As imagens televisivas parecem não deixar dúvidas: por volta dos 70 minutos da partida entre FC Porto e Vitória de Guimarães (e numa altura em que os dragões venciam por 2-1, resultado com que o encontro acabaria por terminar), Moussa Marega, avançado originário do Mali da equipa comandada por Sérgio Conceição, quis abandonar o relvado em virtude de insultos racistas de que estaria alegadamente a ser algo, vindos da bancada do Estádio D. Afonso Henriques, na Cidade-Berço.
Marega, que inclusivamente apontou o segundo golo da partida, foi rodeado por jogadores de ambas as equipas na tentativa de ser acalmado, mas tal não acabou por acontecer e acabou mesmo por abandonar o relvado sendo substituído por Wilson Manafá.
Na sequência do lance, foi também possível ver o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, gritar "isto é uma vergonha" relativamente a situação que levou à saída de Marega (que já atuou pela equipa vimaranense) do recinto de jogo.
No Twitter, o Diretor de Informação de Comunicação do FC Porto abordou o tema questionando a "verdade das competições em Portugal" devido ao facto de os dragões terem sido obrigados a realizar uma substituição devido ao abandono de campo do avançado maliano.
Adicionalmente, na sua conta oficial de Instagram, o FC Porto publicou um vídeo com uma mensagem anti-racismo logo após o final da partida:
Na flash interview (em que os jogadores do FC Porto não participaram), Sérgio Conceição foi perentório. “Quando acontece algo desse género, o jogo passa para segundo plano. Estamos completamente indignados. Sei bem da paixão que existe aqui em Guimarães pelo clube, mas sei que a maior parte dos adeptos não se revê naquilo que sucedeu com um pequeno grupo de adeptos a insultar o Marega desde o aquecimento. Nós somos uma família, independentemente da nacionalidade, altura, cor do cabelo, cor da pele. Somos humanos, merecemos respeito e o que se passou hoje aqui foi lamentável”, afirmou o treinador dos portistas antes de abandonar a zona de entrevistas rápidas.
Do lado do Vitória de Guimarães, o vimaranense André André (que já atuou no FC Porto) não quis comentar, ao passo que o técnico Ivo Vieira, apesar de assumir não se ter apercebido da situação, admitiu que se visse um comportamento inadequado também o condenaria.
Já o presidente do Vitória de Guimarães, Miguel Pinto Lisboa, na sala de imprensa, referiu que o clube vimaranense é uma instituição que "promove a igualdade", assumindo que não se apercebeu de qualquer insulto racista, mas sim de uma "atitude provocatória" por parte do avançado maliano. Contudo, o líder máximo do clube minhoto referiu que condena e não se revê em qualquer comportamento racista, admitindo ainda que os clubes têm de "trabalhar em conjunto" para que o futebol possa ser um espetáculo que traga pessoas ao estádio, assumindo ainda que este tipo de situações "afasta pessoas dos estádios".
No Twitter, o deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro reagiu ao incidente registado no jogo, afirmando que o mesmo "cobre de vergonha o futebol português".
Já Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, utilizou a mesma rede social para condenar o incidente referindo que "racismo não é opinião", "é crime".
Outra das reações foi a do Sporting CP, que em comunicado publicado no seu website manifestou a sua solidariedade com Marega e admitiu não se rever neste tipo de comportamento, considerando, "que as autoridades devem agir em nome de todos aqueles que pretendem elevar o desporto e a sociedade portuguesa".
Infelizmente, as denúncias e casos de racismo no mundo do futebol têm acontecido com alguma frequência nos últimos meses. Em outubro do ano passado, a jogadora norte-americana Shade Pratt, que atua no SC Braga, denunciou a existência de insultos racistas num jogo da sua equipa diante do Cadima, em partida a contar para a Liga BPI de futebol feminino. Lá fora, um dos casos mais recentes foi protagonizado por Taison, jogador brasileiro do clube ucraniano Shakhtar Donetsk (orientado pelo treinador português Luís Castro), que foi expulso numa partida em que reagiu a insultos provenientes da bancada através de gestos obscenos e acabou por abandonar o relvado em lágrimas.
Também Romelu Lukaku, avançado belga do Inter de Milão, foi alvo de insultos racistas numa partida que opôs os milaneses ao Cagliari, após apontar um golo, numa atitude que o avançado considerou como "um passo atrás".
Já em janeiro deste ano, foi também notícia o facto de um adepto italiano ter sido banido por cinco anos de eventos desportivos na Europa em virtude de um caso numa partida de futebol que opôs o Brescia ao Hellas Verona. No referido encontro, o avançado italiano Mario Balotelli pontapeou a bola em direção da bancada na sequência de insultos racistas de que estava a ser alvo, algo que, de resto, se repetiu no início deste ano noutra partida que opõs o Brescia (clube que Balotelli representa) e a Lazio de Roma.
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