"Eu sempre tomei decisões com os melhores interesses do clube no coração. Continuo comprometido com esses valores. É por isso que hoje vou dar aos administradores da fundação de caridade do Chelsea o controlo do Chelsea FC", lê-se numa declaração publicada no website do Chelsea.

"Durante os meus quase 20 anos de liderança do Chelsea, sempre considerei o meu papel como um zelador do clube, cujo papel foi de garantir que seríamos tão bem sucedidos como somos hoje, e para construir um futuro, ao mesmo tempo que temos um papel positivo para a comunidade", continua.

A decisão de Abramovic, que desde abril também tem a nacionalidade portuguesa, deverá ter a ver com o facto de ser próximo do presidente russo, Vladimir Putin, que tem sido alvo das críticas generalizadas em todo o mundo pela invasão da Ucrânia, particularmente pelas autoridades inglesas, que já anunciaram um conjunto de sanções.

Recorde-se, porém, que Abramovich não foi um dos visados pela tranche de sanções aplicadas pela União Europeia, os EUA e o Reino Unido à Rússia e a vários empresários do país.

Esse tema, aliás, levou Boris Johnson a ser obrigado a corrigir uma afirmação que tinha feito. O primeiro-ministro disse, erradamente, que “Abramovich já é sujeito a sanções”, mas depois esclareceu formalmente que “Roman Abramovich não foi alvo de medidas direcionadas”.

O proprietário do clube de futebol Chelsea, que em 2021 obteve a nacionalidade portuguesa através da lei que beneficia os descendentes de judeus sefarditas expulsos no final do século XV, teve até há quatro anos um visto de investidor no Reino Unido.

Abramovich obteve, entretanto, um passaporte israelita e, embora não possa residir ou trabalhar no Reino Unido, pode atravessar a fronteira sem necessidade de visto de turista.

Em 2018 retirou o pedido de renovação de visto britânico devido ao conflito diplomático entre o Reino Unido e Rússia na sequência do envenenamento com um agente neurotóxico do antigo espião Sergei Skripal em Inglaterra.

Na altura, a então primeira-ministra Theresa May ordenou uma reavaliação dos vistos atribuídos a centenas de “oligarcas russos” no país, mas o esquema dos “vistos dourados” apenas foi encerrado na semana passada.

De acordo com a organização openDemocracy, desde 2015 foram atribuídos 202 daqueles vistos a multimilionários russos que investiram pelo menos dois milhões de libras (2,4 milhões de euros) cada em empresas britânicas, beneficiando também mais de 250 familiares.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos 198 mortos, incluindo civis, e mais de 1.100 feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 150.000 deslocados para a Polónia, Hungria, Moldávia e Roménia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), UE e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.