Roberto Martínez é o novo selecionador de Portugal, com um contrato por quatro anos, válido até ao final do Campeonato do Mundo de 2026.

Fernando Gomes, presidente da FPF, colocou a fasquia alta, durante a sua apresentação. Salientando que preferiu terminar o ciclo de Fernando Santos, a pensar na conquista do título de campeão do mundo em 2026.

Então quem é Roberto Martínez, em quem o líder da federação coloca todas as esperanças?

Se olharmos apenas ao seu histórico como jogador, as palavras de Fernando Gomes poderiam não convencer os mais céticos. Como líder de balneário, contudo, o caso muda de figura. E muito!

Nascido a 13 de julho de 1973 (49 anos), em Balaguer, Espanha, desde cedo teve a bola como principal amiga. As suas qualidades, contudo, pareciam não acompanhar o seu desejo de vingar no mundo do futebol. De tal forma que, após muitos anos no Saragoça, a jogar como médio, nas camadas jovens e equipa B, regressou ao clube da terra, já com 22 anos, em 1994. Os estudos ameaçaram passar à frente do futebol, até que, quase do nada, recebeu um telefonema para rumar a Inglaterra, concretamente ao Wigan.

Uma lufada de ar fresco, mas a realidade não era muito diferente: o convite era para um clube que, então, militava no quarto escalão do futebol britânico. Seis temporadas por ali resumiram-se a apenas 69 jogos, sempre nas divisões secundárias de Inglaterra. Pouco para tantos sonhos.

Em 2001 recebe um convite para jogar na Escócia, concretamente no Motherwell. Jogou pouco, 16 partidas, mas a sua vida mudou, pois foi onde conheceu aquela que ainda é hoje a sua mulher, Beth Thompson.

A escocesa surge na melhor fase da sua carreira como jogador. Segue no ano seguinte para o Walsall, de Inglaterra, onde só fica seis meses, pois recebe um convite do Swansea, equipa do País de Gales que atua no futebol inglês. Foi aí que teve a melhor fase da carreira, entre 2003 e 2007. E foi também aqui, após esta última temporada, que deu os primeiros passos como treinador.

A importância de Johan Cruijjf

Se Beth Thompson surgiu na melhor fase da sua carreira como jogador, determinante para o seu futuro como treinador foi o malogrado Johan Cruijff. Desde cedo que admirava o antigo jogador, mas mais encantado ficou quando, com 15 anos, via os jogos do Barcelona, então orientado pelo holandês. O futebol de posse e de ataque encantavam-no. E o destino parecia estar marcado.

Já em Inglaterra, quando jogava no Wigan, conhece Jordi, o filho de Cruijff, num restaurante de Manchester. A amizade ficou desde logo bem vincada e hoje em dia são compadres. A visão que tem do jogo, ganhou-a e aprimorou-a então com o seu modelo, Cruijff. Mas a admiração era recíproca. Se Martínez olhava para o holandês como o exemplo a seguir, Cruijff também acreditava no potencial do espanhol, tendo mesmo chegado a recomendá-lo para treinador do Ajax, o seu clube de coração, em 2014, e em quem via também um irmão para o seu filho, Jordi.

“Quando conheci Johan, percebi que ele tinha coisas geniais. Tinha aquele jeito de simplificar o jogo que poucos conseguem fazer. Pequenas obras-primas que fizeram uma equipa conseguir dentro de campo algo que nunca havia sido visto no futebol. Coisas que alguns podem pensar que são básicas demais para se focarem. Por exemplo, como dizer ao jogador para não passar a bola para o pé do seu companheiro de equipa, mas um metro mais para a frente. No pé, atrasa o jogo; Um metro a mais dá-lhe velocidade. Parece muito simples, mas com esse pequeno detalhe, o jogo da posse de bola ganha outro patamar”, disse Martínez numa entrevista ao El País.

E foi essa visão, de futebol de posse e de ataque, que desde cedo o catapultou para o sucesso desde o banco. Orientou então o Swansea, onde conquistou a League One, venceu uma Taça ao serviço do Wigan (onde regressaria como treinador após a saída do País de Gales) e chegou ao Everton, tendo como bandeira um honroso quinto lugar, naquela que é considerada a melhor liga de futebol do mundo.

Em 2016 chega a uma das equipas mais desejadas do universo dos treinadores. A seleção nacional da Bélgica, onde despontavam craques como Courtois, Kevin de Bruyne, Eden Hazard, Axel Witsel ou Romelu Lukaku. Aí liderou, entre 2019 e 2021, o ranking FIFA, mas o grande destaque dentro das quatro linhas foi o terceiro lugar que conseguiu no Campeonato do Mundo de 2018. Nas grandes competições seguintes, os belgas ficaram-se pelos 'quartos' no Euro 2020 e pela fase de grupos no recente Mundial do Qatar, isto já depois de um quarto lugar na Liga das Nações de 2021.

Três centrais, construção desde trás e muita, muita posse de bola

O seu estilo é o de Johan Cruijff: muita posse e um futebol de ataque. Aos poucos, contudo, foi implementando ideias próprias ao estilo do holandês. Uma das quais uma estratégia de três centrais, como fez na seleção da Bélgica, mais recentemente, num sistema que tem vindo cada vez mais a aprimorar, nomeadamente um 3x4x2x1.

A construção começa logo atrás, sempre de forma paciente e nunca num estilo de futebol direto. O meio campo é fundamental para Roberto Martínez, é onde há mais tempo de posse de bola e consequente controlo de jogo. Este é o pensamento do espanhol, que, por norma, joga apenas com um homem mais adiantado, de preferência um que jogue bem de costas para a baliza.

E não se pense que Roberto Martínez tem problemas em mudar o que acha que tem de ser mudado. Fê-lo numa Bélgica há anos adaptada a um 4x4x2 e a um futebol direto, ao estilo inglês. Houve quem tivesse torcido o nariz, mas os resultados deram-lhe razão.

O pai e a sapataria de sonho

Johan Cruijff é o seu modelo como treinador. O seu ídolo, contudo, é outro, nomeadamente o seu pai, que também foi treinador, no clube onde Roberto começou e 'acabou' em Espanha, o Balaguer.

“Eu nunca teria me interessado pelos treinos de Cruijff se ele não tivesse tido a influência do meu pai. Foi ele quem incutiu em mim o amor pelo futebol. Ele era treinador e explicava-me sempre os aspetos táticos e técnicos. Sem a sua referência, jamais teria tido essa curiosidade, do treino, muito menos quando tinha 15 anos. Que jovem se interessa pelo conceito de defender com a bola?. Antes de Cruijff pensava-se que se defendia sem a bola e atacavam com a bola. Ele mudou isso”, frisou o treinador, que tinha também outro sonho se o universo do futebol não lhe tivesse sorrido.

O ídolo é o pai, lá está. O pai que além de ter sido treinador, tinha também uma sapataria, algo com que Roberto Martínez também sempre sonhou. É verdade que não chegou a seguir os passos do progenitor, mas também não se ficou apenas pelos relvado, tendo tirado uma licenciatura e uma pós-graduação em Marketing na Universidade de Manchester.

O espanhol, um também assumido apaixonado por presuntos pata negra, será o terceiro selecionador estrangeiro a orientar a equipa de todos nós e, ainda antes do tal sonho de Fernando Gomes para o Mundial de 2026, terá como primeiro objetivo o apuramento para o Campeonato da Europa de 2024. A estreia está marcada para dia 23 de março, diante do Liechtenstein, num grupo que conta ainda com Eslováquia, Bósnia-Herzegovina, Islândia e Luxemburgo.