Donna Kelce, uma ex-bancária de Ohio, é a grande estrela da 57.ª edição do Super Bowl. A mãe mais falada nos EUA terá dois filhos, Travis e Jason, no jogo do título da NFL. Nas vésperas, ofereceu-lhes bolos de chocolate e deixou-lhes uma mensagem num cartão. Na madrugada desta segunda-feira, descerá ao relvado do State Farm Stadium, para distribuir abraços a um, antes de se deslocar ao hotel para confortar o outro. Num dia histórico, será simultaneamente a mãe mais feliz de todas, mas também a mais triste.

Esperada entre as mais de 63 mil pessoas que irão lotar o State Farm Stadium, em Glendale, Phoenix, Arizona, sabe o que a espera a seguir. Uma noite feliz e triste. Os dois estados de alma vão colidir num mesmo momento, aquele que se souber quem ganhou e quem perdeu. Ela, e o ex-marido Ed, com quem esteve casada um quarto de século, serão provavelmenteos únicos nas bancadas estádio dos Arizona Cardinals, e no país, a partilhar esse sentimento agridoce.

Travis e Jason. Unidos pelo apelido, separados no campo pelas cores da franquia, Travis Kelce, o mais novo, 33 anos, tight end dos Chiefs e Jason Kelce, o mais velho, 35, center dos Eagles, entram para a história do Super Bowl. É a primeira vez que dois irmãos surgem em lados opostos da barricada no Vince Lombardi Trophy.

O jogo do título da National Football League (NFL) acontece hoje, a partir das 23h30 (transmitido na Eleven Sports) e coloca frente a frente a equipa dos Kansas City Chiefs e os Philadelphia Eagles, vencedores, respetivamente, da Conferência AFL e NFL da Liga de Futebol Americano.

Jason Kelce conquistou o troféu em 2018. Dois anos depois, no Super Bowl LIV, o irmão mais novo, Travis, esticou o dedo para receber anel da glória. Amanhã, desempatam esta questão familiar.

Uma mensagem no cesto dos bolos de chocolate

“Não podemos dizer nada à minha mãe nesta altura, ela é simplesmente uma superestrela", resumiu Travis na antevisão da grande noite.

Donna desdobrou-se nos últimos dias em entrevistas em televisões, na internet, em aparições públicas e no podcast dos filhos, “New Heights”, uma alusão ao local onde tudo começou para os dois: Cleveland Heighs, Ohio.

O estrelato resultou numa petição de mais de 180 mil assinaturas na plataforma change.org para que a matriarca da família Kelce atire a moeda ao ar na próxima madrugada.

“Naquele relvado, há tantas lendas e gente que vai deixar lá sangue, suor e lágrimas e, para uma mãe que nunca jogou futebol americano, não me parece que seja o sítio certo”, disse aos filhos no mais recente episódio de “New Heights”.

Nas redes sociais adiantou que a NFL já tinha um nome em carteira e garantiu, na noite de apresentação do Super Bowl, na quinta-feira passada, que “iria para onde a mandassem ir”.

Ali, no evento de lançamento do jogo do título da NFL (Super Bowl Opening Night), no Footprint Center, Donna surgiu acompanhada de um cesto de bolachas caseiras de chocolate. Lá dentro, uma mensagem aos filhos. “Disse-lhes para deixarem tudo em campo, darem o máximo e que não sentirão arrependimentos”, revelou publicamente.

Missivas privadas à parte, partilhou outras intimidades “Eu sabia que vocês eram talentosos, sabia que tinham a perseverança, a capacidade... Só nunca sabemos como os nossos filhos vão dar-se com todas as atenções a nível nacional”, afirmou no podcast.

Centrou-se na grande noite. “Só quero apenas pura alegria”, disse. “Os dois primeiros Super Bowls, aqueles em que participaram foram tensos. Queríamos tanto que ganhassem”, referindo-se às vitórias de Jason e Travis. “Este vai ser pura alegria, pura diversão. Vocês dois estão lá! Como poderia ser melhor do que isso? Vai ser o melhor dia de todos, exceto o dia em que vocês dois nasceram”, concluiu.

