"Seria importante ter provas de onde ela está e saber se está bem. Solicitamos veementemente que uma investigação seja realizada com total transparência sobre as suas acusações de agressão sexual", declarou uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Liz Throssell, durante uma conferência de imprensa em Genebra.

"Pedimos uma investigação com total transparência. Isso deve ser o caso para todas as acusações de agressão sexual", insistiu Liz, destacando que "as agressões sexuais existem em todas as sociedades".

Peng escreveu nas redes sociais, em 2 de novembro, que foi forçada a ter relações sexuais, apesar das repetidas recusas, por Zhang Gaoli, um ex-vice-primeiro ministro e membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista, a cúpula do poder na China, que de 2013 a 2018 foi um dos sete políticos mais poderosos do país.

Ela escreveu que a esposa de Zhang ficou de guarda à porta durante o incidente. Na mesma mensagem, Peng apontou que, depois daquele primeiro encontro, passou a sentir algo por ele. A mensagem foi removida poucos minutos depois e a imprensa chinesa, que está submetida à censura exercida pelo regime, não referiu o assunto.

"Queremos enfatizar que é importante saber onde ela está, em que estado está e como está", repetiu Throssell.

Nos últimos dias, várias personalidades do ténis mundial expressaram a sua preocupação com Peng Shuai no Twitter, usando a hashtag #WhereIsPengShuai. A norte-americana Serena Williams, o sérvio Novak Djokovic e a japonesa Naomi Osaka, entre outros, expressaram publicamente a sua preocupação em relação à situação de Shuai.

O presidente da Associação de Ténis Feminino (WTA), Steve Simon, admitiu na quinta-feira à CNN estar disposto a suspender as competições na China se o desaparecimento de Peng Shuai não for investigado de forma completa e adequada.

“Estamos totalmente preparados para retirar [da China] todas as nossas atividades e enfrentar as complicações que surgirem”, disse o presidente da WTA, organismo que tutela o circuito de ténis profissional feminino.

Steve Simon, que já tinha demonstrado preocupação pela incerteza do paradeiro e segurança de Peng Shuai, após esta ter acusado um antigo vice-primeiro-ministro chinês de violação, frisou que “as mulheres devem ser respeitadas e não censuradas”.

Apesar do desaparecimento, Peng Shuai terá alegadamente passado uma mensagem aos órgãos oficiais chineses, garantindo estar bem. De acordo com a alegada mensagem enviada por Peng a Steve Simon, difundida agora na página da televisão estatal chinesa CGTN na rede social Twitter, a tenista garantiu estar “bem e a descansar”.

“Não estou desaparecida. As alegações de abusos sexuais não são verdadeiras. Estou a descansar em casa e estou bem. Obrigado pela sua preocupação”, lê-se na mensagem atribuída a Peng.

Steve Simon afirmou, em comunicado, que a alegada carta divulgada pela CGTN apenas aumenta as preocupações sobre a segurança e o paradeiro de Peng.

“É difícil acreditar que Peng Shuai escreveu aquela mensagem que recebemos ou que lhe pode ser atribuída. Peng revelou grande coragem ao descrever as alegações de abuso sexual contra um alto quadro do Governo chinês. A WTA e o resto do mundo precisam de obter evidência verificável de que ela está segura. Tentei contactá-la de várias maneiras, mas sem sucesso”, disse Simon.

Entretanto, as autoridades estatais chinesas dizem desconhecer o caso. Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse em conferência de imprensa que o assunto “não é uma questão diplomática” e que não está ciente da situação. O ministério, de resto, tem rejeitado consistentemente ter conhecimento do problema, desde que se tornou um tema na imprensa internacional esta semana.

Peng, de 35 anos, é uma ex-jogadora do ranking de duplas femininas que conquistou títulos em Wimbledon, em 2013, e no The French Open, em 2014.

Ela também participou em três Jogos Olímpicos, tornando o seu desaparecimento ainda mais proeminente, numa altura em que Pequim se prepara para sediar os Jogos de inverno, a partir de 4 de fevereiro.