Na terça-feira, quando Pierre-Emerick Aubameyang renovou contrato com o Arsenal, duas coisas aconteceram. A primeira foi a de que Auba, como é conhecido o capitão dos Gunners, passou a ser o jogador mais bem pago da Premier League, a segunda foi que ficámos a saber o tamanho das ambições deste novo e renovado clube e como este está disposto a fazer tudo para as alcançar.

Para percebermos a magnitude desta renovação, Aubameyang passou a auferir mais 50 mil libras por semana - aproximadamente 55 mil euros - e melhorou ainda os bónus em caso de titularidade, golos marcados, assistências, melhor em campo, etc… Ou seja, o avançado gabonês passa a ganhar mais de 350 mil libras semanais - valor a rondar os 400 mil euros -, um número que o coloca acima dos, até então, mais bem pagos jogadores da Premier League Mesut Özil (Arsenal) e David De Gea (Manchester United).

Auba, de 31 anos, que marcou um dos golos que deu ao Arsenal uma confortável vitória por três bolas a zero frente ao Fulham no fim de semana passado, disse: “Quero tornar-me uma lenda do Arsenal, assim como Thierry (Henry), (Ian) Wright, (Tony) Adams e (Dennis) Bergkamp. Quero deixar o meu legado, é aqui que pertenço. Esta é a minha família. Temos algo excitante aqui e eu acredito que o melhor ainda está para vir."

Vermos um clube de topo que renova com o seu capitão, que vai ao mercado de forma precisa, que não deixa sair nenhum outro jogador importante e continua a estar na corrida por mais contratações até ao final da janela de transferência - que termina a seis de outubro, prolongando-se durante mais 10 dias para negócios exclusivamente feitos entre equipas inglesas - não deveria ser novidade. E normalmente não o é, caso não estejamos a falar do Arsenal. O clube contratou Mikel Arteta na temporada passada com o objetivo de dar um passo em frente, e imediatamente conquistou a Taça de Inglaterra e a Supertaça, eliminando vários grandes ingleses no caminho. Estes Gunners, com nova imagem e mentalidade, parecem determinados em investir na equipa e voltar à ribalta da Premier League que em tempos já dominou a belo prazer.

O significado desta renovação

O momento não é marcante apenas pelo Arsenal ter conseguido manter aquele que é o seu melhor jogador. Este é principalmente um momento marcante por os Gunners terem conseguido manter o seu capitão, um dos seus líderes, uma das forças catalisadoras do plantel. Perder um jogador assim não seria novidade para a equipa, o que aliás é, na opinião da maioria dos críticos, a única e mais importante razão para a inconsistência do clube desde o início do milénio.

O formar jogadores para vender aos rivais tem sido uma constante e pela primeira vez, desde há muitos anos, assistimos um finca pé por parte dos londrinos. No dia da renovação de Auba saiu na imprensa inglesa que o Barcelona teria feito uma proposta pelo avançado, o que não é de estranhar visto que o clube catalão está, assumidamente, a atravessar um período de renovação. A ser verdade, este é possivelmente o sinal mais real que poderíamos ter, sobre a determinação do Arsenal em elevar este projeto para outro patamar.

créditos: EPA/Andrew Couldridge

Para ilustrar a mudança de paradigma, recordemos alguns dos jogadores menos cotados mas que, ainda assim, durante anos, foram sendo resgatados ao Arsenal, acabando por reforçar equipas com as quais chegariam a vencer troféus com a ajuda dos mesmos. Temos os exemplos de Mathieu Flamini, que venceu a Serie A pelo AC Milan, Aliaksandr Hleb que sem vencer um único troféu pelos Gunners viria a vencer a Liga espanhola, a Taça do Rei e a Liga dos Campeões numa só época pelo FC Barcelona. Ainda pela Barcelona temos Alex Song com uma La Liga e Thomas Vermaelen que venceu quatro vezes a La Liga e duas a Taça do Rei - assumimos que citar este último nome é quase uma batota, uma vez que o belga em cinco anos de contrato teve apenas 53 presenças na equipa devido, maioritariamente, a lesões. Outro exemplo é o de Lassana Diarra. Apenas cinco meses do seu resgate ao Chelsea, o Arsenal deixa de dar minutos ao médio francês e vende-o, na altura, ao Portsmouth. Passado um ano Diarra assina pelo Real Madrid, onde viria a vencer a La Liga e a Taça do Rei. Para clubes italianos o Arsenal perdeu dois guarda-redes, David Ospina para o Nápoles, onde acabaria por vencer uma Coppa Itália, e Wojciech Szczęsny para a Juventus. O polaco que não teve perfil para ser o guardião da baliza dos Gunners, acabou por ter perfil para para substituir o lendário Gianluigi Buffon. Desde então já venceu três vezes a Serie A e uma Coppa Italia.