Donna Kelce
PHOENIX, ARIZONA - FEBRUARY 08: Donna Kelce, mother of NFL player Travis Kelce and Jason Kelce, poses for pictures before the Roger Goodell press conference at Phoenix Convention Center on February 08, 2023 in Phoenix, Arizona. Peter Casey/Getty Images/AFP (Photo by Peter Casey / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) créditos: 2023 Getty Images

Quem apoiará? O ataque

O amor de mãe fala mais alto do que paixões clubísticas. Dividida entre Chiefs e Eagles, questionada sobre por quem irá o seu coração pender, inclina-o. “Pelo ataque", uma tática perfeita para não perturbar o equilíbrio familiar.

“Vou gritar o jogo inteiro, por quem tiver a bola”, explicou. “Quero que seja o Super Bowl com maior pontuação na história”, acrescentou Donna, cuja indumentária, a camisola, divide-se em duas cores, a dos Chiefs e a dos Eagles.

“É como ganhares a lotaria”, atirou no No Morning Joe, onde falou do papel único que ocupa na história do futebol americano. “Transitar da escola à universidade, chegarem a profissionais, e jogarem, de facto, durante tantos anos, chegarem a Super Bowls e jogarem um contra o outro? Quais as hipóteses de tal acontecer? Deveríamos estar a jogar a lotaria".

Um abraço de mãe

Os filhos tomam a palavra. “Um de nós vai acabar o dia como derrotado e outro como vencedor. É surreal. As estrelas alinharam-se para que isto acontecesse e não estou chateado com isso. Sendo realista, nunca pensei que isto pudesse acontecer até à semana passada”, enfatizou Travis no  podcast .

“A mãe vai ganhar e vai perder. Ela é sempre muito otimista em relação a tudo e de certeza que agora vai concentrar-se em estar lá para o irmão que perder”, acrescentou Jason.

Quando ouvir o apito final do Super Bowl LVII, um dos filhos de Donna necessitará de um abraço. Bom, na verdade os dois necessitam desse aconchego maternal, mas por razões diferentes.

Na tal noite de apresentação do Super Bowl, a mãe da América assumiu ao Insider que, por questões de logística, o filho vencedor leva o primeiro amasso.

"Descerei (ao relvado), celebrarei com o meu filho, seja qual deles for que esteja para receber o troféu (só os vencedores permanecem em campo). Depois irei ao hotel da outra equipa e darei um grande abraço (ao outro filho) e dir-lhe-ei que o amo”, confidenciou Donna.

Ambos vencedores do Super Bowl, os irmãos Kelce não querem só desempatar o número de anéis que têm nos dedos. Em causa não está só a disputa de quem leva o troféu. Por uma circunstância que nunca tinha acontecido, os dois vão também entrar em campo tendo em mente a luta pelo direito de quem receberá o primeiro abraço no domingo à noite.

E esta não é a única contribuição dos Kelse para a história do Super Bowl, onde pela primeira vez, há um quarterback negro de cada lado, Patrick Malone (Chiefs) e Jalen Hurts (Eagles). Ainda em família, há reais hipóteses de um outro episódio que envolve uma mãe e um filho preencher um lugar na manchete da competição. Kylie, a mulher de Jason, está grávida do terceiro filho do casal. “Decidiu levar o ginecologista. Chega às 38 semanas no domingo. Se o bebé nascer durante o jogo, pode ser o Super Bowl dos Kelce”, brincou o gigante de 1,91 metros e 134 kg.

Uma nova vida na noite mais longa da América não seria novidade. No ano passado, a mulher de Van Jefferson saiu apressadamente do estádio após a final da 56.ª edição do Super Bowl por ter começado em trabalho de parto.