No dia 5 de março de 2016, os adeptos do Benfica faziam olhar desconfiado depois de ver o onze inicial dos encarnados para o dérbi frente ao Sporting, em Alvalade.

Para aquele que era considerado "o" jogo do campeonato, no primeiro terço do terreno surgia um nome pouco conhecido dos adeptos: o guarda-redes Ederson Moraes. O guardião brasileiro, que tinha chegado naquela época à Luz — tendo já no passado cumprido parte da sua formação de águia ao peito —, tinha apenas atuado, até então, em 4 jogos da equipa B e na Taça da Liga.

Júlio César, senhor e imperador dos postes da Luz, não ia a jogo, e as redes do campeão nacional em título estavam entregues a um ‘miúdo’ de 22 anos.

Quando o apito final anunciou o fim dos 90 minutos, o Benfica não tinha só ganho o jogo — e meses mais tarde, o campeonato — como tinha ganho também um guarda-redes para o futuro.

Rui Vitória viu isso mesmo e não mais lhe tirou a titularidade, mesmo quando Júlio César recuperou da lesão.

Desta data até ao dia em que Ederson encantou Pep Guardiola foi exatamente um mês.

No dia 5 de abril, o Benfica defrontava o Bayern Munique, clube comandado, na altura, pelo técnico espanhol. Nos embates na Alemanha e em Lisboa, Guardiola não ficou indiferente à velocidade com que Ederson saía dos postes, à coragem com que saía aos pés dos avançados e, sobretudo, ao pontapé ‘canhão’ do brasileiro, que era capaz de transformar um simples pontapé de baliza numa situação de ataque.

Depois de uma época de estreia na Premier League aquém do esperado — pela primeira vez o treinador espanhol não conquistou qualquer título numa temporada, desde que é técnico principal —a baliza foi identificada como um dos principais problemas.

Primeiro foi Joe Hart, guardião dos citizens há vários anos e que ‘viveu’ entre os postes do Etihad Stadium durante a liderança de vários timoneiros como Roberto Mancini e Manuel Pellegrini. Após um Europeu em que ficou mal na fotografia em algumas situações, e não encaixando no perfil de guarda-redes pretendido por Pep, o inglês acabou por ser emprestado ao Torino, de Itália.

O sucessor de Hart vivia em Camp Nou: da Catalunha para as terras de Sua Majestade, Claudio Bravo saiu do Barcelona para defender as redes dos citizens, mas as suas exibições não convenceram nem Guardiola, nem os adeptos.

A baliza do clube de Manchester acabou per ser repartida, durante a época, entre Bravo e o guardião veterano argentino Willy Caballero.

Para a próxima época as soluções passam por Ederson e Bravo, que vão disputar a titularidade, uma vez que Caballero já foi dispensado.

Aqui ficam os números que o brasileiro ‘carrega’ às costas da Luz para o Etihad:

156

Ederson Moraes reparte a sua carreira de sénior por quatro equipas diferentes. Após ter saído dos escalões de formação do Benfica, aos 17 anos, o brasileiro ingressou no Grupo Desportivo de Ribeirão, clube de Famalicão que, na altura (época 2011/12), militava na II Divisão B. Por lá ficaria uma temporada antes de rumar ao Rio Ave, emblema onde ficaria durante três épocas, antes de regressar à Luz. De volta a Lisboa, representaria a equipa B das águias e, por fim, a equipa principal. Por todas essas equipas, Ederson fez 156 jogos.

4

Quatro é o número de internacionalizações que Ederson tem pelo Brasil. No entanto, o guardião nunca jogou pela seleção A. Fez três jogos pela seleção olímpica e um pela de sub-21. No final da temporada passada esteve perto de representar o seu país na Copa América, mas uma lesão no período de preparação levou a que Dunga, o selecionador nacional da altura, o dispensasse.

0,67

Durante o período que esteve no Benfica, Ederson realizou 58 jogos oficiais pela equipa principal em duas temporadas de águia ao peito, tendo sofrido um total de 39 golos. As contas dão uma média de 0,67 golos sofridos por jogos.

0,53

 

O Benfica foi a equipa que terminou o campeonato com a melhor média de golos sofridos entre as 6 maiores ligas europeias: 0,53 golos concedidos por jogo. Uma média que coloca a defesa dos encarnados entre a elite europeia e pela qual Ederson divide responsabilidades com Júlio César e a restante defesa encarnada.

1

Os números entre os postes impressionam, mas o conhecido pontapé ‘canhão’ do guardião faz com que também tenha influência no ataque. Esta época essa característica atingiu o seu cúmulo com uma assistência para golo. Aconteceu na penúltima jornada do campeonato, frente ao Vitória de Guimarães, no jogo do título. O Benfica precisava de ganhar para garantir a conquista antecipada da liga. Os encarnados acabariam por vencer por 5-0. Ederson deixava a sua marca na ficha de jogo com uma assistência para o golo de Raúl Jieménez, o segundo da partida.

4

Para Manchester, Ederson leva um palmarés de Lisboa composto por 4 títulos. Ao serviço do Benfica o guardião brasileiro conquistou dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga.

40

Este é o número, em milhões, que faz do brasileiro o segundo guarda-redes mais caro da história do futebol. Só a transferência de Buffon do Parma para a Juventus suplanta a venda de Ederson para o Reino Unido.

20

Nos cofres da Luz só entrarão vinte milhões de euros, uma vez que 30% do passe era ainda detido pelo Rio Ave — o clube de Vila do Conde vai receber 12 milhões de euros — e os restantes 20% pela Gestifute, empresa de agenciamento de carreiras desportivas de Jorge Mendes, que receberá 8 milhões de euros.

2

Ederson é o segundo guarda-redes a sair diretamente do Benfica para o top-10 dos mais caros do mundo, nesta década, depois da venda de Oblak ao Atlético de Madrid por 16 milhões de euros (o 7.º mais caro de sempre).

3

Ederson é o terceiro brasileiro a integrar o plantel do Manchester City na próxima temporada. Irá fazer companhia ao médio Fernandinho e ao avançado Gabriel Jesus.

4

O antigo guardião encarnado é o 4º guarda-redes brasileiro a participar na Premier League. Ederson sucede assim a Júlio César, antigo colega de equipa, Gomes, atual guarda-redes do Watford, e Doni, que vestiu as cores do Liverpool na temporada 2011/12.