23 portugueses, dos quais 12 pilotos e 11 navegadores, estão entre os 807 inscritos da 47.ª edição do Raly Dakar (transmitido em Portugal no Eurosport). Luís Portela Morais, na categoria Challenger (antigos T3), Bruno Santos e António Maio, em moto, perfilham-se na linha de partida para a sexta edição realizada na Arábia Saudita.

400 veículos arrancam esta sexta-feira, 3 de janeiro, no prólogo de 29 quilómetros, em Bisha, no sul do solo saudita, e terminam a mítica aventura de todo-o-terreno 14 dias depois, a 17, na localidade de Shubaytah, fronteira com os Emirados Árabes Unidos, após três dias de percurso nas profundezas do Empty Quarter (Grande Dunas do deserto). Ao todo, 12 etapas cronometradas, num total de 7700 quilómetros, dos quais 5100 km cronometrados. A única jornada de descanso está reservada para dia 10, na cidade de Hail.

“A parte mais difícil de todas é conseguir o orçamento necessário”

À imagem de anteriores participações, na cabeça dos pilotos, a presença na edição seguinte (2025), começou a ser preparada pouco tempo depois do pó assentar na anterior (2024). “Em casa não posso dizer isso”, sorriu Portela Morais, nas vésperas da terceira experiência (7.º em T4, na edição de 2022, ao lado de David Megre e desistiu na 6.ª etapa, em 2017, então ao volante de uma mota) na mais desafiante e mítica prova de todo-o-terreno.

“O Dakar é um vício. Dois dias a seguir de terminar dizemos que não queremos ver aquilo nem pintado, nunca mais, que é um investimento muito grande e é muito tempo fora de casa, mas depois queremos é voltar e começar a preparar tudo de novo”, assumiu na conversa com o SAPO24.

A gestão dos patrocínios é uma autêntica maratona para quem não é piloto de fábrica. “No Dakar, a parte mais difícil de todas é conseguir o orçamento necessário. Tenho a sorte de ter patrocinadores que estão comigo há muito tempo, que me ajudam, dão-me estabilidade, mas só fechei o budget a meio do mês (dezembro)”, recordou. “Para um amador, como a maioria de nós, portugueses, temos de conciliar o trabalho com tudo, é muito complicado”, reconheceu.

O piloto da bp Ultimate Adventure Team enverga o dorsal #320 e fará, de novo, dupla com David Megre ao volante de um G-ECKO, da G Rally Team. “Mais do que tudo, é uma dupla de muito amizade”, catalogou. “Recebi um convite para ir ao Dakar integrado na estrutura da G Rally Team e serei o primeiro piloto a estrear este carro novo”, revelou Luís Portela Morais.

2024 foi um ano que deixou algumas marcas pessoais. “Tive um problema de saúde que me fez ficar afastado até agora. Tive alta médica há 16 dias (início de dezembro) para poder voltar a competir. Atrasou um bocadinho o processo, não estou na melhor forma física, mas estou bem”, confessou.

“O Dakar é também uma fuga, é ultrapassar-nos física e mentalmente. Estou preparado para sofrer e superar-me a mim próprio, que é uma coisa que gosto de tentar fazer”, acrescentou Luís Portela Morais, antigo jogador de râguebi e uma carreira profissional feita no setor segurador.

Os olhos da dupla Portela-Megre estão fixos na chegada à meta no dia 17. “O meu objetivo é apenas acabar, evoluirmos o carro, que é um carro novo”, sublinhou. “Não estou em condições físicas para pôr o meu objetivo sem ser acabar”, reforçou.

“O Dakar tem muitos riscos, tem tantos de acidentes, como de avarias. Um profissional pode pôr objetivos; no resto, o objetivo único que uma pessoa tem de ter é acabar e terminar sem problemas e sem sofrer muito”, realçou. “Espero que a minha experiência e do David consigam ultrapassar estas coisas mais facilmente”, disparou.

“Temos de ser poupados, sermos tudo e um one man show”

A participação de Bruno Santos no Dakar 2025 começou a ser preparada 15 dias depois do fim da aventura anterior.

“Basicamente, é uma preparação desde o último Dakar. Após duas semanas de pausa, começámos a trabalhar, muitas provas ao longo do ano em que tivemos mais capacitação física do que no ano anterior e melhor preparação dos meios na moto”, destacou o piloto amador.

Diário de Bruno Santos. Dia #1:  "Espera-se um Dakar muito duro"
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“Do que conseguiu experienciar no Dakar passado, deu para perceber o que precisava e onde podia evoluir, nomeadamente o nível da ciclística, em especial das suspensões da moto”, frisou o piloto que parte em cima de uma Husqvarna 450 Rally. “Acho que tenho uma moto muito melhor hoje em dia do que no ano passado”, anotou.

