No passado mês de Janeiro, mais precisamente dias 27 e 28, jogava-se a quarta ronda da FA Cup e algo de curioso aconteceu. Newcastle, Leeds e Brighton, clubes a militar na Championship (segunda divisão inglesa) foram todos eles eliminados por clubes de menores dimensões. Nada de extraordinário, caso um dos clubes não fosse do escalão ‘non-league’ - destinado a organizações semi-profissionais e amadoras - e não estivessem os três eliminados a fazer épocas muito positivas, estando inclusive a disputar entre eles a promoção direta à Premier League.
A surpresa diminui quando nos apercebemos que os clubes em questão não se apresentaram com a equipa habitual, fazendo descansar alguns dos principais titulares. Mas porquê jogar fora a possibilidade de seguir em frente na mais antiga competição de futebol do mundo e que tanto prestígio tem em solo inglês? A razão é fácil: dinheiro.
A Championship, já o disse em tempos num artigo, é uma das ligas mais difíceis de ganhar. O nível do futebol praticado nem sempre é o melhor, mas o estatuto e o poder financeiro dos clubes, bem como o equilíbrio que os unes, é por demais evidente. A liga é sempre disputada até ao fim e a subida à Premier League é demasiado importante para não se lutar por ela.
O prestigio de pertencer à Premier League há muito que já passou o sentimento de orgulho. Hoje é menos "moral" e mais financeiro. Hoje despedem-se mais treinadores que nunca nos principais campeonatos ingleses - na maioria das vezes, tal ocorre assim que o estatuto ‘Premier League’ começa a ficar em causa. Descer não está nas opções de ninguém e subir é a única opção.
O que significa então a subida de um clube da Championship à Premier League?
Os direitos de transmissão dos jogos da Premier League atingiram, no acordo celebrado para o quadriénio 2016-2019, um recorde histórico: cinco biliões de libras. Isto significa, por exemplo, que o último clube a garantir a permanência na tabela classificativa da liga receberá cerca de 100 milhões de libras pela cedência dos direitos televisivos (ou seja, mais de 115 milhões de euros).
Já um clube que se veja remetido para a segunda liga este ano, poderá ver o seu prémio chegar aos 182 milhões de libras nos próximos três anos (mais de 210 milhões de euros). Sim, leu bem: o valor é superior relativamente aos clubes que garantem a permanência, mas apenas porque não estamos a ter em conta o que as equipas que permanecem continuam a ganhar nos anos seguintes.
Em média, os últimos cinco classificados da liga recebem, por publicidade no camisola, 3,7 milhões de libras e por marca de equipamento 2,9 milhões de libras o que dá um total de 6,6 milhões de libras (cerca de 7,7 milhões de euros).
A juntar a tudo isso estão a subida nos preços de bilheteira e outras publicidades associadas ao clube, um aumento do nome da marca, no valor dos ativos e muitas outras vantagens que vêm com o facto de o clube estar a jogar ao mais alto nível em Inglaterra e dos seus jogos passarem pelos ecrãs de televisão de todo o mundo.
Com possíveis ganhos na ordem dos 189,7 milhões libras (mais de 220 milhões de euros), caso suba e desça de imediato (o pior dos cenários), subir à Premier League é, para muitos, mais que um sonho ou um desejo, é uma obrigação.
Este fim de semana a Premier League está parada e joga-se mais uma ronda da FA Cup, desta feita sem as equipas que disputam os lugares cimeiros da Championship.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.
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