A 51ª final Super Bowl colocou frente a frente os Atlanta Falcons e os New England Patriots no estádio NRG, em Houston. Há pelo menos quatro momentos, tantos quantos os períodos de tempos de 15 minutos em que se prolonga, que prendem e prenderam a atenção no jogo que enlouquece os Estados Unidos da América. E não deixou Lisboa indiferente.
O Palácio Chiado, em Lisboa encheu-se de “malucos” do futebol americano. Joey Bradley, antiga estrela do futebol universitário, quarterback e Collin Francklin, antigo jogador da NFL (Tampa Bay Bucanners e New York Jets) são dois americanos que jogam na equipa portuguesa Lisboa Devils. E esta madrugada, lá estavam, entre a multidão, a acompanhar a grande final que se tornou histórica. Escolheram Portugal para continuar a atirar a bola, a correr “jardas” e a fazerem “thouchdowns”.
Vamos ao ritual. Tudo começa no hino (cantado por Luke Bryan) e em ver quem atira a “moeda ao ar”, responsabilidade, desta vez, do ex-presidente George Bush (pai). Ao intervalo, o concerto (Lady Gaga), e, no final, saber quem ganhou. Pelo meio, o Super Bowl é o jogo dos milhões: na televisão e nos valores de publicidade, chegando aos 5 milhões de euros por cada 30 segundos desembolsados pelos anunciantes.
Nesta modalidade que tantos não compreendem, mas com um número de fãs, crescente, o pique é mesmo o Super Bowl.
Joey e Collin querem ajudar ao crescimento do futebol americano em Portugal
Finalizado o percurso e o campeonato universitário, Joey escolheu Lisboa para viver. Porquê? “Os meus amigos que já tinham vindo à Europa diziam que “Lisbon is the best” (Lisboa é a melhor). Arrisquei e vim. Portugal não é segundo, no meu caso, foi primeiro (ri numa alusão ao vídeo que se tornou viral nos últimos dias em resposta ao “America first” de Donald Trump, presidente dos EUA).
Embora reconheça que o futebol americano “está a crescer em Portugal”, adverte que ninguém deve esperar que seja “rápido”. Isto porque é “caro”, quando no “outro” futebol “basta uma bola e dois paus para uma baliza” e também, admite, porque é “difícil” de entender. Adepto dos Seattle Seahawks vive esperançado que um dia os portugueses “fiquem cansados de futebol”.
Colega de equipa, Collin Francklin, antigo jogador da NFL informou-se também ele junto de amigos que já tinham jogado na Europa. E não hesitou. “Escolhi Portugal”, sublinha sorrindo igualmente com a analogia à frase do Donald Trump. “Viajar foi o primeiro interesse. O futebol vinha seguir”, refere enquanto é efusivamente cumprimentado por colegas. Reconhece que de início, olhavam para ele como “herói”, mas que tal rapidamente evoluiu para outro estatuto: “somos amigos”. No clube tem uma “espécie de trabalho” porque a equipa “trata das minhas despesas, casa e comida”. A música é outra das suas paixões em que “Lisboa serve de inspiração para “produzir, escrever e cantar”.
O blogger e o português que viveu na América
João Lontrão é português, mas fez-se homem nos Estados Unidos da América, onde viveu quase metade da vida, dos 10 aos 30. É esse pormenor que explica o gosto por “todos os desportos americanos”. É adepto dos New England Patriots - a equipa que acabou por ganhar a final histórica desta madrugada - o que se explica pelo facto de este ter sido o local da sua última residência nos EUA.
Diz gostar mais do futebol universitário, porque “os jogadores dão tudo, a carreira é curta, e poucos são aqueles que seguem a profissionalização”. Em Portugal, acompanhava os jogos pela ESPN e agora limita-se a ver na internet. Quando estava nos Estados Unidos recorda que ouvia, ao lado do pai, “os relatos” do outro futebol que diz gostar, ele que também é do Sporting Clube de Portugal.
