Em 1488, Bartolomeu Dias foi o primeiro navegador a dobrar o então Cabo das Tormentas, a oeste da Cidade do Cabo, na África do Sul. Um nome que seria rebatizado de Cabo da Boa Esperança pelo Rei D. João II pelo que então significou para os Descobrimentos portugueses.

529 anos depois, outro velejador português volta a sair de Lisboa rumo àquele ponto mítico da epopeia marítima nacional. Frederico Pinheiro de Melo sairá a bordo do Turn the Tide on the Plastic, embarcação com bandeira portuguesa, apoiada pela Fundação Mirpuri, uma das sete equipas que participam na Volvo Ocean Race (VOR), regata à volta do mundo que está de paragem na capital portuguesa, vinda de Alicante, e a preparar a saída para os mares do Sul. A paragem na Cidade do Cabo, África do Sul, está prevista para o final de novembro.

“Estamos a poucos dias da segunda perna (etapa) da Volvo Ocean Race (VOR) e fazer o percurso dos nossos antepassados fascina-me”, adiantou Frederico Pinheiro de Melo, em conversa com o SAPO24, na Race Village da VOR, na Doca de Pedrouços.

Recordando a epopeia portuguesa do caminho marítimo para a Índia, descendo o oceano Atlântico, Pinheiro de Melo relembrou as dificuldades sentidas pelos navegadores portugueses de então. “Eles navegavam mais ou menos para o desconhecido”, frisa.

Saltando para os dias de hoje, reconhece que a tecnologia ao dispor dos velejadores nesta aventura dá uma importante ajuda. “Sabemos para onde ir, antecipamos a meteorologia, o vento ou o percurso a fazer”.

A estreia a bordo numa viagem de mais de 20 dias e 6300 milhas pelos mares do Sul

Deixa, no entanto, uma ressalva numa viagem que demora mais de 20 dias: “apesar de tudo o que dispomos de informação e tecnologia, é sempre velejar para o desconhecido. O mar que de repente podemos apanhar, o frio, o vento, como será que vamos lidar...tudo para mim será único”, afirma.

Velejador Olímpico, Pinheiro de Melo estreia-se na navegação offshore (longe da costa). “Nunca tive tanto tempo no mar, não sei como vou reagir. Vou dar o melhor para estar motivado e preparado”, assume o atleta do Clube Naval de Cascais.

Se fisicamente a preparação está feita “há muito tempo”, enquanto atleta que sempre competiu a nível olímpico, a nível psicológico adianta que tem “tentado falar com quem já fez a regata, tentar saber o máximo de informação para ir visualizando o que me espera a mim e à equipa”. Recolhendo informação do seu companheiro de equipa, Bernardo Freitas (que vez a etapa Alicante-Lisboa), foi em João Cabeçadas (primeiro velejador português a entrar nesta viagem de circum-navegação, então denominada Whitebrad) que retirou um conselho sábio. “Quando as coisas estiverem a correr muito mal e pensamos que não queremos estar aqui, vamos tentar dar a volta à situação e divertirmo-nos nesse momento”, recorda as palavras escutadas. “É um conselho que vou levar muito a sério. Tentar reverter a situação e não entrar numa espiral”, sublinha. Dicas à parte, assume que “só passando por uma regata destas é que antecipamos como nos preparar...”, sustenta.

A vida a bordo não será um passeio ao longo de 6300 milhas náuticas, antecipa. Com um limite de 6 kg de peso na mochila que transportam diz que a “prioridade é levar a roupa que necessitamos para tantos dias, embora não possa ser muita”. Como objeto mais ou menos secreto leva um aparelho para ouvir música “nos dias mais calmos” e nas alturas em que não está de turno. “Já tenho uma playlist”, sorri. “Nos dias de tempestade, a música fica de lado. Temos que estar sempre alerta mesmo que não seja o nosso turno e ficamos meio a dormir meio acordados”, alerta.

Outro ponto importante numa viagem com esta duração é, obviamente, a alimentação. Questionado se está preparado para a comida liofilizada, dispara que “é melhor do que a que cozinho”.

Por fim, Frederico Pinheiro de Melo expressa um desejo, dando nota que seria engraçado ter “alguém da família à sua espera”, diz que “quero mesmo é chegar à Cidade do Cabo são e salvo”. E depois, “continuar a regata”, finaliza.

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