“Acima de tudo, foi uma vitória pensada, uma tática do nosso diretor [Nuno Ribeiro]”, enalteceu Amaro Antunes no seu “momento especial”, aquele em que, “muito orgulhoso”, vestiu pela primeira vez a amarela na Volta a Portugal.
O plano estava bem estudado: Ricardo Mestre entrava na fuga do dia, o algarvio destacava-se na subida para o alto do Barreiro para ‘engatar’ no seu companheiro, que o ajudaria até à Senhora da Graça, numa jogada que obrigaria as equipas adversárias a perseguir. O 'xeque mate' final ficava, então, reservado para o algarvio, que, conhecedor das referências de Raúl Alarcón, vencedor no topo do Monte Farinha em 2017 e 2018, atacou precisamente onde o espanhol o fez, negando não só a vitória na etapa, mas também a amarela a Frederico Figueiredo.
O ar desolado e as lágrimas do líder da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel denunciavam a frustração de quem trabalhou na frente durante os oito quilómetros da subida, e viu o seu sonho fugir-lhe a 500 metros do alto – e ‘Fred’ até estava à frente de Antunes na geral à partida para a segunda etapa, mas perdeu 22 segundos para o vencedor, que cumpriu a etapa em 04:25.50 horas, e está agora a 13 segundos da camisola amarela.
“O Amaro tinha as indicações dele, como é normal, são táticas de equipa, isso não se discute. A mim convinha-me ganhar o mais tempo possível nesta chegada, mas tenho pena de não ter ganho ou, pelo menos, ter vestido a camisola amarela”, reconheceu Figueiredo, já a pensar na vantagem que precisa de ter para outros no ‘crono’ final.
A edição pode ser especial, mas há coisas que nunca mudam, nomeadamente o filme de qualquer etapa que termine no ponto mais alto do Monte Farinha. As duas contagens de primeira categoria estrategicamente colocadas nos 167 quilómetros da tirada que partiu de Paredes - Serra do Marão (96) e Barreiro (131,7) – eram um ‘incentivo’ à formação de uma fuga e, aos 15 quilómetros, 13 homens saltaram do pelotão.
Ricardo Mestre, Hector Sáez (Caja Rural), Hideto Nakane (Nippo Delko Provence), Daniel McLay (Arkéa-Samsic), César Martingil (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), Nuno Meireles (Aviludo-Louletano), Luís Mendonça (Efapel), Fábio Oliveira (Feirense), Rafael Lourenço (Kelly-Simoldes-UDO), Gonçalo Leaça (LA Alumínios-LA Sport), Joaquim Silva (Miranda-Mortágua), Hugo Nunes e Daniel Silva (Rádio Popular-Boavista) trabalharam em conjunto para alcançarem uma vantagem que estabilizou nos três minutos.
Mas, na subida ao Barreiro, Mestre acelerou o ritmo, ‘destroçando’ o grupo de fugitivos e levando na roda apenas Silva e Nunes, ao mesmo tempo que, lá atrás, Amaro Antunes cumpria a sua parte do plano, mas na companhia de Frederico Figueiredo.
O duo alcançou Mestre e companhia, o vencedor da Volta de 2011 trabalhou na frente do quinteto, fixando a diferença para o grupo de favoritos à entrada da subida em pouco mais de um minuto, e a dureza das rampas do Monte Farinha fez o resto, deixando a dianteira da corrida entregue a Figueiredo e Antunes, que ainda ganharam tempo aos restantes candidatos, num momento em que a perseguição era assumida pela Efapel.
Só João Benta recusou aceitar o conformismo dos restantes, atacando na companhia do britânico Simon Carr (Nippo Delko Provence), para ser terceiro na meta, a 01.13 minutos do vencedor.
O anterior camisola amarela, o espanhol Gustavo Veloso, foi quinto, a 01:45 minutos, encabeçando o grupo onde chegaram Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano), Ricardo Vilela (Burgos-BH) e Joni Brandão (Efapel), e desceu ao terceiro posto da geral, a 01.13 minutos do seu companheiro.
A única falha no plano de Nuno Ribeiro foi mesmo João Rodrigues, com o campeão em título a ceder oito segundos para o grupo de Veloso – é agora oitavo na geral, a 01.29 minutos da amarela - e a reconhecer que “as pernas não andaram”.
Na quarta-feira, os homens da geral tem um breve respiro antes da Torre, nos 171,9 quilómetros da terceira etapa entre Felgueiras e Viseu.
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