Mas atenção. A lista não fica por aqui, temos ainda os jogadores perdidos internamente para rivais diretos na luta pelo título, que foram muitos e com resultados desastrosos para o Arsenal em todas as ocasiões. Todos acabaram por vencer troféus, e à excepção de Olivier Giroud, todos foram campeões ingleses. Mas mesmo Giroud acabou por vencer um Liga Europa com o Chelsea. Já os jogadores que rumaram para clubes estrangeiros, como Cesc Fàbregas, em 2011, e Serge Gnabry, em 2016, acabariam ambos por encontrar sucesso nacional e internacional, ao vencerem, com os respectivos clubes, a Liga dos Campeões. No caso de Gnabry foram as boas exibições no Werder Bremen, após sair do Arsenal, que despontariam o interesse do Bayern de Munique que venceu ainda há poucos meses a Liga dos Campeões, com preciosa ajuda do jogador alemão.

Pérolas que o Arsenal deixou fugir

Manchester City

Emmanuel Adebayor

Samir Nasri

Gaël Clichy

Chelsea

Ashley Cole

Olivier Giroud

Manchester United

Robin van Persie

Liverpool

Alex Oxlade-Chamberlain

Werder Bremen

Serge Gnabry

Barcelona

Cesc Fàbregas

Da mesma forma que, com frequência, sublinhamos neste espaço de análise que o Manchester United não é nem deve ser considerado, ainda, candidato ao título, o mesmo terá de ser aplicado ao Arsenal de Mikel Arteta. Assim como Ole Gunnar Solskjaer, o espanhol está a construir de raíz. Mudou o sistema de jogo, está paulatinamente e de forma precisa, a remodelar a equipa, e os resultados, apesar de imediatos, têm que ser colocados em perspetiva. Vencer a Premier League é uma maratona que, neste momento, parece estar apenas ao alcance de Liverpool e Manchester City. Contudo, nos próximos dois anos existirão oportunidades, ou por quebra destas equipas ou por resultado da boa sequência de construção de plantéis e equipas técnicas como o Arsenal, Chelsea e Manchester United. Aí sim, poderemos acrescentar mais equipas à lista de candidatas ao título inglês.

Até lá, é preciso dar tempo a estas equipa em remodelação e/ou em busca do seu modelo de jogo para os próximos anos, e apreciar tudo o que de bom cada uma delas nos dá, fim-de-semana sim, fim-de-semana também.

Esta semana na Premier League

Nada melhor que um dérbi londrino para colocar à prova o Arsenal e a sua forma atual. Aubameyang e companhia terão pela frente o West Ham, que não se encontra na melhor forma, e, em teoria, Mikel Arteta terá vida fácil e poderá cimentar mais um tijolo na construção do seu Arsenal. Já no domingo teremos um clássico, o Chelsea, campeão de transferências de verão, prepara-se para receber o Liverpool, campeão inglês. A equipa de Klopp entrou com todo o seu poder de fogo intacto, ainda assim os três golos sofridos frente ao Leeds de Marcelo Bielsa poderão ser motivo de preocupação.

Premier League | 2ª jornada

Sábado - 19 setembro

12h30 Everton v West Brom
15h Leeds v Fulham
17h30 Manchester United v Crystal Palace
20h Arsenal v West Ham

Domingo - 20 setembro

12h Southampton v Tottenham Hotspur
14h Newcastle v Brighton
16h30 Chelsea v Liverpool
19h Leicester v Burnley

Segunda-feira - 21 setembro

18h Aston Villa v Sheffield United
20h15 Wolverhampton v Manchester City

Por fim, na segunda-feira, a jornada fecha em beleza com um clássico moderno da liga inglesa. O Manchester City, que se estreia na edição deste ano - recorde-se que o encontro do City na primeira jornada foi adiado -, enfrenta a equipa de Nuno Espírito Santo, um já carrasco e habitual ladrão de pontos quando se encontra com os grandes ingleses, especialmente o Manchester City, quer para as taças, quer para o campeonato.