Quando se soube que o SL Benfica não iria poder contar com Nuno Tavares e Nicolás Otamendi, para além de Gilberto, Vertonghen, Grimaldo e Diogo Gonçalves sabíamos que os encarnados não iam estar só a disputar um lugar para estar na final da Taça da Liga frente ao Sporting CP, como também a atestar a qualidade do kit de primeiros socorros.
Frente a um Sporting de Braga que já esta temporada derrotou as águias, 2-3 em pleno estádio da Luz, Jorge Jesus, que esta noite esteve praticamente sozinho no banco de suplentes, com a habitual equipa técnica de baixa, apanhada pelo surto de covid-19 no clube - Rui Costa (vice presidente e administrador da SAD), Félix Guerreiro (delegado), Ricardo Antunes (médico) e Cláudio Correia (fisioterapeuta) compuseram o ramalhete possível -, teve de ir aos livros de aulas de primeiros socorros para engendrar uma forma de salvar a defesa dos encarnados despojada dos habituais titulares, e no caso das alas, também dos habituais suplentes.
Em vez de recuperar a última linha da equipa ao ritmo da famosa "Stayin' Alive", dos Bee Gees, o técnico português optou por uma playlist tanto ou quanto duvidosa com sons argentinos (Cervi), brasileiros (Jardel), franceses (Todibo), portugueses (João Ferreira) e alemães, uma vez que não podemos ignorar o facto de Julian Weigl ter durante o jogo encaixado várias vezes entre os dois centrais para fazer uma linha de três, dando assim mais liberdade aos jogadores que atuavam nas laterais. Uma verdadeiro Dj Set de uma festa de boas vindas a estudantes de Erasmus que, tal como qualquer festa de Erasmus, começou muito bem e acabou muito mal.
Se a defesa, que atrás encontrava Helton Leite em vez de Vlachodimos a defender as redes, era totalmente inédita, o mesmo não se pode dizer da restante equipa que com Taarabt, Pizzi, Rafa, Darwin e Seferovic tinha a obrigação de dar tranquilidade à linha estreante.
Já o Sporting de Braga apresentava um onze habitual, dando ainda a 'abébia' aos encarnados de começar com o internacional português Paulinho no banco.
O jogo começou dividido e a todo o gás com uma primeira ameaça dos arsenalistas a obrigar Leite a uma intervenção bem sucedida fora dos postes a que se seguiu uma investida de Darwin, que após receber a bola de Cervi, rematou com força contra as malhas laterais da baliza defendida por Matheus.
Num jogo em crescendo por parte dos encarnados, em que Cervi, Darwin e Todibo brilhavam, os primeiros pela raça, o segundo pela assertividade com que abordava cada lance, quem marcou primeiro foi a turma do Minho. Ricardo Horta cruzou em arco, pelo lado esquerdo, e Abel Ruiz penteou a bola que entrou junto ao segundo poste da baliza defendida pelo guarda-redes brasileiro.
Dez minutos depois, Fransérgio, numa jogada de insistência na sequência de um livre, praticamente sozinho diante da baliza encarnada, atirou de cabeça ao lado. A resposta deu-se por Darwin que três minutos depois atirou com grande estrondo ao poste.
Mas a insistência dos encarnados daria frutos. Em cima do intervalo Cervi colocou a bola no uruguaio que foi carregado nas costas em falta, dentro da grande área, por David Carmo. Castigo máximo assinalado. Pizzi não se fez rogado e, com toda a tranquilidade do mundo, igualou a partida.
O golo dos bracarenses parecia que tinha sido um mero contratempo num jogo em que as águias mostravam estar por cima, sobrepondo-se ao adversário em todos os aspetos estatísticos, colocando-se a 45 minutos de fazer desta crónica uma bela epopeia dos suplentes rumo às opções principais de Jorge Jesus.
Mas uma caixa de primeiros socorros, por norma, é algo que vive num canto da casa, numa gaveta ou num armário raramente abertos, um estojo cuja importância só se revela depois de ser necessário. Se Cervi mostrou-se pronto para responder, sobretudo numa posição onde não era habitual vê-lo jogar, já Todibo mostrou que era um 'penso' fora de validade. Num jogada de insistência aos 59 minutos, Ricardo Horta voltou a cruzar para dentro da grande área, desta feita a partir do lado direito, e Tormena apareceu à vontade nas costas do central francês emprestado pelo FC Barcelona, que cumpria esta noite em Leiria apenas o segundo jogo de águia ao peito, para fazer aquele que viria a ser o golo da segunda vitória da carreira de Carlos Carvalhal sobre Jesus.
Na defesa, a música estava a dar para o torto e 10 minutos volvidos, JJ fez sair Todibo, que já somava demasiados erros, para entrar Ferro que não fez muito melhor no jogo. Não havia tática de primeiros socorros possível para salvar a prestação do último terço encarnado a que Taarabt se tinha juntado, em termos de nível exibicional, terminando a partida sem qualquer ação defensiva.
Jesus mexeu na partida, fez entrar Pedrinho, Chiquinho e Everton Cebolinha e mais tarde Gonçalo Ramos, mas não havia penso que colasse, tal estava desfigurada a equipa que não conseguiu voltar a ser melhor que os minhotos.
O Braga esteve aliás muito perto do 3-1 em duas ocasiões. A primeira aos 70 minutos por Fransérgio que se antes do segundo golo já tinha atirado uma bola à barra na sequência de um canto, desta vez chegou mesmo a fazer golo, antes do VAR o anular por fora-de-jogo, e a segunda aos 90 por Paulinho com um remate potente à entrada da área que permitiu uma grande defesa a Helton Leite.
Aos 90 minutos, Fábio Veríssimo apitou para o final da partida. O Braga garantiu a presença na segunda final consecutiva da Taça da Liga, onde defrontará o treinador que liderou a conquista do troféu na temporada passada, frente ao FC Porto, com uma exibição discreta, mas bem conseguida nos pormenores; e JJ a necessidade de renovar o estojo para uma temporada que, jogada em tempos de pandemia, lhe pode voltar a perturbar as escolhas.
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