Os argentinos são apaixonados por desporto. É quase impossível não pensar na Argentina e não associar de imediato os nomes de Diego Maradona, lenda do futebol, ou de Lionel Messi, craque do Barcelona que, a par de Cristiano Ronaldo, é o jogador com mais Bolas de Ouro da história do desporto-rei.
Estes são dois nomes universais, mas ao mesmo tempo só dois de vários exemplos do sucesso argentino no mundo do desporto. É talvez por isso que tenha assentado tão bem a este país a organização dos Jogos Olímpicos da Juventude numa altura em que querem mostrar que são muito mais para além do futebol e que a prática de um desporto, sobretudo de equipa, trás consigo grandes valores.
Foi numa demonstração de fair play que, para assinalar a apresentação da competição em Portugal, o embaixador argentino em Lisboa, Oscar Moscariello, recebeu na sua residência oficial sete atletas, quatro do Sporting CP e três do SL Benfica — Franco Cervi e Eduardo Salvio, dos encarnados, Marcos Acuña e Rodrigo Battaglia, ambos dos leões, além dos hoquistas Carlos Nicolía, que defende as águias, e Matías Platero e Facundo Navarros, dos verdes e brancos. Todos eles, nas palavras de Moscariello, exemplos do “trabalho e disciplina” que fazem dos atletas argentinos a competir em Portugal os “verdadeiros embaixadores da Argentina”.
Cervi ou Acuña? "Podemos ter um de cada lado"
O extremo-esquerdo do SL Benfica foi o porta-voz da comitiva encarnada. Satisfeito com vinda para a Luz, Franco Cervi admitiu o desejo de ser chamado à seleção argentina que vai disputar o Mundial2018.
"Tenho sempre essa ambição, mas há que trabalhar. Não é algo fácil de conseguir, mas é preciso estar tranquilo e dar tudo pelo clube", disse o jogador das águias que se disse "muito contente por ter chegado a um clube como o Benfica". "Nunca esperei chegar a um clube tão grande. Vou dar sempre tudo por este clube. Estamos num momento importante da temporada e temos de trabalhar para dar sequência ao que temos feito nos últimos jogos", sublinhou.
Questionado sobre como é estar ao lado de dois jogadores rivais fora de campo, o atleta, de 23 anos, que chegou à Luz em 2016, proveniente do Rosario Central, relembrou que foi colega de equipa de Battaglia durante 6 meses no Rosario. "Aqui estamos num local argentino e temos de deixar de lado as rivalidades", brincou Cervi.
Já Battaglia mostrou-se "orgulhoso" por representar o Sporting na cerimónia e, referindo-se concretamente aos Jogos Olímpicos da Juventude, que terão lugar em Buenos Aires, em outubro, lembrou que os leões têm "55 modalidades e 149 atletas que vão competir nos Jogos Olímpicos".
Em tom de brincadeira, o embaixador argentino aproveitou para se meter entre águias e leões, deixando um desafio ao selecionador de futebol da Argentina: "Podemos ter um de cada lado. Acuña de um lado e Cervi do outro, mas isso é preciso perguntar a [Jorge] Sampaoli."
Dos bairros fizeram-se academias
Se é verdade que no século XX os maiores craques foram descobertos nas ruas ou nos bairros pobres da América do Sul, a verdade é que a Argentina vive hoje em dia uma mudança de paradigma. Os bairros que "deram à Argentina os mais dotados e talentosos jogadores no caso do futebol", como diz Moscariello ao SAPO24, deram lugar ao nascimento de academias de formação de clubes muito mais desenvolvidas, assim como à proliferação de pequenas escolas que começaram a nascer nos locais mais recônditos à procura da próxima grande estrela do futebol mundial.
O embaixador argentino em Portugal é caso suspeito. Adepto confesso do Boca Juniors e atual Diretor de Relações Internacionais do clube argentino, é testemunha dessa mudança e da abertura do futebol argentino ao mundo. "No caso particular do meu clube, o Boca Juniors, somente no Brasil temos 40 escolas do Boca. E se pensarmos que o Brasil por si só já é um país que gera grandes desportistas, é sinal que o Boca deixou a sua marca e isso é algo importante porque vai trazer mais coisas ao futebol argentino. O Brasil tem muitas coisas que talvez faltem aos argentinos e há outras coisas que os argentinos têm, desportistas talentosos, aguerridos, lutadores... Há exemplos aqui em Portugal disso mesmo, muitos talentos desabrocharam aqui", conta Oscar Moscariello.
O país que não quer ser só futebol, mas que quer continuar a salvar vidas
O sucesso no futebol permitiu aos clubes argentinos investir noutras modalidades. O caso do Boca Juniors é exemplo maior disso com uma distribuição rigorosa e igualitária do dinheiro pelas modalidades, futebol e gestão do clube. "No Boca, os recursos económicos vêm sobretudo do futebol e o pressuposto é que 33% vá para o desporto amador, 33% para o desporto profissional e os outros 33% vão para a organização do clube", explica o embaixador argentino.
O caso do Boca Juniors não é único e os investimentos dos clubes argentinos nas modalidades tem-se vindo a intensificar e tal, na opinião de Moscariello, é bom porque permite atrair mais jovens, algo que vai permitir ajudar outros em situação idêntica dando-lhes valores.
"Cada criança, cada jovem que vai para um clube para praticar desporto é um que é salvo dos perigos a que os adolescentes estão hoje em dia vulneráveis no mundo contemporâneo, como a droga ou a delinquência... O desporto ajuda. Ter a possibilidade de praticar um desporto alheia-os desse tipo de coisas. Dá aos jovens outros tipos de valores", sublinha o embaixador.
Moscariello realça que esse é um dos fatores pelos quais se orgulha mais de o seu país receber estes Jogos Olímpicos, "a incorporação de valores, de disciplina, responsabilidade, de fazer parte de uma equipa, de estar ligado aos outros, de que o perder ou ganhar é secundário".
"O mais importante é simplesmente participar; o ganhar também é importante porque quando o teu clube ganha tu começas a semana de outra maneira, com outra atitude, mas nem sempre todos podem ganhar. E isso é bom porque o futebol dá-te a possibilidade de no dia seguinte ou na semana seguinte de voltar a tentar e triunfar", diz entre sorrisos o embaixador.
A terceira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude de verão (a quinta em termos absolutos) terá lugar na capital da Argentina, entre 1 e 12 de outubro. A competição, que será disputada por 206 países e conta com 28 modalidades, é dirigida a atletas entre os 15 e os 18 anos.
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