final de junho. A FIFA está em contacto direto com todas as ligas e clubes, para, de alguma formar, resolver também esse problema com, possivelmente, a extensão dos contratos de trabalho durante um certo número de meses.
No fundo, o adiamento e o reforçar da ideia de que a Premier League está a fazer todos os esforços para conseguir terminar esta edição da competição, jogando as partidas que faltam, são as conclusões a retirar desta última reunião de emergência.
Ainda assim, o desporto - e o futebol inglês em particular - reconhece que, acima de tudo, está a saúde pública e que esta será sempre prioritária ao desporto.
Brainstorm: uma proposta para a Premier League
As soluções apresentadas até ao momento passam por:
- Terminar a Premier League, jogando as restantes partidas e adiando o começo da próxima edição; ou,
- Terminar a Premier League não jogando as restantes partidas:
- Anulando a edição deste ano;
- Assumir os lugares actuais como os lugares finais;
- Utilizar um modelo estatístico para determinar as posições finais na tabela*
No que diz respeito à última hipótese, importa referir que este é um modelo estatístico proposto pela FIFA e criado pelo Professor Julien Guyon, que já previu os lugares finais na tabela. O campeão seria o Liverpool com 106 pontos, os lugares de acesso à Liga dos Campeões seriam ocupados por Manchester City, Leicester City e Chelsea. Caso o apelo do Manchester City não tenha resultados práticos e este seja mesmo banido das provas da UEFA, o Manchester United asseguraria a quinta posição e um lugar na Liga dos Campeões. Nesse cenário Wolves e Sheffield United teriam acesso à Liga Europa. Por fim, segundo Julien Guyon, na parte final da tabela nada iria mudar sendo Norwich, Aston Villa e Bournemouth os relegados para a Championship.
Aconteça o que acontecer haverão danos colaterais para uma ou duas edições da Premier League. O que ainda não vimos colocado em cima da mesa é uma solução que, parecendo difícil de colocar em prática, poderá, no final de tudo, ser a mais viável.
Uma solução? "Congelar" a Premie League. A liga deste ano passaria automaticamente para a próxima época e teríamos um hiato de praticamente um ano, sendo as restantes jornadas do campeonato jogadas a partir de janeiro de 2021. Não parece ser a melhor das ideias à partida, mas permitam-me que continue.
Nos prós desta proposta estão o facto de ninguém sair a perder em termos desportivos, com soluções que vão sempre deixar clubes prejudicados, uma vez que nunca conseguiremos prever os lugares finais, ou não daríamos oportunidade a clubes de se colocarem numa melhor posição no campeonato. Outro dos pontos positivos seria que as incertezas diminuíam.
Não se sabendo quando e como o campeonato terá oportunidade de voltar, e tendo em conta que, em qualquer das hipóteses, uma das épocas será afetada, senão as duas, esta solução elimina completamente a edição seguinte da Premier League mas, pelo menos, não desperdiça o trabalho feito pelos clubes na presente temporada. Entre eliminar uma época corrente ou uma que não existe, a segunda hipótese pode ser mais justa.
O grande contra desta proposta seria, obviamente, o parar de atividades durante praticamente um ano (e a possível não inclusão de equipas inglesas em competições europeias, caso estas - e outros campeonatos -regressassem antes da Premier League). Mas tal como as outras opções, não existe uma fórmula para esta solução que não traga com ela problemas. Ajuste nos salários dos jogadores, injeção de capital por parte da Premier League e realização de jogos amigáveis com transmissões televisivas que pudessem ajudar a diluir algum dinheiro para as ligas inferiores poderiam ser exemplos de suporte financeiro para todos.
A sustentabilidade desta ideia teria que ser analisada com cuidado e por quem de direito. Contudo, se olharmos para os cenários que temos pela frente, dificilmente teremos futebol nos próximos meses e os mesmos problemas da solução apresentada será uma realidade para qualquer que venha a ser a solução final.
Sem fim à vista, resta-nos esperar e perceber o que irá acontecer com o desporto e, neste caso, o futebol inglês, nos meses vindouros.
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