O título pode parecer enganador porque a análise realizada não é só aos jogadores que por cá ainda andam (como o caso de Eduardo Salvio, Hector Herrera ou Sebastian Coates por exemplo) mas também aqueles que por cá passaram, caso de Cristian Rodriguez, Nemaja Matic ou Cristiano Ronaldo. Mas a verdade é que foi isso que fizemos: recolhemos 76 nomes, dos 736 jogadores que estão a jogar no Mundial de Futebol 2018, o que perfaz 10% de "marca Portugal" na maior prova de selecções da FIFA.

Antes de passarmos à leitura da lista, comparando jogadores, influências e pormenores, há que alertar o leitor para alguns fatores importantes. São eles:

- Na análise incluímos jogadores que tenham passado pela formação de qualquer um dos clubes que compõem os campeonatos profissionais em Portugal durante pelo menos dois anos. Casos de Mário Rui ou Thiago Silva, atletas que passaram pelo Sporting CP/SL Benfica e FC Porto, respetivamente, mas não chegaram a actuar a nível sénior.

- A análise inclui jogadores que actuaram em mais que um clube em Portugal. Caso de Maxi Pereira, que foi lançado em Portugal pelo SL Benfica, mas que hoje em dia milita no FC Porto. Neste caso, demos a mesma importância aos dois clubes.

- Considerámos que os jogadores como Rui Patrício, William Carvalho ou Bruno Fernandes contam como atletas do Sporting CP, apesar do avanço das rescisões por justa causa (uma vez que podem fazer parte da lista de Jogadores ainda a jogar em Portugal ou de Ex-Jogadores que passaram por Portugal)

Apresentados os devidos pressupostos, passemos então à listagem recolhida:

De onde vem a matéria prima?

Numa primeira observação, é importante constatar a forte marca portuguesa em jogadores da América do Sul, sendo de longe o segundo continente mais representado, com 24 atletas. Se retirarmos Portugal da equação (21 dos 23 convocados de Fernando Santos jogaram/jogam em território nacional), é o espaço continental com mais portugueses. A Europa segue-se com onze (sem os jogadores portugueses), América do Norte com nove, África com nove e Ásia com dois. É uma pequena demonstração de que a aposta feita pelos clubes nacionais nos últimos 30 anos passou mais pela América latina, com vários atletas da Argentina, Brasil, entre outros países.

FC Porto e SL Benfica dividem bem o domínio no mercado sul-americano nos últimos 15 anos. Se os azuis-e-brancos têm uma presença curiosa na seleção do Brasil, com três ex-atletas a vingar nos canarinhos de Tite (Danilo, Thiago Silva e Casemiro), o SL Benfica assume a frente na Argentina com um trio de jogadores de agora ou do passado (Salvio, Di Maria e Enzo Perez).

Depois há dois países onde existe um despique curioso: as águias contribuíram para os 23 do Uruguai com 3 atletas (lembrar que Cristian “Cebola” Rodriguez e Maxi Pereira “fugiram” para o FC Porto e Jonathan Urretaviscaya saiu a custo zero para o Paços de Ferreira), enquanto azuis-e-brancos influenciaram os cafeteros colombianos com três das suas melhores estrelas (Juan Quintero, James Rodriguez e Radamel Falcao).

Interessante, também, é o facto de jogadores da América do Norte terem hoje em dia outra expressão em território nacional, especialmente os do México. O FC Porto foi o clube que mais apostou neste sector, com as contratações de Hector Herrera, Jesus Corona, Miguel Layun e Ismael Diaz. Este último, panamiano, foi uma das coqueluches da equipa secundária dos Dragões, mas teve muito poucas oportunidades para brilhar na Liga NOS.

Em termos das formações eslavas (e aqui incluímos os suíços, que para este efeito têm também uma "costela eslava"), é o SL Benfica a fazer uma aposta constante nesta região com três sérvios (Matic é grande representante dessa aposta) e um suíço.

E quem são os clubes mais s representados? Bem, o Sporting CP assume a pole position com 26 jogadores, seguindo-se o SL Benfica e FC Porto na segunda posição com 21, SC Braga, Belenenses e Vitória de Guimarães em terceiro com dois, para depois seguirem-se Penafiel, Boavista, Feirense, Nacional da Madeira, Marítimo, Louletano, Vitória de Setúbal e União da Madeira todos com um cada.

