Na quarta sessão do julgamento dos 44 arguidos acusados no processo da invasão à academia do Sporting, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, o militar do Núcleo de Investigação Criminal do Montijo explicou ao coletivo de juízes que ele e outro camarada foram os primeiros a chegar, antes das 18:00 de 15 de maio de 2018, à ala profissional de futebol do clube.
A testemunha contou que foram recebidos pelo chefe de segurança da academia, Ricardo Gonçalves, que “descreveu sumariamente o que se tinha passado”, encaminhando-os de seguida para a sala de convívio onde estavam os jogadores, a equipa técnica e elementos do staff.
“Os jogadores estavam em pânico, revoltados e a falar todos ao mesmo tempo. Depois, acalmaram-se e explicaram o que se passou. Explicámos-lhes os direitos que tinham e se queriam formalizar queixa”, relatou o militar da GNR, acrescentando que, por estar a “deitar muito sangue da cabeça e por estar muito revoltado”, o jogador Bas Dost foi o que mais lhe “saltou à vista”, sublinhando que o futebolista foi ao hospital pelos seus próprios meios juntamente com outro elemento do staff do Sporting.
A testemunha afirmou que o holandês disse em português que queria apresentar queixa, acrescentando que o treinador Jorge Jesus “tinha um vermelhão na cara” e que outros dois elementos do staff do clube apresentavam ferimentos: um a face e outro na zona abdominal.
O militar da GNR foi depois levado até ao balneário, descrevendo que, no percurso, encontrou gotas de sangue no chão, tochas, um garrafão de 25 litros de água tombado e garrafas de água, um “cheiro intenso a fumo” e “uma camisa do Sporting queimada na zona da barriga”.
No exterior, disse ter visto duas viaturas danificadas e uma pequena zona de vegetação seca queimada, provavelmente devido a uma tocha.
Da parte da manhã, foi ouvido um outro militar da GNR ligado à investigação.
O coletivo de juízes suspendeu o julgamento para almoço, continuando da parte da tarde com a inquirição de mais militares da GNR.
À saída do tribunal, Fernando Mendes, antigo líder da claque juventude Leonina e um dos 44 arguidos, disse aos jornalistas que se veio identificar e apresentar ao coletivo de juízes, uma vez que, até hoje, não tinha conseguido vir, devido a problemas de saúde.
O arguido referiu que, para já, não vai prestar declarações e que vai pedir dispensa ao tribunal para poder estar ausente das próximas sessões para se poder dedicar aos tratamentos clínicos a que está a ser sujeito por causa de uma leucemia.
Questionado como está a ver todo este processo, Fernando Mendes respondeu que “com preocupação e tristeza”, sobretudo no que diz respeito ao Sporting.
O atual líder da Juve Leo, Mustafá, o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do clube, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e Mustafá também por um crime de tráfico de estupefacientes.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à academia, o Ministério Público imputa-lhes a coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Estes 41 arguidos vão responder ainda por dois crimes de dano com violência, por um crime de detenção de arma proibida agravado e por um crime de introdução em lugar vedado ao público.
Em 15 de maio do ano passado, durante o primeiro treino da equipa de futebol do Sporting, após a derrota na Madeira, cerca de 40 adeptos ‘leoninos’ encapuzados invadiram a Academia do clube, em Alcochete, e agrediram vários jogadores, bem como o então treinador, Jorge Jesus, e outros membros da equipa técnica.
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