Ainda no final de 2015, o Governo revelou que o seu 'plano A' para a resolução do Banif (que foi intervencionado em dezembro do ano passado) era a integração deste banco - que acabou vendido ao Santander Totta - na CGD mas, desde que Bruxelas chumbou esta solução, tudo mudou no maior banco português.

O mandato da equipa de gestão liderada por José de Matos tinha expirado em dezembro do ano passado e o executivo de António Costa quis dar 'sangue novo' ao banco público, através da escolha de uma equipa de gestão profissional.

Depois de já ter admitido a necessidade de reforçar o capital da CGD, e enquanto negociava com a Comissão Europeia o novo plano de reestruturação, o Governo preparava mexidas nos órgãos sociais do banco, não só de nomes, mas também do seu modelo.

Antes do verão, soube-se que António Domingues (até então no BPI) foi o escolhido para comandar a nova CGD e parecia apenas faltar saber a data da sua entrada em funções e os moldes e dimensão do aumento de capital do banco estatal.

Mas foi então que o debate político acerca da CGD subiu de tom, com a oposição (PSD e CDS) a impor potestativamente uma comissão parlamentar de inquérito para se debruçar sobre a gestão do banco público desde o ano 2000, cujos trabalhos arrancaram no início de julho.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e José de Matos foram os primeiros a ser ouvidos pelos deputados, em audições marcadas por momentos de tensão entre os diferentes grupos parlamentares.

Começaram as férias parlamentares e as férias de verão da maioria dos portugueses e a CGD continuava a fazer manchetes diárias, até que a 24 de agosto foi anunciado o acordo entre o Governo e Bruxelas sobre os moldes da sua recapitalização, que vai ultrapassar os 5 mil milhões de euros e será feita em condições de mercado compatíveis com a ausência de uma ajuda de Estado.

Assim, sem mais percalços à vista, Domingues e restante equipa entraram no banco em 31 de agosto e poucos poderiam adivinhar que alguns meses depois vários elementos desta administração estivessem a bater com a porta de saída.

É que depois de todo o ruído que se fez ouvir durante meses sobre o banco estatal, com as elevadas remunerações que os novos administradores auferiam após uma mexida na lei nesse mesmo propósito a assumirem o protagonismo na 'rentrée', veio a última polémica: a entrega (ou não) das declarações de rendimentos dos novos gestores da CGD.

E, mais uma vez, perante a surpresa da maioria, António Domingues mantém o braço-de-ferro sobre este tema durante semanas, acabando mesmo por pedir a demissão no final de novembro, sendo acompanhado por outros membros da sua equipa.

O Governo socialista seguiu o velho ditado 'rei morto, rei posto' e, desta vez, não demorou a meter em cima da mesa o nome de Paulo Macedo, antigo ministro da Saúde do executivo de Passos Coelho, para liderar a CGD.

A grande prioridade do futuro líder do banco público, que deve tomar posse em janeiro, é assegurar que o processo de recapitalização está concluído no primeiro trimestre do próximo ano, o prazo definido pelo Governo, ao mesmo tempo que estabiliza a instituição, retirando-a dos holofotes.