O sucesso da França no Mundial russo deste no deu "acesso" aos mais prestigiantes prémios individuais do futebol a Mbappé e a Griezmann, até então sem hipóteses de lá chegar devido à concorrência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. No meio dos festejos e dos feitos, ficou para trás mais um ano em que Neymar não conseguiu tocar nem no The Best nem na Ballon D'Or, começando a ser uma missão contra o tempo a conquista por parte do craque do Paris Saint-Germain de um prémio que está totalmente enraizado na história futebolística do Brasil.

No prémio concedido pela France Football, o Brasil teve cinco vencedores (lembrar que durante largas décadas este prémio só era atribuído a atletas que jogassem por selecções dentro do Velho Continente): Ronaldo Nazário (o "fenómeno") em 1997 e 2002; Rivaldo, Ronadinho e Kaká em 1999, 2005 e 2007 respectivamente, tornando o país sul-americano naquele que, no século XXI, teve mais vencedores diferentes da Ballon D'Or da revista France Football, uma marca do reconhecimento do talento e qualidade dos atletas canarinhos.

E se o The Best só instalou as suas fundações em 2016, já antes a FIFA designava o seu melhor do ano num prémio que cessou a existência em 2008 (capitães e selecionadores votavam nos melhores, até FIFA e France Football unirem esforços num único galardão). Entre 1991 e 2008, o Brasil conquistou por oito vezes o galardão da FIFA, completamente destacado de todos os seus rivais internacionais. Foram eles Ronaldo Nazário (1996, 1997 e 2002), Ronaldinho (2004 e 2005) e Romário, Rivaldo e Kaká em 1994, 1999 e 2007, respetivamente.

Se o "Fenómeno" é um dos maiores vencedores de sempre em prémios individuais (a nível do coletivo faltou-lhe uma Liga dos Campeões, por exemplo), Ronaldinho não fica nada atrás e Romário podia estar com bem mais, não fosse o Ballon D'Or um prémio excessivamente europeu durante o melhor período de forma do "baixinho".

Não esquecer que Pelé não teve a oportunidade de levantar qualquer o FIFA World Best Player, mas os mais de mil golos concretizados durante a carreira, três mundiais, vários prémios como Bota de Ouro e os 7 Ballon D'Or concedidos em 2015 (edição alternativa), colocaram o avançado como o maior jogador brasileiro de sempre, senão o melhor futebolista de todos os tempos.

Ou seja, em 27 anos de prémios (contamos a partir de 1991), o Brasil arrecadou 13 galardões, sobrepondo-se a tudo e todos nestes prémios individuais... ainda que a partir de 2007 nunca mais tenham tido um atleta seu a levantar os tão desejados troféus. A ascensão meteórica de Neymar Jr levou a que muitos vaticinassem que o mesmo se intrometesse na discussão pelo título de Melhor do Mundo entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, uma vez que o avançado formado no "Peixe" estava a apresentar números estratosféricos época após época. Mas a verdade é que tal ainda não aconteceu.

De filho do "Peixe" a "esquecido" dos blaugrana

Entre 2009 e 2013, Neymar fez 136 golos e 50 assistências em 223 jogos pelo Santos, clube pelo qual conquistou uma Copa Libertadores (2011), uma Recopa (2012) e quatro Campeonatos Paulistas. Faltou só o título de Campeão do Brasil, mas os sucessos obtidos entre os 17 e 21 anos criavam uma sensação de regresso ao passado, com o jovem avançado a apresentar traços encontrados em Ronaldo Nazário (condução de bola e o carácter decisivo num 1x1 ou 1x2, para além do instinto "felino"), Romário (conclusão de jogadas seja com o pé ou cabeça e uma presença inteligente dentro da área) e Ronaldinho (a insanidade técnica e capacidade de mexer nos ritmos do jogo com poucos toques na bola).

Como os seus antecessores, Neymar acabou transferido para o FC Barcelona, um clube sempre disponível para dar o maior palanque de todos aos jogadores do Brasil, e que curiosamente teve quase todos os vencedores brasileiros de prémios internacionais a passar por lá. Aos 21 anos, seria a segunda estrela da companhia, "apenas" atrás de Lionel Messi.

