Há um célebre slogan que diz: o tamanho importa. Na vela, no 52 Super Series, melhor circuito de monocascos, não é o comprimento que dá vantagem a quem compete, mas sim o peso. Cada grama a bordo pode influenciar a agilidade e velocidade dos barcos construídos em fibra de carbono e que podem atingir os 20 nós (37 Km/h), apresentando-se todos iguais nas diversas medidas, sendo que nove das embarcações foram desenhados por dois ateliers de designers, Botin Partners e Judel & Vrolijk.

Agustín Zuleta, CEO das 52 Super Series, explica ao SAPO24 que há um “limite de peso dos velejadores (12 no total a bordo)”, sendo o peso máximo de “1200 kg por barco”. Refere ainda também que “as equipas trazem cozinheiro para controlar as calorias ingeridas e o peso ideal de cada um dos elementos que compõem a tripulação”, não sendo de estranhar que “passem o dia a comer”, sorri o antigo velejador que mudou da “competição” para a “organização” de provas náuticas.

Cascais recebeu uma etapa do circuito TP52 Super Series, mais concretamente o Rolex TP52 World Championship 2018, prova dentro do circuito que atribui um título de campeão do mundo à equipa. Depois de ter sido palco por três vezes nas últimas cinco edições do circuito, acolher o campeonato do mundo “foi o “ponto alto das celebrações do 80º aniversário do clube”, frisou Gonçalo Esteves, presidente do Clube Naval de Cascais, organizador da etapa portuguesa.

Contando com nove das melhores equipas de vela do mundo (num total de 13 que fazem parte do 52 Super Series) em representação de oito países (Estados Unidos da América apresentou duas equipas), a paragem portuguesa consagrou a tripulação do Quantum Racing, barco americano do armador Doug Devos, que para além de acionista, é um dos timoneiros da equipa que inclui Dean Barker, a estrela da America's Cup e contou com a ajuda de um português, Pedro Rebelo de Andrade. Como prémio foi atribuído ao armador um relógio da marca suíça. Só um, sendo que o “selo” está escondido no pulso, esclarece o responsável máximo deste circuito de monocascos.

Augustin Zulueta, CEO da Super Series, “um chefe de orquestra”, como se define, explicou o modus operandi do circo que se estreou na Croácia, passou por Cascais e levantou a proa até Espanha, para as duas últimas etapas. As equipas dedicam “70 dias por ano a este circuito” que se iniciou em finais de maio e termina no fim de setembro.



“Podemos dividir em duas partes: a parte logística, de andar com uma vila às costas por três países. Na Croácia (Sibenik e Zadar), país que fez a sua estreia e onde estivemos na altura do Mundial de futebol, Portugal e Espanha (Palma de Maiorca e Valência). E a que acontece previamente e diz respeito ao barco, ao patrocinador, à escolha dos locais e à elaboração do calendário”, diz.

“Com tecnologia de ponta, igual à F1, os barcos custam cerca de 3 milhões”. Um valor a que acresce investimento de campanha de “2 milhões ano por parte de armadores particulares”. Para além dos 12 velejadores, cada qual com a sua função, no barco, cada equipa arrasta “35 pessoas”. E nesta classe, a paridade não é objetivo a atingir, até pelas caraterísticas do barco. “No futuro o objetivo passa por promover velejadoras em cada equipa. Uma por barco”, sublinha.

Para além da ajuda de Rebelo de Andrade, outros dois portugueses movimentaram-se na sombra na etapa de Cascais do TP52 Super Series. Gustavo Lima a função de “Local Expertise Adviser (conselheiro e velejador local)” dos ingleses Alegre (já tinha tido uma experiência anterior com a equipa Provezza) e Paulo Manso com os sul-africanos do Phoenix.

Sotaque português no circuito

Os norte-americanos da Quantum Racing (2013, 2014 e 2016) e a embarcação italiana Azzurra (vencedores em 2012, 2015 e 2017) têm sido os dominadores da competição de monocascos, sendo, até à data, as únicas equipas a triunfarem no circuito de monocascos.

O circuito de 2018 conta no total com 13 tripulações. Brasil, Alemanha, Itália, África do Sul, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos da América, França e Rússia são os países das equipas em competição e a bordo há velejadores de 20 nações.

Pela primeira vez há uma equipa brasileira, a Onda, um projeto de Eduardo Sousa Ramos, medalhado olímpico que regressa às 52 Super Series após um interregno de três anos e que conta a bordo com mais um campeão das medalhas olímpicas (5), Robert Scheidt.

Rolex TP52 World Championship 2018: Quando o peso importa no barco
créditos: Miguel Morgado

“O circuito tem equipas com alto nível técnico”, explica. “É uma competição mais forte de barcos idênticos”, sendo esta a primeira vez que está com uma equipa brasileira, numa tripulação com “80% de brasileiros”, acrescenta Robert Scheidt, que desempenha o papel de tático na embarcação.

Em relação ao papel que desempenha no barco lá foi dizendo que é ele que toma as decisões “baseado no tempo e no vento” e é quem cabe “decidir qual direção a manobrar”, explica. “Converso com o estrategista para decidir no final e comunicar a tripulação”, adianta ainda.

Sobre as táticas, levanta o véu sobre o que é tão importante como chegar antes dos outros barcos no final da regata. “A largada, os cinco minutos antes, é crucial. É um grande autocarro a andar na cidade”, exemplifica.

Temos que saber observar as distâncias e tomar a decisão certa na hora certa”, remata. “Quando acertas na tática não é mais que a tua obrigação. Quando erras, fica o erro bem exposto”, assume. “Os erros acontecem e temos que aprender com eles”, reconhece, sendo que o objetivo passa por “melhorar para o barco ser mais rápido no dia seguinte”, ressalva Robert Scheidt, velejador brasileiro que é embaixador da marca do relojoeiro suíço que tem uma ligação com o mundo náutico desde os anos 50 do século passado e é atualmente o principal patrocinador de 15 grandes eventos internacionais.