No desporto motorizado existem corridas que, em termos históricos ou sentimentais, valem muito mais do que outras. Na génese deste género, pode dizer-se que o Grande Prémio do Mónaco, de F1, as 24h de Le Mans, corrida de resistência, e as 500 milhas de Indianápolis (Indy500), nos Estados Unidos da América, são das mais famosas.

Em conjunto, formam a denominada 'Tripla Coroa'. Mas, o que é a 'Tripla Coroa'? É um prémio? Não, não há troféu. Mas é sim um feito do desporto motorizado automóvel, frequentemente considerado como a vitória em três das mais prestigiadas corridas de automóveis do mundo durante a carreira de um piloto. Até 2023, apenas um piloto o conseguiu: Graham Hill. Hill venceu o Grande Prémio do Mónaco em 1963, 1964, 1965, 1968 e 1969, as 24h de Le Mans em 1972 e a Indy500 em 1966.

Mais recentemente, e mais mediático, há a tentativa de Fernando Alonso conquistar a 'Tripla Coroa'. O piloto espanhol, atual piloto da Aston Martin, 'retirou-se' em 2018 da F1, mas regressou em 2021. Nesses anos em que esteve fora, Alonso continuou a competir e foi aí que venceu as 24h de Le Mans, em 2018 e 2019, o que depois das vitórias no GP do Mónaco em 2006 e 2007 o colocam a apenas uma vitória de completar a 'Tripla Coroa'. Resta-lhe apenas a Indy500, onde já tentou a vitória em 2017, 2019 e 2020. Em 2017, na sua primeira tentativa, liderou por 27 voltas, mas o motor rebentou a 21 voltas do final, deixando-o na 24.ª posição. Em 2019 falhou a qualificação para a corrida, numa tentativa envolta em muita controvérsia, e em 2020 conseguiu terminar a corrida, na 21.ª posição.

Para além de Alonso, existem mais seis pilotos com duas vitórias, em três desta corridas. São eles Tazio Nuvolari – Mónaco (1932), Le Mans (1933); Maurice Trintignant – Mónaco (1953, 1958), Le Mans (1954); AJ Foyt – Le Mans (1967), Indianapolis (1961, 1964, 1967 e 1977); Bruce McLaren– Mónaco (1962), Le Mans (1966); Jochen Rindt – Mónaco (1970), Le Mans (1965); Juan Pablo Montoya – Mónaco (2003), Indianapolis (2000, 2015).

Grande Prémio do Mónaco (F1): 

1.ª corrida: 1929

Pista: Circuit de Monte-Carlo

A jóia da coroa no Campeonato do Mundo de F1, o Grande Prémio do Mónaco é disputado nas ruas do principado do Mónaco. Um dos maiores desafios para os pilotos, com poucos pontos de ultrapassagens e sem escapatórias. Túneis, lombas, curvas apertadas e com os muros sempre à espreita, vencer aqui é resultado de grande perícia e de controlo de um monolugar de F1.

É a única corrida no calendário onde não se percorre os 300 quilómetros em corridas, com as 78 voltas à volta do principado a contabilizarem 260 quilómetros. Durante muitos anos, o Grande Prémio do Mónaco também foi marcado pela diferença em organização. As sessões de treinos realizavam-se à quinta-feira, pois na sexta-feira é feriado no Mónaco, o Ascension Day. A partir de 2022, a F1, de maneira a uniformizar um pouco mais o seu calendário, colocou os treinos da F1 na sexta-feira, enquanto os treinos das categorias de suporte (F2, F3 e Porsche Supercup) continuam a realizar-se à quinta-feira.

500 milhas de Indianápolis (IndyCar): 

1.ª corrida: 1911

Pista: Indianapolis Motor Speedway, Indiana, Estados Unidos da América

Apelidada como “The Greatest Spectacle in Racing” (em português, "O maior espectáculo das corridas") corre-se desde 1911 na pista de Indianapolis Motor Speedway. De início, esta pista era feita de tijolos, daí o seu apelido de Brickyard (em português, pátio de tijolos). São 500 milhas (cerca de 805 quilómetros) à volta da icónica oval de quatro curvas.

A magnitude desta corrida é tão grande que a sua preparação dura todo o mês de maio e a corrida disputa-se no fim de semana de Memorial Day, um dos feriados mais preponderantes dos Estados Unidos da América. Quanto à preparação, há treinos durante vários dias. Os participantes na corrida estão limitados a 33, por isso, os pilotos têm de se qualificar. Qualificação essa que decorre no fim de semana anterior à corrida.

No dia mesmo da corrida, há muito a acontecer. Para além do hino dos EUA, há também a canção de Ballard MacDonald e James F.Hanley, de 1917, Back Home Again in Indiana, que representa o Estado onde decorre esta corrida.

São cerca de três horas de corrida, dependendo de interrupções, a 370 km/h. No final, a ida ao Victory Lane é coroada com uma tradição que data de 1936. Em vez do champanhe, Louis Meyer pediu uma garrafa de leitelho. A partir daí, a tradição é o vencedor beber de um leite à sua escolha, com as preferências dos pilotos a serem decididas alguns dias antes.

24h de Le Mans (FIA WEC)

1.ª corrida: 1923

Pista: Circuit de la Sarthe, França

É o pináculo das corridas de resistência. As 24h de Le Mans testam os pilotos de uma maneira completamente diferente ao GP do Mónaco e à Indy500. Duram durante 24h, com um carro a levar até três pilotos. Em 2023, celebra-se o centenário da corrida no circuito de 13.626 quilómetros e 38 curvas, constituídas por circuito permanente, mas também pelas ruas da região.

Ao todo são cerca de 180 pilotos a disputar a clássica da resistência, distribuídos em carros de diferentes categorias. A principal, com os carros mais rápidos e mais espetaculares é a dos LMDh e LMH (Hypercars). São dois tipos de protótipos, que em convergência de regras entre o Campeonato de Resistência Americano (IMSA), e o Campeonato do Mundo (FIA World Endurance Championship (WEC)). Para além da classe rainha, ainda existem as classes de protótipos LMP2 e a classe de carros de GTs, a LMGTE. A LMP2 consiste em carros com o mesmo motor (4.2l V8 da Gibson), com chassis apenas da Oreca, Ligier e Dallara. Chegaram a produzir cerca de 600cv, mas hoje em dia estão limitados, perante a classe Hypercar. A LMGTE Am é a única categoria de carros GT no FIA WEC.

Nos primórdios desta corrida de resistência, muitas equipas levam dois ou até apenas um piloto para competir. Mas, esta prática acabou banida devido a preocupações de segurança desde os anos 80.

Tal como a Indy500, também a corrida em Le Mans teve algumas particularidades ao longo da sua história. O arranque à 'Le Mans' era composto pelo seguinte: Carros alinhados de um lado da reta da meta, pilotos do outro. Quando caía a bandeira de começo, os pilotos iam a correr para entrar nos carro e a partir daí começar a corrida. Desde 1970 que, novamente por razões de segurança, essa prática foi banida, com o começo agora a ser uma 'partida lançada': carros lado a lado, com a bandeira de França a ser acenada e a dar início à corrida.

Pode-se dizer que Le Mans junta o que o GP do Mónaco e a Indy500 têm em separado: Le Mans é um teste à perícia dos pilotos em termos de velocidade, F1, em termos de resistência, Indy500. A isto, juntam-se todas as variáveis de correr durante 24h, noite e dia, chuva e diferentes temperaturas.