Pelos blaugrana, Neymar apresentou melhores registos de golos/assistências que os seus antecessores, com 105 golos e 76 assistências em quase 200 jogos, ficando à frente de Romário (só esteve uma época em Barcelona, conseguindo terminar o ano como o melhor marcador da formação então treinada por Johan Cruyff), Rivaldo (em 5 anos como culé marcou 130 golos), Ronaldo (em uma só temporada marcou quase 50 golos, saindo para o Inter de Milão na época seguinte) e Ronaldinho Gaúcho (207 jogos, 94 golos e 71 assistências) em termos de números.

Contudo, ao contrário dos nomes supramencionados, Neymar nunca foi tão "amado" em Barcelona (e até a nível global), muito devido ao seu estilo de jogo e personalidade muito assentes numa "agressividade" pessoal em superar todos obstáculos, mostrando-se, por vezes, arrogante e excessivamente impaciente. Mesmo comparando com o "baixinho" Romário, que tinha tonalidades de arrogância muito sobressaídas, mas que apesar de tudo tentou sempre apaixonar o público pelo seu futebol genial com pormenores excêntricos e de requinte puro.

Porém, há outro factor que muitos se esquecem de incluir nessa análise: Neymar teve sempre de esgrimir pelo estrelato com colegas de equipa ao contrário do que se passou com o seus "antepassados". Para além de Lionel Messi, Andrés Iniesta e Xavi Hernandez roubavam todo o carinho do público e a atenção de adeptos, ficando o brasileiro reduzido a um papel de "arma secreta mas não insubstituível", o que poderá também explicar a sua saída dos catalães.

O tempo de Neymar foi, de certa forma, "esquecido", apesar do futebol genial que mostrou ao serviço dos blaugrana, com jogadas fenomenais e que proporcionaram uma extraordinária dimensão ofensiva ao Barcelona extraordinária. Era o parceiro certo para Lionel Messi, combinando bem com Luís Suárez, num dos trios mais mortíferos de sempre que passaram pelo futebol europeu e mundial.

A "fuga" inesperada para o Paris Saint-Germain ainda não teve o final desejado, com os parisienses a ficarem longe das finais de competições europeias, apesar de Neymar ter sido campeão francês logo no seu primeiro ano. Em época e meia, o brasileiro já foi responsável por 43 golos e 23 assistências, o que lhe atribui uma taxa de influência de mais de 1 golo ou assistência por jogo, números só ao alcance de... Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

A era dos titãs inultrapassáveis e das novas promessas

Dizer que Neymar nasceu no período errado do futebol ou que se tivesse existido nos anos 90 ou início de 2000 já teria alguns troféus da France Football e FIFA debaixo do braço é simplesmente evitar falar da questão.

A verdade é que o avançado canarinho tem fracassado em alguns momentos fundamentais pela seleção brasileira na sua corrida para o The Best ou Ballon D'Or, como o Mundial de 2014 (o cansaço que adveio de uma época desgastante pelo Barcelona pode ser uma atenuante) ou de 2018 (a lesão sofrida meses antes talvez lhe tenha tirado a capacidade de rasgo e de definição ao longo da competição).

Os números provam que Neymar é o melhor jogador brasileiro desde 2010, não existindo ninguém que consiga depor contra a influência do genial jogador na canarinha. No Barcelona foi um dos desbloqueadores de jogo da Liga dos Campeões em 2015, com 10 golos em 12 jogos, os mesmos que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. E no Paris Saint-Germain já ultrapassou os números e influência de Ronaldinho Gaúcho para além de estar perto de Raí, outro dos símbolos canarinhos na cidade da Luz.

Mas sem um título mundial ou continental conquistado de forma extraordinária, numa equipa em que é principal referência, Neymar nunca conseguirá fugir à pressão deixada por Kaká, Romário, Rivaldo, Ronaldinho, Ronaldo e, claro, Pelé.

Com 26 anos e perto dos 300 golos na carreira, o astro que tem somado títulos por onde passa, marcado dos melhores golos (prémio Puskas em 2011) que já se viram e proporcionado dos momentos mais fantásticos do futebol mundial nos últimos anos, tem ainda dois mundiais para voltar levar o Brasil de volta ao título, bem como mais uns anos para conduzir o Paris Saint-Germain em direcção a um título europeu inédito.

Todavia, em nota final, talvez valha a pena lembrar que há outro "titã" a acordar em Paris: Kylian Mbappé. O jovem francês de 19 anos começa a pisar os calos das lendas atuais e está a pavimentar o seu caminho em direção aos maiores da modalidade. Já conta com um título de Campeão do Mundo, dois títulos em França (o do AS Monaco será para sempre inesquecível) e em 2017 fez parte do melhor onze da Liga dos Campeões.