As voltas estão trocadas. Há duas equipas que, apesar das maiores aspirações, no momento em que se vão defrontar, se encontram em posições muito frágeis na tabela classificativa, falamos de Everton e Tottenham. Duas horas e meia mais cedo, também no domingo, entram em campo outras duas formações que, sem aspirações aos seis primeiros lugares, se encontram em grande forma e que fazem refletir na tabela, as exibições no relvado, são elas Crystal Palace e Leicester City.

Crystal Palace vs. Leicester City - Domingo, dia 3, às 14h.

Cada uma das duas equipas perderam, no verão passado, uma peça fundamental no seu sistema. O Palace vendeu Aaron Wan-Bissaka e o Leicester Harry Maguire, ambos para o Manchester United. No entanto, esse não foi motivo para nenhuma delas baixar de rendimento, antes pelo contrário. Não só se encontram ambas à frente do United, como se encontram também acima na tabela de Spurs e Everton.

O segredo para a boa época até ao momento, por parte de ambas as equipas, tem sido não só a experiência dos seus treinadores, como a manutenção, salvo raras exceções, do seu plantel. Mas o que as difere?

A equipa londrina, o Crystal Palace, tem-se destacado desde o início da temporada pela resiliência. Após um começo menos positivo, com um empate e uma derrota, encontrou forças para resgatar a sua primeira vitória, fora, frente ao Manchester United.

Dos dez jogos disputados até ao momento pela equipa de Roy Hodgson, destacam-se três:

Vs. United - em que o Palace venceu com um golo marcado já no período de descontos, após ter sofrido o golo da igualdade aos 89 minutos, mostrando que não se deixa abalar com facilidade;

Vs. West Ham United - onde deu uma reviravolta no marcador depois de começar a perder com um golo dos Hammers já na segunda metade, denotando uma capacidade de luta extra nos segundos tempos das partidas.

Vs. Arsenal - no fim de semana passado, onde o Palace demonstrou mais uma vez que o jogo tem noventa minutos e que podem contar com a equipa londrina para lutar até ao fim, conseguiram virar um resultado de 2-0 a favor do Arsenal para um 2-2, tendo conquistado um precioso ponto fora de casa.

Arsenal v Crystal Palace.
Arsenal v Crystal Palace. créditos: ANDY RAIN/EPA

Este é apenas mais um grande teste para a equipa de Roy Hodgson, uma vez que este é o quarto jogo consecutivo do Palace frente a uma equipa classificada acima do quinto lugar (à partida para o jogo). A série de jogos teoricamente mais complicada desde o Wolverhampton em 2010, ano em que teve exatamente a mesma sequência de jogos, quatro frente a equipas classificadas acima do quinto lugar.

Quanto ao Leicester, o que impressiona é a forma como a equipa foi capaz de se renovar nos últimos anos. Depois do campeonato sensação em que acabou por vencer, contra todas as probabilidades, os Foxes não só passaram por uma fase menos boa, de readaptação à realidade, como também tiveram que enfrentar e ultrapassar a perda do seu presidente Vichai Srivaddhanaprabha que faleceu num acidente de helicóptero a 27 de outubro de 2018, após um jogo da sua equipa.

A manutenção de Jamie Vardy e outros, após grande demonstração de lealdade pelo clube, tem sido chave para o sucesso. Não só o avançado inglês tem sido responsável pela grande forma, mas também a capacidade de aquisição de jogadores, cuja consistência exibicional tem vindo a revelar-se determinante, como Ricardo Pereira, James Maddison, Wilfred Ndidi e Youri Tielemans, todos eles fazendo parte da espinha dorsal da equipa. O Leicester é uma das equipas que melhor futebol pratica na liga, e tal deve-se à forma como está a manter o plantel equilibrado. A preocupação e desenvolvimento de jovens é também uma das prioridades da equipa, como é o caso de James Justin, o defesa direito de 21 anos que tem tido a oportunidade de jogar na vez de Ricardo Pereira na Carabao Cup.

Tanto Roy Hodgson como Brendan Rodgers, treinador do Leicester, têm um grande teste pela frente, uma oportunidade única para consolidar a excelente época que estão a fazer até ao momento. Entre a resiliência demonstrada por um e a consistência demonstrada por outro, temos em mãos um dos jogos da jornada.

Everton vs. Tottenham - Domingo, dia 3, às 16h30

Até ao momento, são as duas maiores desilusões desta edição da Premier League. Vamos repetir o exercício de análise feito às duas equipas acima.

Ao Everton, a falta de consistência, ao contrário do Leicester, tem sido uma das principais razões para o insucesso da equipa. Tendo tido pelo menos duas janelas de transferências de verão cheias de novidades e onde dinheiro foi gasto sem olhar a prejuízos, começa a ser notório que a falta de estabilidade poderá estar a ser um problema. Demasiadas mudanças e ambição desmedida podem não estar a permitir uma consistência que é, igualmente, fundamental a quem deseja vencer jogos de forma contínua.

Se tivermos em conta o primeiro jogo de Marco Silva a contar para a Premier League ao serviço do Everton e, igualmente, o seu último jogo até ao momento, no passado fim de semana, dos 28 jogadores potencialmente utilizados ou das 14 vagas em cada jogo - já que além do onze houve mais três substituições -, apenas seis nomes se repetiram. Deixando assim oito posições/vagas, preenchidas por jogadores que não se repetem nesses dois jogos. Dois jogos tão díspares no tempo poderão não ser a melhor amostra, mas não deixa de ser significante a quantidade de movimentações feitas apenas de uma época para a outra. De recordar que a contratação de Marco Silva, ou o despedimento de Sam Allardyce se quisermos, já vem no seguimento de um investimento grande e consequente alta rotação de jogadores de uma época para a outra, deixando o treinador inglês, e depois o português, com o papel de organizar e construir uma equipa modificada a cada início de época.

No que toca ao Tottenham, a consistência está presente, mas a saturação dos métodos, o chegar perto da conquista de títulos, como a Premier League e a Liga dos Campeões, que depois caíram por terra, parecem ter afetado jogadores e equipa técnica ao ponto de as insatisfações, os pedidos para sair, as renovações de contratos pendentes e o foco em assuntos extra futebol, parecem ter levado a melhor da equipa. A resiliência mostrada pelo Crystal Palace parece ser inexistente quando falamos dos Spurs.

créditos: PETER POWELL/EPA

Com ambas as equipas a terem que encontrar um outro rumo, os treinadores estão em risco e o resultado de jogo será muito importante. Escusado será dizer que a ver de perto estará José Mourinho, candidato principal a ambas as posições.

Esta semana na Premier League

O sábado, dia 2, traz-nos a visita do United a Bournemouth (12h30) que não dará de barato seja o que for à equipa de Ole Gunnar Solskjær. Teremos também a ida dos Wolves de Nuno Espírito Santo a casa do Arsenal (15h), que promete surpreender mais uma vez um dos grandes ingleses. Convém também perceber qual a reação do Southampton após a mais pesada derrota de sempre por uma equipa na Premier League, a jogar em casa - 0-9 foi o resultado final frente ao Leicester City. Durante a semana teve já a oportunidade de jogar também contra o Manchester City, equipa que defrontará no sábado (15h), onde sofreram uma derrota por três bolas a uma.