Para fugir às multidões nada melhor do que ir a um restaurante iraniano. Tudo mais calmo e sem apertos. Mesas com toalhas vermelhas e naperões com motivos iranianos (arábicos). A sala do '1001 noites Iranian Restaurant', junto à Avenida de Roma, em Lisboa, estava composta maioritariamente por portugueses, cerca de duas dezenas, todos virados para o pequeno televisor situado no topo direito junto ao balcão.
O pão iraniano, acompanhado com molhos de espinafre salteados ou beringela fumada, com alho e iogurte, ia-se distribuindo pelas mesas, contrastando com os copos de cerveja que iam matando a sede, em detrimento dos típicos Dough (bebida de iogurte frio com sal) ou Tokhm Sharbati (água, açúcar e Tokhm Sharbati, fruto semelhante à chia).
Inicialmente, apenas um casal iraniano na sala. Sem cachecóis ou camisolas da respetiva seleção. Os olhos não saiam do ecrã. Sorrisos e nervoso miudinho eram visíveis cada vez que os comandados de Carlos Queiroz saiam para o ataque. Aliás, em cada uma delas ele pegava no telemóvel para filmar a sala.
Em cima do intervalo chegaram mais alguns adeptos afetos ao Irão, o que 'equilibrou as forças' na sala. Acompanhados de copos em tulipa e um bolo, davam sinais claros de que iria haver festa, independentemente do resultado. Afinal, José Ferreira, casado com a iraniana Hadis Baghizadeh, faz hoje 68 anos.
Os portugueses iam conversando entre eles. Nas jogadas eminentes de golo levantavam-se das cadeiras na esperança de poder festejar. Só a 'trivela' de Quaresma, aos 45 minutos, os fez gritar por Portugal. Estava feito o 1-0.
O intervalo serviu para aconchegar o estômago, impedindo assim que as unhas fossem as vítimas na segunda parte. As bandeiras foram-se desfraldando, os cachecóis tornaram-se visíveis, mas foram os iranianos que festejaram a defesa do guarda-redes Alireza Beiranvand à grande penalidade batida por Cristiano Ronaldo.
Os cheiros dos chás, servidos em bules, aquecidos em cima das mesas, e das koobideh kabad (espetada de carne de vitela e cordeiro) servida com arroz basmati, tomate e pimentos grelhados foram invadindo a sala. O ruído ia aumentando à medida que o cronómetro avançava e 'rebentou' quando o árbitro Enrique Cárceres apontou para a grande penalidade, convertida por Karim Ansarifard, dando assim a igualdade. Este golo mantinha o sonho da passagem aos 'oitavos'.
'A casa quase ia abaixo' quando Mehdi Taremi rematou ao lado da baliza de Rui Patrício, aos 90+5 minutos, mantendo-se assim a igualdade (1-1) e a passagem aos oitavos de final do campeonato do mundo dos lusos.
Com o coração dividido, José Ferreira estava contente com a passagem de Portugal para a fase seguinte, mas triste por a esposa, Hadis, não poder festejar da mesma forma.
"Era tão importante ganhar este jogo. O povo iraniano ficaria muito contente. Seria uma festa enorme. Este triunfo não era só importante para o futebol. Era algo importante para as pessoas. Estou tão triste, por isso", disse Hadis, que vive em Portugal há dois anos.
Por sua vez, José Ferreira relativizou o resultado, porque independentemente do mesmo, acabaria por não triunfar.
"Hoje nunca ganharia. Ou ela ficava triste por eu estar a perder ou eu ficava triste por ela estar a perder. Empatámos, acho que o Irão jogou muito bem. Quase que passava a eliminatória. Espero que passe no próximo campeonato do mundo", disse José.
Já Manuel considerou que Portugal jogou mal e tinha obrigação de fazer mais e melhor, até porque tem qualidade individual para isso.
"É uma vergonha, com os jogadores que temos, termos jogado a este nível. O Irão jogou muito bem e merecia passar à fase seguinte. Penso também que o VAR está a estragar o futebol. O jogo de hoje é um desses exemplos. Houve paragens demasiado grandes, embora traga alguma justiça, mas quebra completamente o jogo. Agora o importante é continuar a passar cada fase. Espero que Portugal vá à final, mas vai ser muito difícil", rematou.
Portugal volta agora a entrar em ação no sábado, às 19:00, frente ao Uruguai, em jogo dos oitavos de final, no Fisht Olympic Stadium, em Sochi.
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