Nos preparativos para a odisseia por entre dunas e pedras, uma das grandes dificuldades prende-se, ano após ano, com a angariação de patrocínios que garantam a presença na linha de partida. “É algo que dá muito trabalho e preocupa bastante. Ao longo do ano consegui trabalhar a comunicação e captar aquilo que é necessário”, recordou. “Confesso que já estávamos a ficar cada vez mais próximos do fecho das inscrições e ainda não tínhamos a certeza total desses recursos, mas foi possível”, suspirou.

Um caminho no limbo que não constitui novidade. “Há sempre essa incerteza e é bem diferente dos pilotos de fábrica que não têm essa preocupação e têm essa parte sempre toda assegurada”, comparou.

O piloto de Torres Vedras gere a angariação de patrocínios, edição de redes sociais e comunicação. “Temos de ser poupados, sermos tudo e um one man show”, gracejou na conversa com o SAPO24. “Claro, que temos algumas ajudas aqui e ali, várias pessoas em vários campos, não seria possível de outra forma, mas temos de estar a coordenar tudo e garantir que tudo bata certo”, avisou o dorsal #35.

Segundo classificado entre os rookies da edição 2024, Top-30 absoluto (28.º na geral), este ano o objetivo é subir na classificação e estar o mais próximo possível da linha da frente. “Enquanto piloto não profissional a ideia é competir com os melhores, estamos sempre num patamar um bocadinho diferente, não temos os recursos técnicos, nem os meios ao longo de todo o ano para poder encarar da mesma forma, mas dentro do que temos, estamos muito contentes e satisfeitos por competir e dar luta”, disse.

Representação Lusa no Dakar

Quantas equipas têm portugueses?

São 13 as equipas portuguesas que se apresentam para a 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, em quatro categorias diferentes.

Ao todo, Portugal apresenta uma equipa nos automóveis, três nas motas, sete nos Challenge e duas nos SSV. A estas equipas em competição juntam-se mais dois navegadores e um regresso, o de Paulo Marques, mas na vertente M1000, uma categoria extra-competição para veículos com energias alternativas.

Nos automóveis, apenas João Ferreira, navegado por Filipe Palmeiro, num Mini da X- Raid, participam na categoria principal (Ultimate) e com o desejo de terminar no top-10.

Também a equipa oficial da Honda é gerida por um português, no caso o algarvio Ruben Faria.

Em que categorias há mais portugueses?

As categorias reservadas aos veículos ligeiros são as que reúnem mais equipas portuguesas na 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, que decorre entre sexta-feira e 17 de janeiro, na Arábia Saudita.

Ao todo, são nove as equipas lusas divididas por estas duas categorias, as antigas T3 e T4, com sete nos Challenge e duas nos SSV, incluindo alguns dos nomes mais promissores do todo-o-terreno nacional.

É na categoria Challenger que reside o maior contingente luso, com sete equipas.

Na classe SSV estão mais duas equipas lusas.

Bruno Santos olha para o mapa (roadbook) da mais mediática competição do todo-o-terreno a nível mundial e traçou comparações e diferenças de uma edição para a outra. “Este ano, o percurso começa a Este do país, sobe mais a Norte e termina mais a Sudoeste, na zona do Empty Quarter. Portanto, a grande diferença é que vamos ter as etapas finais na zona das Grandes Dunas, no deserto”, analisou o piloto que abraça o projeto “Da Terra para o Mundo”.

A etapa de 48 horas é outra diferença “No ano passado, foi sensivelmente a meio e este ano será na etapa 2 e, logo de seguida, teremos a etapa maratona”, destacou.

“Vão ser dias muito duros, vamos andar em zonas duras de pedra, numa zona do país mais rochosa, mais perigosa e que no ano passado fez muitas baixas”, relembrou Bruno Santos que parte para a segunda aventura no Dakar, depois de ter falhado a edição de 2022 devido a um “acidente no Rally de Marrocos de 2021”, que provocou o adiamento da estreia no Dakar.

Meia dúzia de Dakares para o Major António Maio

Para António Maio será a sexta experiência. “Vou participar no meu sexto Dakar (2019 em Lima, Peru, e 2020, 2022, 2023 e 2024 no Médio Oriente). É um grande orgulho estar uma vez mais à partida da maior corrida de todo-o-terreno do mundo”, referiu o Major da Unidade Nacional de Trânsito da GNR.

O piloto da Yamaha enfrenta o território saudita ao volante de WR450F Rally com o objetivo de “melhorar as prestações anteriores”, confessou. “A minha grande ambição é atingir o Top-15 e vou lutar para alcançar os meus objetivos”, apontou António Maio, que tem como meta repetir o primeiro lugar dos pilotos não profissionais.

No palmarés, Maio alcançou o melhor resultado (18.º) no ano passado, foi Top-30 em 2022 (21.º) e 2020 (27.º) e não terminou em 2019, ano de estreia, e em 2023.

“Ao longo dos dias na corrida vamos ter muitas peripécias, mas é a resiliência que demonstramos em cada etapa que nos permite evoluir”, finalizou o militar das duas rodas.