“Simplesmente amei correr cada quilómetro desta corrida até agora, por isso sinto que este é o momento perfeito para dizer que esta é a minha última Volta a Itália e que 2023 será a minha última temporada como ciclista profissional”, declarou hoje ‘Cav’, em conferência de imprensa, no último dia de descanso do Giro.

Ladeado pelos filhos e pela mulher, o corredor da Astana mostrou-se emocional e emocionado, recordando que o ciclismo é a sua vida há mais de 25 anos.

“Vivi um sonho absoluto. A bicicleta deu-me a oportunidade de ver o mundo e conhecer pessoas incríveis, muitas das quais tenho o orgulho de chamar de amigos. Adoro a modalidade mais do que possam imaginar e não consigo ver-me muito afastado dela, isso é certo”, garantiu.

Profissional desde 2007, Cavendish começou a dar nas vistas na pista — conquistou três títulos mundiais de Madison e a prata olímpica no omnium no Rio2016 -, mas foi na estrada que se tornou numa das figuras mais proeminentes do ciclismo mundial no século XXI.

“Quando percebes que [a carreira] não dura para sempre, é mais fácil apreciar cada sensação que este desporto te proporciona”, concedeu o ciclista, que já foi terceiro e quarto em etapas desta edição da ‘corsa rosa’.

Recordista de vitórias em etapas na Volta a França (34), a par do belga Eddy Merckx, o britânico foi contratado pela Astana já após o início desta época, depois de ter ficado ‘desempregado’ com o colapso do projeto da B&B Hotels, equipa com a qual tinha assinado contrato para 2023 e que desapareceu por falta de fundos.

O experiente sprinter britânico, que cumpriu este domingo 38 anos, abandonou a Quick-Step Alpha Vinyl no final da temporada passada, uma vez que na equipa belga estava ‘tapado’ pelo neerlandês Fabio Jakobsen, o eleito para a Volta a França.

Após uma carreira com 161 triunfos, Cavendish assinou pela Astana com o objetivo declarado de ‘desempatar’ com Merckx e isolar-se como o mais vitorioso de sempre na Volta a França.

Por muitos considerado o melhor sprinter da história, o britânico é também o terceiro ciclista com mais triunfos em etapas em grandes Voltas, com 53 (tem 16 no Giro e três na Vuelta, além das 34 no Tour), atrás apenas de Merckx (64) e do já retirado ‘sprinter’ italiano Mario Cipollini (57, 42 das quais no Giro).

Campeão mundial de fundo em 2011 e duas vezes vencedor da classificação da regularidade do Tour (2011 e 2021), ‘Cav’ tinha fama de ‘bad boy’ do pelotão no início da carreira — deu cabeçadas em adversários durante os sprints, foi desclassificado por manobras perigosas e insultou jornalistas -, mas, nas últimas temporadas, transfigurou-se.

No final de 2020, de olhar perdido e em lágrimas, chegou a admitir que Gent-Wevelgem teria sido, muito provavelmente, a última prova da sua carreira, depois de uma temporada desastrosa com a Bahrain-McLaren.

Mas a Quick-Step Alpha Vinyl, a equipa na qual foi mais feliz, deu-lhe uma nova oportunidade, e o homem da ilha da Man voltou a viver grandes momentos na bicicleta, com destaque para as quatro etapas que ganhou no Tour2021.

Agora, o atual campeão britânico de fundo, cuja memória fotográfica e QI elevado são sobejamente conhecidos, espera despedir-se do pelotão com a 35.ª vitória na Grande Boucle, um feito que aumentaria ainda mais a sua lenda, mas que o próprio insiste não ser uma obsessão.

“Se tivesse 45 triunfos na Volta a França, ainda iria ao Tour para ganhar. Como se tivesse 18, também procuraria a 19.ª”, concluiu.