É uma das noites mais esperadas do ano nos Estados Unidos da América. Hoje, a partir das 23h30, neste longo domingo, a América senta-se para ver a 55ª edição do Super Bowl. Numa audiência estimada em mais de 100 milhões de espetadores, muitos serão responsáveis por devorarem 1,42 mil milhões de asas de frango, de acordo com as previsões do Conselho Nacional do Frango (National Chicken Council).
A aguardada final opõe os vencedores das duas conferências do futebol americano (National Football League): Kansas City Chiefs (AFC), campeão em título da NFL e o Tampa Bay Buccaneers (NFC).
Um duelo com um aliciante extra de colocar pela primeira vez na história os dois quarterbacks vencedores das duas últimas edições. De um lado, Tom Brady (Buccanners), seis títulos em 10 finais, todas ao serviço New England Patriots, enfrenta Patrick Mahomes, que liderou os Chiefs à vitória no ano passado, a segunda do historial da equipa do Missouri (1969 e 2019).
Numa época como não há memória, a presença de Brady apresenta um tom familiar (e um toque de normalidade) a todos os seguidores e adeptos.
O jogo que encerra uma temporada 2020, virada do avesso por causa da pandemia do novo coronavírus, põe ponto final a um ano marcado pela ausência e redução de público nos diversos estádios.
O palco da final é o Raymond James Stadium, na Florida. É a primeira vez na história da competição que uma das equipas disputa a final no seu próprio estádio. No caso concreto, os Tampa Bay Buccaneers.
Conhecido por ter um barco com canhões num dos topos, tem capacidade para 65,890 pessoas. Mas neste domingo, nada é igual aos outros domingos especiais. Terá a assistência mais reduzida de sempre, batendo, a larga distância, a pior “casa” de 61.946 espetadores, na 1ª edição, em 1967.
Para a Super Bowl LV, o estádio só abrirá a porta a 22 mil adeptos, 7.500 dos quais, são profissionais de saúde, devidamente vacinados, e com direito a entrada gratuita.
Os restantes felizardos, que adquiriram os ingressos por sorteio, apresentar-se-ão todos de máscara, munidos de um kit distribuído à entrada e cumprindo as medidas de distanciamento social nas bancadas.
Duelo de GOAT's
Domingo à noite promete oferecer um dos duelos mais explosivos da história da NFL. Quando Tom Brady, e os Tampa Bay Buccaneers, receberem Patrick Mahomes, e os Kansas City Chiefs, será algo mais que uma luta pelo Troféu Lombardi. Um novo legado no futebol americano estará em disputa.
No duelo de passagem de testemunho, Brady, 43 anos, 21 de carreira, melhor quarterback de todos os tempos, procura, no primeiro ano de Buccaneers, o inédito sétimo título e tornar-se o jogador mais velho na sua posição a vencer o anel de campeão. Por sua vez, Mahomes, 25, o melhor quarterback da atualidade, escolhido no draft de 2017, o mais novo jogador da NFL a ganhar o troféu de Melhor Jogador (MVP) na época regular e no Super Bowl, procura começar uma nova dinastia acrescentando um segundo anel numa das mãos.
Este será o quinto confronto entre o atual GOAT, “maior de todos os tempos” e o desafiante, registando-se, até agora, um empate (2-2).
Um dado curioso. Em caso de vitória, Brady terá mais triunfos do que qualquer equipa da NFL, ultrapassando os New England Patriots e os Pittsburg Steelers, ambos com seis Super Bowls.
O jogo poderá ainda coroar o treinador Andy Reid. Vencedor com os Chiefs, no ano passado, o único troféu que conquistou em 22 anos como treinador principal, oito dos quais em Kansas, é um dos mais amados da América. Mas não é um dos treinadores com mais sucesso, fica o registo.
Sarah Thomas, 45 anos, será a primeira juíza num Super Bowl, seis anos depois da sua estreia e de ser a primeira mulher a profissionalizar-se no jogo.
“Comam local”
Usando o humor e mensagens de esperança, com poucas ou quase nenhumas referências aos tempos vividos (450 mil mortos por covid-19, nos EUA) os anunciantes que desfilam na maratona publicitária procuram não ferir suscetibilidades.
Um dado é certo. Ninguém aparece a promover o quer que seja durante os 30 segundos mais caros da televisão com o rosto tapado por uma máscara.
Entre os nomes habituais, há ausências de peso a registar. Pela primeira vez em 37 anos a gigante cervejeira norte-americana Budweiser não apresentará um anúncio. A Coca-Cola, a braços com um despedimento em larga escala nos EUA, em consequência das quebras de vendas, e a Hyundai, ficam igualmente de fora deste carrossel de anúncios pagos a peso de ouro.
A saída de uns, significa tempo de antena para outros. Em especial de áreas que muito beneficiaram com o confinamento: o digital e o comércio eletrónico. O interesse por jardinagem durante a pandemia levou a empresa a Scotts Miracle-Gro a mostrar-se noite dentro. A Uber Eats pede para se “comer local” e a primeira vez da Robinhood Markets, deixa um pedido, no mínimo curioso: “Você não precisa de se tornar um investidor, já nasceu um”, atira para os ecrãs, uma ideia criativa que viu a luz do dia antes da corretora digital se apresentar ao mundo com o cartão-de-visita da negociação das ações da GameStop.
A Bud Light Seltzer Lemonade, sub-marca da Anheuser-Busch InBev, dona da ausente Budweiser, participa, em estreia, no desfile publicitário do Super Bowl com uma sátira ao ano de 2020, comparado a um limão (ácido) o mesmo sabor da bebida gaseificada.
O silêncio de uma das noites mais festivas da América
A 55º edição do Super Bowl será ainda, excecionalmente, mais silenciosa, faltando o glamour que o transformou no maior acontecimento desportivo americano, uma evento social que só encontra par nas festividades do Dia de Ação de Graças e na noite de Natal.
A semana do Super Bowl ficou vazia de conteúdo marginal. Não houve receções majestáticas à chegada das equipas ao aeroporto, nem sessão fotográfica, até porque um dos lados (Buccanneers) não necessitou de levantar voo. Os Chiefs treinaram em casa, aterrando sábado na Florida, regressando, de imediato, a seguir ao jogo.
A tradicional noite de conversa entre jornalistas de todo o mundo e as vedetas de capacete, luvas e leggins, bem como com os treinadores, ficou reduzida a entrevistas por videoconferência.
As contingências da pandemia, não impedem, no entanto, o grito “Go Bucs” em bares e restaurantes locais. As autoridades limitam-se a pedir uso obrigatório de máscara e manutenção das distâncias. E a pedir contenção nos ajuntamentos. Pequenos, é a palavra de ordem.
O cantor canadiano The Weeknd (celebrizado pelos os hits "Starboy" e "Blinding Lights", entre outros) será a estrela ao intervalo, período este ano marcado pela ausência de festa e figurantes.
O hino nacional será executado, ao vivo, por um dueto: Jazmine Sullivan (R&B) e Eric Church (Country), momento antecedido de “America the Beautiful”, a cargo de Warren “WAWA” Snipe, performance em linguagem gestual. Ambas as atuações fazem parte integrante do Super Bowl, e são tão esperadas quanto o jogo em si mesmo.
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