Da cabeça de André Novais de Paula nasceu a ideia de criar um blog sobre futebol...americano (futebolamericano.eu). Vestido a rigor com a camisola branca dos Green Bay Packers, com Rogers escrito nas costas, explica que audiência começou primeiro em Portugal, mas que rapidamente cresceu para o Brasil, que hoje domina as visitas. O facto de Tom Brady ser casado com a modelo brasileira Gisele Bündchen pode ajudar a explicar a popularidade crescente na terra de Pelé ou Neymar, astros do futebol.
Assumindo que “não gosta nem vê futebol (soccer)” reforça ainda que tem “amigos que se desapaixonaram do que se passa ao redor do nosso jogo de futebol”. Ao invés, o “futebol americano tem outra mentalidade e os americanos fazem valer o que se passa dentro de campo o que acaba por contagiar”.
O sonho americano, o marido de Giselle, Lady Gaga e a previsão de Trump
As mais de 50 pessoas presentes na madrugada de hoje no Chiado "vivem" a cultura americana. Comiam, bebiam e conversavam enquanto o jogo decorria. Muitos tinham camisolas dos clubes de eleição. O branco dos Patriots e o encarnado do Lisboa Devils destacavam-se.
Os anúncios na televisão são tantos que alguns acabaram por prender a atenção da plateia. Entre eles, o do gigante das cervejas, Anheuser-Busch, que adquiriu vários segundos do Super Bowl LI detendo, este ano, na 29ª aparição, a exclusividade dos anúncios de álcool que promoveram a Budweiser, Busch e Bud Light. A marca de cerveja falou sobre imigração e o sonho americano. Dedicou 60 segundos para fazer spinning de um conto épico sobre a cerveja Budweiser, as origens e o fundador da empresa, Adolphus Busch, colocando o foco na América e o sonho americano.
Na antevisão a Budweiser tinha dito que o anúncio tinha a mensagem de “não desistir das crenças e dos sonhos” e que dado os ventos recentes que sopram de Washington, talvez, o anúncio seja facilmente interpretado como uma declaração política em que recorda a história da imigração do fundador da empresa, Adolphus Busch, destacando como venceu a discriminação e conseguiu o sucesso quando emigrou de Hamburgo, Alemanha, para Nova Orleães, em meados do século XIX, criando a rainha das cervejas.
O intervalo, tempo que é rei desta noite longa, prendeu igualmente a atenção de quase todos na sala. Lady Gaga foi a razão para quem estava pé e com o copo na mão. E quando se esperava escutar uma declaração política, esta veio mais em forma das músicas que compõem o repertório.
Fim da música, 3º período e reinício de jogo. E a história estava preste a escrever-se. Os Falcons chegaram aos 28-3, numa sala que estava dividida no apoio, embora alguém confidenciasse que nos Estados Unidos eram das equipas “mais odiadas”. Aos poucos os portugueses vão saindo, o americano Collin também ... até que a história começou a ser escrita. A segundos do final.
Recuperação histórica, num histórico e nunca visto prolongamento do Super Bowl que culminou numa vitória dos Patriots (34-28) quatro horas depois de ter começado o jogo. E Tom Brady entrou também ele para a história estatística como o primeiro quarterback a conquistar 5 Super Bowls e a ultrapassar Joe Montana ao ser eleito MVP (melhor jogador) pela 4ª vez.
A metade da sala que sobrava foi ao rubro. Joey ficou contente pela vitória de Brady. O blogger André Novais de Paula nem por isso. E para os New England Patriots foi uma noite do sonho americano. Tal como o descrito na publicidade da Bud. Ah... e para Donald Trump também. É que o presidente americano tinha previsto a vitória da equipa.
(Notícia corrigida às 15h34 de 7 de fevereiro de 2015: Correção no nome da equipa que André Novais de Paula apoia)
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