No final de contas, Argentina, Colômbia, Brasil, Nigéria e Sérvia são as 5 nações com mais atletas a jogar ou que jogaram em Portugal.

E nas Quinas, quem tem maior influência?

Não há como fugir na questão de quem forma mais atletas para a selecção nacional, pois ainda continua a ser o Sporting CP. Rui Patrício, Beto Pimparel, José Fonte, João Moutinho, William Carvalho, Adrien Silva, Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, Ricardo Pereira, João Mário, Gelson Martins, Cédric Soares e Mário Rui (este último repartiu a formação entre Leões e Águias) - são 13, de uma seleção de 23, o que confere mais de metade de importância nas fundações de Portugal.

Já o SL Benfica oferece cinco jogadores da sua formação às cores nacionais: Gonçalo Guedes, Ruben Dias, Bernardo Silva, Manuel Fernandes e Mário Rui. O FC Porto fica reduzido a dois elementos, com Bruno Alves e André Silva.

Pepe treinou no Sporting CP, mas foi lançado no FC Porto, tendo contudo sido um produto das escolas do Corinthians Alagoano. Já Bruno Fernandes atuou largos anos no Bessa como jogador da formação, para depois apostar numa ida para Itália desde muito jovem. Por outro lado, Raphael Guerreiro e Anthony Lopes não passaram por qualquer escola de formação ou academia nacional - é também uma meia-novidade a introdução de atletas luso-descendentes, que já tinha se iniciado no Euro 2016.

Se sairmos do universo do futebol de formação e do lançamento destas jovens estrelas no escalão máximo, há que considerar depois quem aposta mais em portugueses nos seniores.

Nisto, o Sporting CP mantém-se na frente, com 15 jogadores (até José Fonte jogou na Taça pelo clube, apesar de nunca ter alinhando na Primeira Liga de leão ao peito), seguindo-se o FC Porto com 7 (uma parte da formação de Alcochete veio parar à Invicta, como Ricardo Quaresma, Beto, Ricardo Pereira, Beto Pimparel e João Moutinho).

O SL Benfica fica com os mesmos números, com o pormenor curioso de que a sua formação salta muito cedo para a Europa: Manuel Fernandes, Gonçalo Guedes, Mário Rui e Bernardo Silva abandonaram com 20 anos a Luz. Será que o mesmo vai acontecer com Ruben Dias (fez 21 anos em maio) já neste Verão?

Os números e os que estão por detrás deles

O que falta explicar, que a tabela só por si não diz?

A aposta dos clubes portugueses em outros mercados tem um retorno bastante positivo, com várias transferências milionárias a sair de uma liga que não está perto sequer de fazer parte das Big-5. A título de exemplo, o Feirense acabou de vender Etebo ao Stoke City por 7 milhões de euros, um negócio alucinante para o clube que subiu de divisão em 2016. O avolumar de bons ativos tornou Portugal, desde o início dos anos 2000, como um local ideal para as equipas de alto calibre virem "pescar" reforços. O futebol português tornou-se uma liga de exportação de excelência, com o seu carimbo a merecer a confiança dos maiores (em dimensão) consumidores mundiais.

Exemplo disso é o facto de os jogadores portugueses saírem cada vez mais cedo das sua casa-mãe, replicando os casos de Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma em meados da primeira década do século XXI. André Silva, Gonçalo Guedes, Bernardo Silva, João Mário foram alguns dos nomes que foram vendidos por uma milionária quantia quando ainda só tinham entre os 19-23 anos.

Em termos de clubes, o SL Benfica conseguiu ganhar o seu espaço, nos últimos anos, como um dos maiores exportadores do futebol mundial, equiparando-se ao FC Porto, que já tinha ganho a frente durante o final dos anos 90 e o início dos anos 2000. Já o Sporting CP tem realizado excelentes negócios nos últimos 5 anos e é neste momento o clube português com mais jogadores no Mundial. Outros clubes nacionais, casos do SC Braga, Rio Ave FC ou Vitória de Guimarães, também têm crescido com bons negócios e vão ganhando outra confiança na esfera mundial.

Esta listagem foi feita em parceria com Pedro Couñago, Rui Mesquita e Davide Neves, autores do Fair Play.

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