Mais de dois meses depois, Özil decidiu responder, em comunicado, à polémica em torno da fotografia que tirou com o presidente turco Erdogan, numa altura em que este se encontrava em campanha eleitoral. A imagem deixou o jogador da seleção alemã debaixo de fogo, reacendendo o debate em torno da integração dos filhos de imigrantes na Alemanha. Na terceira parte do comunicado, o jogador anuncia sair da seleção alemã enquanto não houver mudança neste tema.
"O tratamento que recebi por parte da Federação alemã faz com que não queira vestir mais a camisola da seleção. Sinto-me indesejado e sinto que tudo o que conquistei desde a minha estreia, em 2009, foi esquecido. (...) É com o coração pesado que anuncio que, devido a estes eventos, não vou voltar a jogar pela Alemanha a nível internacional, pelo menos enquanto tiver este sentimento de racismo e desrespeito", referiu.
"Costumava usar a camisola alemã com orgulho e entusiasmo, mas agora não. Esta decisão foi extremamente difícil de tomar, porque dou sempre tudo pelos meus colegas de equipa, pela equipa técnica e pelas boas pessoas da Alemanha", acrescentou Özil.
Ao longo da terceira parte do comunicado, Özil critica também o comportamento do presidente da Federação alemã, Reinhard Grindel. "Quando tentei falar com Grindel sobre a minha herança cultural, sobre a minha história, ele estava mais interessado em falar sobre as suas crenças políticas", começou por dizer o jogador. "Não vou continuar a ser um bode expiatório para a incompetência de Grindel. Sei que me queria fora da equipa depois daquela fotografia [com Erdogan] e disse isso mesmo nas redes sociais, mas Joachim Low defendeu-me. Aos olhos de Grindel, sou alemão quando ganhamos e um imigrante quando perdemos".
Sobre este assunto, o jogador atira uma questão. "Eu nasci e fui educado na Alemanha, então porquê que as pessoas não aceitam que sou alemão?".
No fim do comunicado, Mesut Özil refere que toda a situação o transformou em "propaganda política", mas que agora isso chegou ao fim. "Não é por isto que eu jogo futebol e não vou ficar sentado sem fazer nada quanto a isto. O racismo não deve, nunca, ser aceite".
Özil, que joga no Arsenal desde 2013, foi muito criticado na Alemanha pela sua performance abaixo do esperado, tendo inclusivamente sido apontado como um dos motivos do fiasco da campanha alemã no Mundial da Rússia.
Antes, o jogador viu-se envolvido, desde meados de maio, numa polémica fora das quatro linhas por causa das fotografias tiradas, ao lado de outro jogador da seleção alemã, Ilkay Gündogan, com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que estava, à data, em campanha eleitoral — tendo visto o seu mandato reforçado a 24 de junho, depois de obter mais que os 50% de votos necessários para ser eleito à primeira volta.
Özil e Gündogan encontraram-se com Erdogan em Londres e as imagens provocaram acusações de que os dois não respeitavam os valores alemães. Özil optou por permanecer em silêncio até agora, apesar das críticas que recebeu, inclusive num primeiro momento por parte da Federação Alemã de Futebol (DFB).
O tema ganhou um caráter político e gerou uma grande controvérsia sobre a imigração e a integração dos filhos de estrangeiros na Alemanha, alimentada em grande parte pela extrema-direita.
Parte dos adeptos alemães passaram mesmo a vaiar os jogadores antes e durante o Mundial de Futebol na Rússia. O treinador de guarda-redes da seleção, Andreas Köpke, disse que Özil foi insultado por um adepto quando deixava o relvado após a partida com os sul-coreanos, por exemplo.
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