O Santos defrontou este sábado o São Paulo na 33.ª jornada do campeonato brasileiro. O jogo na Vila Belmiro acabou empatado (com golos de Sánchez e Daniel Alves), mas não foi por isso que este jogo fez história.

A partida ficou marcada por uma ação do Santos, que entrou em campo com camisolas cujos números davam testemunho da desigualdade racial que ainda existe no Brasil, apesar de 54% da população se considerar negra ou mestiça. A ação foi em parceria com Observatório da Discriminação Racial no Futebol e visou marcar o início da semana do Dia da Consciência Negra, que é celebrado em 20 de novembro.

Seja de forma velada ou explícita, a população negra ainda sofre no Brasil e estes números (apresentados em percentagem) representam o quão minoritárias são as pessoas negras em determinadas profissões, denunciam diferenças salariais e de acesso a formação superior, apontam para dados mais chocantes que vão desde a percentagem de presidiários, de mortes violentas, de vítimas de intolerância religiosa, de menores sujeitos a trabalho infantil ou mesmo de trabalho escravo.

As reações dos adeptos a esta ação dividiram-se, já que na bancada estava Jair Bolsonaro.

"E vamos ter um cara que representa exatamente o motivo do sofrimento na arquibancada, uau Santos, parabéns, que atitude linda", criticou um utilizador do Twitter.

"Essa mensagem é para ele. Não havia como impedir a presença, mas mostrar isso hoje é uma atitude gigante", respondeu um outro.

O facto é que os adeptos do Santos, também conhecido por Peixe, dividiram-se quanto à presença de Bolsonaro no próprio estádio.

O Presidente do Brasil assistiu ao jogo no camarote do presidente do clube e vestiu a lendária camisola 10 do Santos, personalizada com o seu nome. Na chegada a Vila Belmiro, com um enorme esquema de segurança montado, o público dividiu-se entre aplausos e vaias — tanto entre os adeptos do Santos como do São Paulo.

Não é a primeira vez que o Santos se posiciona de forma contundente sobre o tema do racismo. No passado dia 19 de outubro o clube publicou nas redes sociais uma imagem com a seguinte mensagem: "Nossa arquibancada é espaço para quase todos: temos santistas de todas as raças, idades, origens, moradores de todas as partes do Brasil, gêneros, diferentes posições políticas, opções, gostos e credos. Só não temos espaço para preconceituosos."

A publicação foi em reação a uma denúncia de Thiago Galhardo, jogador do Ceará, que acusou um adepto do Santos de ter tido uma atitude racista e xenófoba contra o seu companheiro de equipa Fabinho, num jogo entre os dois clubes a 17 de outubro, em Vila Belmiro.

O clube, que por norma até defende os seus adeptos não duvidou do jogador da equipa adversária e tomou desde logo uma posição sobre o tema. “Sem dúvidas, foi o posicionamento mais forte que já tivemos de um clube no Brasil”, afirmou Marcelo Carvalho, criador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, ao El País.

Também este ano, o clube lançou a série de vídeos no YouTube sob o mote “Time de branco e preto” para promover o seu terceiro uniforme, todo em preto, feito para homenagear os jogadores negros da história do Santos.

Apesar dos seus posicionamentos o Santos foi obrigado a lidar com um caso polémico em abril, altura em que ficou conhecido um áudio de um conselheiro do clube, Adilson Durante Filho, em que proferia ofensas racistas. Este acabou por sair dos quadros em outubro.

Certo é que para o Santos, futebol é mais do que jogar à bola.